Este ano de 2025, em que estamos a “celebrar” o Jubileu de Ouro (cinquenta anos) da criação da CEDEAO, também, acabamos de “celebar ?”, no dia 29 de Janeiro, a saída “litigiosa ?” do Mali, Burkina Faso e Níger (Associação dos Estados do Sahel – AES) da nossa organização Económica regional a CEDEAO, (Comunidade Económica dos Estados da Africa Ocidental).
Os lideres soberanistas e pais fundadores da CEDEAO, criaram uma organização económica para impulsionar o nosso desenvolvimento, remover as barreiras entre nós (leia-se fronteiras coloniais), promover a nossa coesão e, assim, garantir a nossa soberania.
A Nigéria tinha saído duma Guerra Civil (Guerra do Biafra 1967-1970).
Uma guerra civil que representa uma das maiores tragédias humanitárias da história recente da África, mais de um milhão de mortos). Uma guerra seccionista, guerra por procuração, liderada pela França neocolonial e apoiada por Portugal de Salazar, através de facilidades logísticas na então Guiné “dita” Portuguesa e S. Tomé e Príncipe.
Ainda hoje possuo um exemplar da notas de Five Shilling a moeda da tal Republica do Biafra, mandadas fazer pelo Le General De Gaulle para consumar a divisão da Nigéria, estas notas foram recolhidas no aeroporto de Bissalanca-Bissau apos um acidente do avião que transportava o carregamento do “dinheiro” para o Biafra.
Se hoje a Guerra da Ucrânia acelera o retorno a um mundo multipolar, erguido a volta de diferentes civilizações, a guerra do Biafra gerou a tomada de consciência dos lideres e dos povos dos estados da Africa Ocidental sobre:
i) a necessidade de acelerar o processo de criação de organizações regionais que
permitissem manter e melhorar a coesão dos novos estados e,
ii) que somente unidos poderíamos melhor fazer face aos desafios de segurança e de desenvolvimento.
Ontem era o Biafra, hoje é GOMA-Norte Kivu na R.D. Congo, mas o lema dos colonialistas, que teimam em não sair de África, continua o mesmo “dividir os africanos para melhor os espoliar e escravizar”.
Os lideres integracionista e pró-federação que se reuniram em Lagos na Nigéria em Maio de 1975 para a assinatura do Tratado de Lagos, Tratado que cria a CEDEAO, certamente ficariam felizes com o renascimento da CEDEAO.
Mas quão contente ficaria, com o “regresso” da AES para o seio da CEDEAO, o único presidente Fundador em vida, o Presidente General YAKUBU Gowon, Presidente da Nigéria entre 1966 e 1975, (governou durante a mortífera Guerra Civil da Nigéria. Assumiu o poder após golpe de estado com apenas 31 anos de idade), que comprometeu os recursos e vidas do seu então pobre país para manter a coesão nacional e a emancipação de outras nações africanas?, só pode ser debatido.
O ano 2025 é uma oportunidade para refletirmos sobre os 50 anos da CEDEAO e buscar recomendações para a tornar mais funcional, mais atractiva e mais interessante para a vida dos povos da África Ocidental e assim, concretizar de forma soberana os fins para a qual foi criada.
Nos anos 70s e 80s a Guiné Bissau, então liderada pelo Presidente Luis Cabral (um dos subescritores do Tratado de Lagos), tinha “cooperantes” de todas as cores, de todos os continentes e de todos os credos políticos. Cidadãos do mundo que quiseram juntar-se aos habitantes do país de Amílcar Cabral. Na Guiné Bissau de então, escrevia-se a história da África soberanista e revolucionária. Foi um bom exemplo de transferência de conhecimento entre os povos.
O que deve ser feito para que a nossa comunidade seja a CEDEAO dos povos da África Ocidental tornando-a atrativa de modo que os povos da AES se sintam com vontade de arrepiar caminho e voltar ao concerto dos seus irmãos?
