Kecoi Queta
Temos sido um dos países de Africa Ocidental mais avançados
em termos de legislação desportiva e da consagração constitucional do direito
ao desporto. A constituição da república consagrava a lei de bases do sistema desportivo
regulamenta que pertenciam a administração central as responsabilidades no
âmbito de definição, coordenação e dinamização de uma política nacional de
desenvolvimento desportivo.
Quanto a Administração local pela sua estreita ligação a
população e uma vez atribuídos os meios e recursos necessários, apresentava-se
em ótimas condições para a concretizar na sua área geográfica o direito ao
desporto como meio cultural e formativo de imprescindível importância em
colaboração com os representantes locais da administração central, de
Associativismo e da Escola.
Tudo parecia sugerir portanto que estavam criadas as
condições mínimas necessárias para que no desporto guineense se verificassem
sinais evidentes de um desenvolvimento desportivo consequente!
Por que razão, no entanto, isso não deu continuidade? E como
amargura que constatamos o nosso relativo atraso aos restantes países da Africa
Ocidental.
E porque?
Em minha opinião, a partir de 1980 encontramos uma grande
crise educativa que assume aspetos dramáticos em ralação a educação física das nossas
crianças e a cultura de todos os cidadãos. A verdade é esta, não só não temos
grandes campões como também o numero daqueles que se dedicam a prática desportiva
sob qualquer uma das formas é o mais baixo, quer em termos relativos quer
absolutos, de toda a Africa Ocidental.
Sucessivos governos,
tais como em qualquer outro dos sectores da prática social manifestaram aqui,
plenamente, a sua incapacidade em responder as necessidades mais profundas e
valida das populações.
E assim, que, ainda hoje muitos daqueles que se encontram a
frente do nosso desporto ou nele têm interferência, continuam a pensar que
basta agitar os braços e as pernas, dar umas corridinhas durante alguns minutos
por dia, segundo uma ordem mais ou menos determinada, para se ter descoberto o
segredo do aperfeiçoamento da «Maquina Humana,,. Para eles, responsáveis,
existe exclusivamente a preocupação com «Fabrico» de campeões e nada justifica
que se preocupem com a ciência da educação física.
Ainda hoje se
continua a pensar que basta criar uma escola de futebol ou uma boa rede de
«olheiros» por todo o pais para detetarem Os «putos» que são mais hábeis no
manejo da bola.
E, é assim que se continua a espera que se voltem a repetir
esses autênticos «milagres» desportivos que são: Ciro, Nhabola, Arnanldo Silva, Manhiça,
Nhartanga, Rufino, Abrão, Tito, Sila, Nicolau, Reinaldo, Bernardo Da Velha,
Nené Da Velha, Queta, Leandro, Sulai, Jaime Graça, Bambo, Pinté, Manafa,
Tumbulo, Marabu, Rui Cassimiro, Mané, Tato, José Vás Fernando, Manuel carvalho
de Alvarenga, Pacheco, Didi, Sada, Ansu Injai, Seminário, Fode, Bajojo, Flora,
Lela, DR. Maurício, Rafael (Doutor), Adão Bilada etc. Os campões nascem, não se
fazem, eis a ciência do desenvolvimento do nosso desporto. O que é preciso é
criar condições para que se detetem as crianças que, no futuro, virão ganhar as
muitas medalhas a que, como país, temos direitos ao concerto das Nações. A
propósito, e de forma subtil os políticos e outros dirigentes recolherão os
seus benefícios.
Os campeões resultam da dialética estabelecida entre as potencialidades
existentes no individuo aliás em si Próprio, em constante evolução histórica e
as condições que o meio social fornece para satisfazer as suas necessidades e
também é o resultado de um esforço global que nada tem que a ver com os
«milagres» que muitos desejam ver substituir ao esforço de um povo para
construir, com a força da mente e dos braços, o seu próprio futuro.
A miséria do nosso
desporto deriva de um dos pontos mais cruciais que diz respeito a grave questão
das relações entre a prática e a teoria. Esta é sempre olhada com grande
desconfiança e todos aqueles que defendem que não é possível promover o
desenvolvimento da educação física e do desporto nacional sem uma teoria que
envolva numa larga visão científica, todos os aspetos de que se deve revestir,
são consideradas como visionário impotentes e incapazes.
A essência da educação e a transição de geração para geração
de valores formativas e socialmente corretas que, uma vez assinaladas e
tornados nossos, nos permitem interpretar o mundo que nos rodeia e nele
intervir de modo responsável e participativo.
A crise do desporto
na guine é, pois vista com preocupação por todos quantos almejam para o
desporto guineense níveis de qualidade e de excelência. Precisamos do desporto
altura do passado, mais revigorado e projectado para o futuro.
Desporto do futuro
-Temos que sair, forçosamente, do marasmo em que nos encontramos, o que não se me afigura difícil uma vez que existe no mundo vários experiências que têm dado bons resultados, bastando, portanto, adoptar aquele que mais se ajuste as nossas possibilidades materiais e maneira de saber aplica-los no melhor sentido.
-Regulamentar e organizar a formação de agentes desportivos (treinadores e dirigentes) como um instrumento essencial para melhoria da qualidade da pratica desportiva e promover a especialização dos mesmos, encontrando um trajecto de formação que corresponde melhor as necessidades de sua intervenção e aos aspectos particulares de preparação desportiva.
-Levar a democratização do desporto a todos os recantos do país construindo, em todas as cidades e principais vilas, parques municipais polivalente onde a nossa juventude possa dar largos as suas predilecções, escolhendo depois, os mais dotados, para este ou aquele desporto.
- Proporcionar melhores condições as escolas para que consigam ultrapassar as dificuldades com que se debatem. (A nível nacional cerca de 90% das escolas do ensino preparatório e secundária não tem aulas de Educação Física ou em condições precárias. Algumas não possuem quaisquer instalações, já para não falar da dolorosa realidade vivida nas escolas de ensino primário.)
- Chamar atenção dos clubes futebolísticos para desenvolver outras actividades físicas, de modo que cada sócio seja mais um atleta do que um mero espectador. Este estado de coisas tem de ser combatidos através de profundas modificações estruturais no jornalismo, para que jornais, rádios, televisão, sobretudo os desportivos que falam mais amplamente do desporto, propriamente dita e, principalmente, dos desportos básicos: ginástica aplicada, atletismo, basquetebol, voleibol, ciclismo, andebol etc. Apouco e pouco, possa transformar o espírito futebolístico dos guineenses em espírito autenticamente desportivo.
-Analisar o modo como a prática desportiva juvenil se encontra implantada e é organizada na federação desportiva e equacionar a necessidade da integração do desporto juvenil num projecto de desenvolvimento mais ampla, capaz de contribuir numa perspectiva de média e longo prazo para se alcançar um novo patamar de desenvolvimento.
-Quanto mais baixas são as idades a que a prática desportiva se destina, mas cuidada deverá ser a intervenção das federações, no sentido de rodear essa actividade das preocupações formativa e de conteúdos dessas idades. Desde que estejam garantidos os procedimentos adequados a tais idades, ao nível dos objectivos e da metodologia seguidas, tais como o respeito pela preparação multilateral, o valor atribuído a preparação física geral (lançando as bases para que na idade adulta, a condição física do praticante possa atingir o patamar mais elevado), o reconhecimento da importância do ensino da técnica, a formação de hábitos de treino, de superação, de esforço e o aprender a lidar com os sucessos e insucessos. Sendo a formação de homens sãos um dos pontos de interesse por parte do país, facilmente surgirá bons jogadores nacionais.
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