Cerca de dez mil estojos escolares seguem quarta-feira de barco para a Guiné-Bissau para serem entregues aos alunos de Catió apoiados pela Organização Não Governamental (ONG) Rota dos Povos, disse hoje à Lusa David Freitas, voluntário daquela organização.
"Aideia surgiu como forma de aproveitar oportunidades, neste caso trabalhando a área da sustentabilidade ambiental, desafiando os alunos das escolas portuguesas a fazer à mão 10 mil estojos para oferecer aos alunos de Catió", explicou.
"Depressa" o projeto recebeu mais "boas vontades", aproveitando-se, inclusive, "quem estava em casa por causa da covid-19", revelou a também voluntária Carolina Lopes, num armazém a viver horas e grande azáfama para carregar o contentor em cima do camião, lá fora, no parque de estacionamento.
"Percebemos que havia pessoas na comunidade dispostas a ajudar e houve quem fizesse milhares", continuou, indicando, ao seu lado, uma delas, Teresa Gonçalves.
À Lusa, a sénior explicou que quando estava em quarentena foi "desafiada por uma amiga e como estava em casa, sem ter que fazer" decidiu ajudar, fazendo "50 de cada vez". "Foi desde março de 2021 e se houver mais cá estamos para ajudar", acrescentou.
Segundo David Freitas, do "kit do estojo feito com materiais sustentáveis faz parte uma caneta, um lápis, uma borracha e um caderno".
"Este ano queremos entregar diretamente às crianças, oferecer-lhes algo que é para ficar na sua posse e não para ser partilhado pela escola", completou Carolina antes de mencionar que o projeto conseguiu "patrocínio para fechos, botões e etiquetas", um detalhe importante para os promotores que quiseram, assim, "potenciar o sentimento de pertença aos alunos que os vão receber nele escrevendo o seu nome".
Muitos deles feitos de "tecido reaproveitado seja de particulares ou de empresas, a maior parte dos estojos chegou das 30 escolas de Viana do Castelo, Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos e cujos alunos ajudaram na conceção", referiu.
Susana Antunes é uma das responsáveis da ONG que há 20 anos começou por ser "uma associação, também, para passeios de mota" e que, na última década, fruto de se ter dedicado "a fins humanitários", acabou por centrar a sua "atividade na ajuda exclusiva à população de Catió, no sul da Guiné-Bissau", descreveu o local para onde se destina a carga.
"É o sítio onde o mundo acaba, uma das zonas mais desfavorecidas da Guiné-Bissau, um dos países mais pobres do mundo, onde falta tudo", disse.
Susana Antunes elencou sobre a atividade desenvolvida em Catió na última década, a "capacitação de professores locais e o equipar de escolas, que na maioria são comunitárias e construídas pelos pais das crianças", potenciando ainda a capacidade para "converter material substituído nas escolas portuguesas em ajuda para quem mais precisa".
"Tudo somado, foram 210 salas de aula em 49 escolas que conseguimos equipar", disse enquanto apontava para um canto do espaço que detêm em Santa Cruz do Bispo onde se acumulam mais cadeiras e outro material.
Pelo meio, acrescentou a responsável, foram também feitas cinco bibliotecas, apoiaram o hospital e criaram um orfanato.
Voltando à carga prestes a seguir viagem a partir do porto de Matosinhos, a responsável disse ser "o 27.º contentor de 40 pés enviado para a Guiné-Bissau na última década", num investimento de tempo e de recursos, agravada pelo peso da covid-19 no comércio naval e "que fez o preço dos contentores subir quatro ou cinco vezes".
"Foi muito difícil conseguir este contentor, porque não foi possível obter o desconto por sermos organização humanitária e vai ficar muito caro, pois ao transporte acrescenta-se o desalfandegar e levar até ao destino", explicou Susana Antunes, também ela com viagem marcada para aquele país, para "supervisionar e acompanhar a entrega dos estojos aos 10 mil alunos" que apoiam em Catió.
Conosaba/Lusa
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