Em entrevista à DW, o líder do PAIGC critica Sissoco Embaló por ter adiado os festejos oficiais da independência da Guiné-Bissau.
Domingos Simões Pereira acusa ainda o Presidente de o querer aniquilar politicamente.
Em entrevista exclusiva à DW África, Domingos Simões Pereira insurge-se contra a decisão do Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, de adiar para o Dia das Forças Armadas, a 16 de novembro, as comemorações alusivas ao 48º aniversário da proclamação da independência unilateral da Guiné-Bissau, que deveriam ter lugar esta sexta-feira (24.09).
"Não podemos permitir que a nossa memória [histórica] seja apagada e deturpada", afirma o Presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC), numa conversa conduzida em Lisboa, onde afirmou recentemente estar a ser vítima de perseguição política.
DW África: Considera que existe o objetivo de aniquilar Domingos Simões Pereira da cena política guineense, tendo em conta os vários acontecimentos que se têm registado desde a crise que se instalou depois das eleições legislativas e presidenciais?
Domingos Simões Pereira (DSP): O objetivo é silenciar todas as vozes que sejam contrárias, e é nessa senda que o PAIGC se posiciona como o partido que representa essas vozes e essa aspiração legítima do povo guineense. Calha ser eu o presidente do PAIGC e, portanto, o alvo preferencial.
DW África: O principal adversário…
DSP: Aquele que personifica o maior medo que eles têm, que é confrontarem-se com a verdade, a escolha legítima e a aspiração do povo guineense.
DW África: Mas é um receio que tem a ver com a sua popularidade junto dos guineenses, independentemente de haver outras formações políticas?
DSP: Sim. Nós vivemos num país muito pequeno. As coisas veem-se, os impactos sentem-se. Portanto, por mais sequestro que se faça das instituições do Estado, por mais tentativa de amordaçar aquilo que é a opinião pública, há coisas que são impossíveis de se calar. Quando eu me desloco na Guiné-Bissau, a reação popular é bastante evidente, a forma como o povo reage às nossas intervenções, às intervenções do PAIGC, em contraste com aqueles que se dizem representantes oficiais das instituições. E, portanto, isso não pode tranquilizar quem exerce o poder.
DW África: Pensa mover alguma ação contra o Presidente Umaro Sissoco Embaló?
DSP: Não sei. Contra o Presidente, o PAIGC e a sua assembleia têm processos bastante concretos, porque o nosso principal objetivo é, lutando pela liberdade, exigir que o Estado de Direito Democrático possa funcionar. Desde o início, dissemos que esgotámos todos os mecanismos que as leis e a Constituição nos oferecem, e exigimos que essas regras sejam respeitadas. Uma das violações mais flagrantes que ainda vivemos na Guiné-Bissau é ter um Presidente da República que não prestou juramento perante uma Assembleia Nacional Popular legalmente constituída. E, portanto, nós não podemos calar as nossas vozes perante essa situação. São estas e muitas outras.
Em relação a mim, eu dirijo-me às instituições quando o Procurador-Geral da República vai para além daquilo que são as suas competências e atribuições. Vamos analisar, por exemplo, o último episódio, em que uma agente de segurança me diz que estou vedado de viajar, mas é ela própria que também diz que não está na posse de qualquer documento que a faça cumprir essa deliberação, limitando-se a dizer que é uma ordem superior. Confrontado com isso, eu sinto que não é só uma questão de eu fazer valer os meus direitos. Eu represento uma população e eu preciso, realmente, de combater esses feitos.
DW África: Também pela via judicial…
DSP: Sempre pela via judicial, pela via legal, para mostrar que o cidadão guineense tem que lutar pelos seus direitos e pelas suas liberdades.
DW África: No dia 19 deste mês, assinalou em Portugal, com a diáspora, o aniversário da criação do PAIGC. Como presidente do partido admite enfrentar esta crise política com recurso ao diálogo e ao entendimento, em nome da paz e da estabilidade, como pediu a representante das Nações Unidas em Bissau?
DSP: É o que os dirigentes, e eu enquanto presidente do PAIGC, temos feito sempre. E não abdicamos de o fazer. Provavelmente, a única diferença que existe é que há quem pense que o diálogo pode ser um substituto à aplicação das leis, à observância das regras constitucionais. Nós pensamos que não. Nós pensamos que todo o diálogo e esforço de criação de consensos deve ir no sentido de sensibilizar as partes para o respeito da lei, pelo respeito da Constituição e pelo respeito do Estado de Direito Democrático.
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