Aos
dois anos para o meio século da nossa existência enquanto estado nação, repleta
da imaturidade e incertezas quanto ao futuro. Continuamos a carregar nele,
mesmo com a imensidão da escuridão política, que a esperança nos faz ainda
sonhar, que não fomos nos quem matou o cristo ou o profeta.
Mas
o pior de tudo em relação a Guiné-Bissau, é que ainda nos encontramos sob o
labirinto de boé. Parece anedota, mas é
verdade, a profundidade da nossa incerteza, é maior que nossas utopias. Boé, tornou-se um símbolo mítico na nossa
história nacional. Tudo iria vir do Boé, o slogan da nossa furada histórica. A
própria história da luta armada, é pouco conhecido dentro das salas de aulas,
as pessoas só têm uma noção histórica da luta armada ou da coalescência étnica
para a guinendadi.
O
mais difícil de entende num país como a Guiné-Bissau, é que se fala tanto em
desenvolvimento como se fosse algo concreto. O desenvolvimento para a elite
política guineense, é construir pontes, colocar semáforos, acordos de pesca, de
derrubes das nossas florestas, uso das retóricas vazias em relação aos
poderosos do mundo, acordos políticos sem benefícios reais para o país. Mas
nunca entenderam que o desenvolvimento de qualquer que seja nação,
principalmente dos países que haviam sidos colonizados, passa primordialmente
pela educação de qualidade e para todos em igual proporção.
Em nossas
estórias de infância, o lobo e a lebre sempre são as personagens principais das
narrativas. Sempre andam juntos, enquanto lebre privilegia a busca e o uso do
saber em sua vida e existência o lobo sempre age ao contrária. Um animal
emotivo que não faz o uso da razão como seu maior aliado.
A
Guiné-Bissau e o mundo, parecem essas duas personagens da estória da minha
infância/adolescência. Enquanto muitos países do mundo, vê na educação a mais
poderosa arma para o desenvolvimento, nós o oprimimos, o sufocamos, fazemos
dele, nosso inimigo. Lastimável.
Talvez
o nosso maior problema se encontra no partido que conduziu a nossa
independência. Peter Ekeh, foi muito certeiro ao demostrar que, um dos grandes
problemas que os países africanos enfrentam desde as suas lutas para as
respectivas independências nacionais, aos dias que correm, é a falta de
LEGITIMIDADE política. Que legitimidade é esse? Que segundo ele, os partidos
que guiaram as lutas, é nada mais nada menos que a nova burguesia colonial,
nascidos e criados pelos colonialistas. Essa nova burguesia ou chamados de
assimilados, não preocupava com o destino ou o problema do povo, mas quem devia
ou tem legitimidade para governar os chamados Indígenas. Atesta ele,
A pobreza intelectual do
movimento de independência na África flui a partir deste fato, de que o que
estava envolvido não era a questão de diferenças de ideias sobre princípios
morais, mas sim a questão de qual classe burguesa deveria governar os
africanos. (EKEH, 2016, p. 437)
Continua
ele
O que chamo aqui de ideologias anticoloniais refere -se às razões e estratégias movidas pelo interesse da burguesia africana ocidentalizada que buscava substituir os governantes coloniais. O anti -colonialismo não significou de fato oposição aos ideais e aos princípios percebidos de instituições ocidentais. Ao contrário, boa parte do anticolonialismo estava baseada na aceitação expressa destes ideais e princípios, acompanhada pela insistência de que a conformação a eles indicava um nível de realização que deveria dar aos africanos recém-ocidentalizados o direito à liderança. O anticolonialismo era contra os funcionários coloniais estrangeiros, mas era evidentemente a favor de ideais e princípios estrangeiros. (2016, p.435)
Essa
legitimidade que Ekeh se fala, pauta no seguinte; a nova burguesia, carecia e
não se via na cultura dos Indígenas ou africano, por ter sido educado contra a
cultura africana e segundo ele, a colonização psicológica e mental teve mais
efeito nessa nova burguesia. E por outro lado, se revolta contra os seus
mestres em busca do poder.
Em
concordância com Ekeh, e para o exercício reflexivo da nossa “independência”
quem são os criadores do partido e quem eram os lideres ideólogos das lutas?
Vale destacar que, os que deram a vida nas frentes, eram os chamados Indígenas.
Para não parecer um sermão da independência, fico por aqui.
FIDJU DI DJINTI
Mestrando em
História
Bibliografia
EKEH, Peter. O
resgate das ciências humanas e das humanidades através de perspectivas
africanas / Helen Lauer, Kofi Anyidoho (organizadores). – Brasília : FUNAG,
2016.
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