Se algumas pessoas na AES começarem a descarrilar aqueles adoráveis países para trás para alcançar o nível de assassinatos de manifestantes perpetuados no reinado de Maky Sall no Senegal, ou como na Guiné-Conacri com o Capitão Moussa Dadis Câmara, a criminalizar a manutenção de diferentes visões políticas, a deixar progredir a insegurança dos seus povos, então imploraríamos a CEDEAO para se tornar mais másculo e insistiríamos que os ESTADOS membros começassem a contratar ministros expatriados para administrar certos portfólios, assim:
Para Justiça e Direitos Humanos, ministros expatriados dos estados escandinavos seriam preferíveis. Mas, é claro, os beneficiários da injustiça e da ilegalidade argumentariam que os nossos estados são soberanos e independentes; então, para o diabo com a proteção de vidas humanas.
Para a promoção do Comércio e Turismo, expatriados dos Emirados Árabes Unidos se encaixariam no perfil. Mas, é claro, beneficiários da caça furtiva, do contrabando e da evasão fiscal argumentariam que os nossos estados são soberanos e independentes; então, para o diabo com a expansão do comércio e do turismo.
Para a indústria, os ministros indianos expatriados fariam bem em impulsionar a substituição de importações e, ao mesmo tempo, criar milhões de empregos na região. Mas é claro que os beneficiários da exportação de matérias-primas e da importação de bens de consumo se oporiam e argumentariam que os nossos estados são soberanos e independentes; então, para o diabo com os desempregados, a saúde humana e a proteção ambiental.
Para Finanças e Planeamento Econômico, ministros expatriados de Singapura seriam apropriados, mas é claro que os beneficiários da grande corrupção e incompetência argumentariam apaixonadamente que nossos estados são independentes; então, deixem que os impostos sejam roubados para que as péssimas prestações de serviços fiquem ainda pior enquanto as dívidas debilitantes aumentam.
Para as infraestruturas de transporte, ministros expatriados da Holanda seriam adequados porque sistemas integrados de transporte aéreos, ferroviários, rodoviários e marítimos eram necessários ontem, para que o transporte deixasse de ser um obstáculo e se tornasse um facilitador do desenvolvimento. Mas é claro que os beneficiários dos modos de transporte dominantes e ineficientes argumentarão que somos estados independentes e soberanos; então, deixemos que os sistemas de transporte primitivos e os espaços aéreos fragmentados permaneçam e mantenham o custo de vida e de fazer negócios alto.
No setor de Energia, os ministros japoneses expatriados fariam o trabalho de orientar rapidamente nossas economias pela transição energética e transferência de tecnologia, como os chineses fizeram no Uganda e Burkina, para criar capacidade local para fabricar veículos elétricos.Mas, para reduzir drasticamente a dependência de combustíveis fósseis, alguns países deveriam considerar a contratação de ministros etíopes expatriados, que saberão melhor como dizer basta, chega e trocar motores de combustão interna por elétricos.
Ministros expatriados dos EUA também podem ser considerados para ajudar na adaptação de nossos setores de aviação ao biocombustível sustentável, além de impulsionar o processamento de minerais de terras raras em baterias de mobilidade elétrica. Mas os que lucram com os combustíveis fósseis tóxicos diriam que somos independentes e soberanos; então, deixemos que as contas de importação de combustível continuem altas e que a saúde das pessoas seja prejudicada.
O importantíssimo setor da Educação deve, sem dúvida, ser confiado a ministros expatriados da Finlândia para o desenvolvimento integral de nossas crianças. Mas é claro que os beneficiários das escolas privadas extorsivas e das instituições públicas saqueadas de forma gritante argumentariam que estes são estados independentes e soberanos; então, deixem que as nossas crianças continuem ficando mentalmente atrofiadas e impossibilitadas de trabalhar.
E na Saúde, é claro que os ministros expatriados devem ser da Suécia, para garantir que todos tenham acesso a serviços de saúde adequados. Como esperado, os beneficiários de fundos públicos para garantir tratamento no exterior e aqueles que se beneficiam de suprimentos médicos roubados argumentariam que os nossos são estados soberanos e independentes; para que as mortes gratuitas de crianças e mães continuem.
Para o ministério de Habitação, contrataríamos ministros chineses expatriados para que possamos encerrar a era de seres humanos vivendo em chiqueiros. No entanto, aqueles que se beneficiam de um setor de moradias desorganizado e atrofiado argumentariam que somos estados soberanos e independentes para que a maioria possa continuar vivendo de forma sub-humana.
Acordem! É tempo de mudança
Bissau, 02 Fevereiro 2025
Por: Jorge Mandinga
Conosaba/odemocratagb.
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