domingo, 26 de setembro de 2021

TODO PAÍS TEM ALGO DE PODRE - Idrissa Da silva

 

Traçar o perfil biográfico da Guiné-Bissau, da sua suposta independência aos seus quarenta oito anos da existência como estado nação delimitado e soberano, talvez seja das coisas mais difíceis e apaixonante para um exercício intelectual. 

Talvez por eu ser um historiador, e o passado de Guiné-Bissau é amorfo e ondular e não há um período longo e sólido no sentido da estabilidade política, econômic9a, educacional e alimentar. Por isso, não é minha intenção traçar esse perfil, mas um exercício reflexivo dado ao nosso dia magno.

Aos dois anos para o meio século da nossa existência enquanto estado nação, repleta da imaturidade e incertezas quanto ao futuro. Continuamos a carregar nele, mesmo com a imensidão da escuridão política, que a esperança nos faz ainda sonhar, que não fomos nos quem matou o cristo ou o profeta.

Mas o pior de tudo em relação a Guiné-Bissau, é que ainda nos encontramos sob o labirinto de boé.  Parece anedota, mas é verdade, a profundidade da nossa incerteza, é maior que nossas utopias.  Boé, tornou-se um símbolo mítico na nossa história nacional. Tudo iria vir do Boé, o slogan da nossa furada histórica. A própria história da luta armada, é pouco conhecido dentro das salas de aulas, as pessoas só têm uma noção histórica da luta armada ou da coalescência étnica para a guinendadi.

O mais difícil de entende num país como a Guiné-Bissau, é que se fala tanto em desenvolvimento como se fosse algo concreto. O desenvolvimento para a elite política guineense, é construir pontes, colocar semáforos, acordos de pesca, de derrubes das nossas florestas, uso das retóricas vazias em relação aos poderosos do mundo, acordos políticos sem benefícios reais para o país. Mas nunca entenderam que o desenvolvimento de qualquer que seja nação, principalmente dos países que haviam sidos colonizados, passa primordialmente pela educação de qualidade e para todos em igual proporção.

Em nossas estórias de infância, o lobo e a lebre sempre são as personagens principais das narrativas. Sempre andam juntos, enquanto lebre privilegia a busca e o uso do saber em sua vida e existência o lobo sempre age ao contrária. Um animal emotivo que não faz o uso da razão como seu maior aliado.

A Guiné-Bissau e o mundo, parecem essas duas personagens da estória da minha infância/adolescência. Enquanto muitos países do mundo, vê na educação a mais poderosa arma para o desenvolvimento, nós o oprimimos, o sufocamos, fazemos dele, nosso inimigo. Lastimável.

Talvez o nosso maior problema se encontra no partido que conduziu a nossa independência. Peter Ekeh, foi muito certeiro ao demostrar que, um dos grandes problemas que os países africanos enfrentam desde as suas lutas para as respectivas independências nacionais, aos dias que correm, é a falta de LEGITIMIDADE política. Que legitimidade é esse? Que segundo ele, os partidos que guiaram as lutas, é nada mais nada menos que a nova burguesia colonial, nascidos e criados pelos colonialistas. Essa nova burguesia ou chamados de assimilados, não preocupava com o destino ou o problema do povo, mas quem devia ou tem legitimidade para governar os chamados Indígenas. Atesta ele,

A pobreza intelectual do movimento de independência na África flui a partir deste fato, de que o que estava envolvido não era a questão de diferenças de ideias sobre princípios morais, mas sim a questão de qual classe burguesa deveria governar os africanos. (EKEH, 2016, p. 437)

Continua ele

O que chamo aqui de ideologias anticoloniais refere -se às razões e estratégias movidas pelo interesse da burguesia africana ocidentalizada que buscava substituir os governantes coloniais. O anti -colonialismo não significou de fato oposição aos ideais e aos princípios percebidos de instituições ocidentais. Ao contrário, boa parte do anticolonialismo estava baseada na aceitação expressa destes ideais e princípios, acompanhada pela insistência de que a conformação a eles indicava um nível de realização que deveria dar aos africanos recém-ocidentalizados o direito à liderança. O anticolonialismo era contra os funcionários coloniais estrangeiros, mas era evidentemente a favor de ideais e princípios estrangeiros. (2016, p.435)

                Essa legitimidade que Ekeh se fala, pauta no seguinte; a nova burguesia, carecia e não se via na cultura dos Indígenas ou africano, por ter sido educado contra a cultura africana e segundo ele, a colonização psicológica e mental teve mais efeito nessa nova burguesia. E por outro lado, se revolta contra os seus mestres em busca do poder.

Em concordância com Ekeh, e para o exercício reflexivo da nossa “independência” quem são os criadores do partido e quem eram os lideres ideólogos das lutas? Vale destacar que, os que deram a vida nas frentes, eram os chamados Indígenas.

Para não parecer um sermão da independência, fico por aqui.

FIDJU DI DJINTI

Mestrando em História

Bibliografia

EKEH, Peter. O resgate das ciências humanas e das humanidades através de perspectivas africanas / Helen Lauer, Kofi Anyidoho (organizadores). – Brasília : FUNAG, 2016.

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