quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Colectivo guineense baseado em França quer que se retire a Legião de Honra ao Presidente Embaló

 

Manifestação do "Colectivo da Sociedade Civil da Guiné-Bissau" perto da Assembleia Nacional francesa, em Paris, na tarde de 26 de Fevereiro de 2025. © Liliana Henriques / RFI

Membros do "Colectivo da Sociedade Civil da Guiné-Bissau" radicados em França concentraram-se esta tarde nas imediações da Assembleia Nacional, em Paris, antes de transmitir aos parlamentares uma carta também enviada ontem ao Presidente Emmanuel Macron em que reclamam a retirada ao chefe de Estado Guineense da Legião de Honra. O Presidente francês atribuiu aquela que é a mais alta condecoração do país ao seu homólogo guineense, aquando da sua visita oficial no passado mês de Dezembro, apenas 24 horas depois de terem sido agredidos em Paris membros da diáspora guineense durante um encontro com Umaro Sissoco Embaló.

Por volta das 15 horas locais, algumas dezenas de manifestantes concentraram-se perto da Assembleia Nacional, no centro da capital francesa para dar a conhecer a carta exigindo a retirada da Legião de Honra ao Presidente guineense e também marcar o seu repúdio perante a crise política vigente no seu país.

Presente na acção de protesto tarde, Francisco Sousa Graça, presidente do PAIGC em França, explicou à RFI o motivo da iniciativa desta tarde."O objectivo é aproximar-nos dos deputados, tentar passar a mensagem, porque temos uma carta para ficarem a conhecer melhor a situação que se vive na Guiné-Bissau, sobretudo nessa altura do fim do mandato do Presidente Embaló, que durou já há cinco anos. Não estamos de acordo com a atribuição da Legião de Honra, que é a mais alta distinção aqui em França ao Presidente Sissoco Embaló, porque nós achamos que o que se vive na Guiné, com a ditadura que ele impõe, com o autoritarismo e os todos os actos que vimos, dos espancamentos, dos raptos, das prisões, mesmo assassinatos, etc. são valores que não condizem nada com esses valores que defende a Legião de Honra ou que o povo francês mesmo defende como um país de liberdade, um país de democracia e país de direitos dos homens. É todo o contrário", considera o representante do PAIGC em França.

Enviada nesta terça-feira ao chefe de Estado francês, a carta foi lida em público nesta quarta-feira no âmbito da concentração da sociedade civil, antes de ser transmitida para a Assembleia Nacional. "A atribuição da Legião de Honra a Umaro Sissoco Embaló, actual Presidente da República da Guiné-Bissau, constitui uma grave violação dos princípios de justiça, integridade e respeito pelos direitos humanos que esta elevada distinção deveria consubstanciar. Nós, membros do Colectivo da Sociedade Civil Bissau-Guineense, exigimos a sua retirada imediata", refere a carta.

"Desde que assumiu o poder pela força, em fevereiro de 2020, com a cumplicidade ativa da CEDEAO, Umaro Sissoco Embaló instaurou um regime autoritário marcado pela repressão brutal da oposição, violações sistemáticas dos direitos fundamentais e ataques directos às instituições democráticas do nosso país", pode-se ainda ler na missiva cujos autores consideram que "condecorar um indivíduo responsável, especialmente na sequência de tais actos, apesar de ele desrespeitar os valores dos direitos humanos em solo francês, é uma afronta insuportável às vítimas da sua tirania e um insulto à memória daqueles que lutaram pela liberdade. Um flagrante desrespeito pelos princípios democráticos".

Ainda na óptica do colectivo "a República francesa, um país de direitos humanos, não pode tolerar tamanha afronta aos valores que defende no mundo através do seu silêncio e inação. Manter esta distinção para Umaro Sissoco Embaló seria legitimar o seu regime de terror e desacreditar o compromisso da França com os direitos humanos".

Refira-se que a entrega desta carta aos parlamentares franceses, a par do lançamento pelo mesmo colectivo de uma petição online reclamando a retirada imediata da legião de Honra ao Presidente guineense, acontece num contexto de crescente tensão política na Guiné-Bissau.

A coligação vencedora das últimas legislativas PAI- Terra Ranka e membros da sociedade civil dizem que o mandato do Presidente Sissoco termina nesta quinta-feira 27 de Fevereiro e que, por conseguinte, eleições devem ser organizadas no prazo de 90 dias.

Argumentos que não são ouvidos pelo campo presidencial, já que no passado domingo, o chefe de Estado guineense anunciou a data de 30 de Novembro para a realização de eleições gerais no país. Este anúncio presidencial aconteceu no próprio dia em que chegou a Bissau uma delegação de alto nível da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) cujo objectivo inicial era de mediar a crise e ajudar os actores políticos do país a chegar a um consenso sobre os prazos dos próximos pleitos eleitorais.

Nestes últimos dias, esta delegação ouviu uma parte dos sectores políticos e sociais do país, em ambiente de controvérsia. Criticada por alegadamente tomar partido, a delegação oeste-africana foi também acusada pelo próprio Presidente deposto da Assembleia Nacional Popular, Domingos Simões Pereira, de legitimar a "usurpação" ao reunir-se com os que qualifica de "assaltantes do poder".

Por: Liliana Henriques
Conosaba/rfi.fr/pt

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