O Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, foi hoje recebido em Coimbra por estudantes cabo-verdianos que apelaram ao seu veto no novo estatuto dos responsáveis políticos, que prevê um aumento salarial dos mesmos.
"Apelamos ao veto", "nosso presidente, nossa esperança", "nosso voto, seu veto", podia-se ler nas folhas que algumas dezenas de estudantes empunhavam quando Jorge Carlos Fonseca chegava à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde decorreu um encontro com os cabo-verdianos que estudam em Coimbra.
Para Gisseila Garcia, estudante na Faculdade de Medicina, a aprovação a 25 de março, no parlamento cabo-verdiano, do novo estatuto dos responsáveis políticos "é uma vergonha", recordando que, ao mesmo tempo que é proposto um aumento salarial dos titulares de cargos políticos, o Governo "pede ao povo para apertar os cintos", quando este já "está quase esmagado", de tantos apertos.
"O Presidente da República é a única esperança", disse à agência Lusa a estudante de 24 anos, sublinhando que Jorge Carlos Fonseca tem de "estar ao lado do povo".
Também João Brito, doutorando de Economia, referiu que o estatuto "é uma tremenda injustiça".
O fosso entre políticos e a restante sociedade "já era enorme. Esta era uma classe que já estava favorecida e agora ainda vai ficar mais", frisou, temendo que este aumento salarial implique um aumento de impostos e cortes nos serviços públicos.
"Isto é inconcebível", protestou, constatando que "toda a sociedade cabo-verdiana está contra esta medida, exceto os 400 políticos que vão beneficiar" com os novos estatutos.
Na chegada do Presidente de Cabo-Verde, João Brito aproveitou para se dirigir a Jorge Carlos Fonseca, apelando ao veto: "o povo está triste com o que aconteceu".
O Presidente respondeu, dizendo que terá de analisar o novo estatuto, sublinhando, porém, que não é surdo nem cego.
Segundo o novo estatuto, que inclui também uma nova grelha salarial dos titulares dos cargos políticos, os ordenados são indexados ao do chefe de Estado, que passará a auferir, a partir da próxima legislatura (as legislativas decorrerão no primeiro trimestre de 2016), 280 mil escudos (2.540 euros), mais do que os atuais 170 mil escudos (1.540 euros), um aumento de 64%.
No encontro formal, que decorreu no Teatro Paulo Quintela, Jorge Carlos Fonseca voltou a abordar a questão, dizendo que tem três possibilidades - promulgar, vetar ou pedir a sua fiscalização constitucional -, sem referir qual a decisão que vai tomar.
Na parte final do encontro, os estudantes puderam exprimir as suas opiniões e apresentar problemas com que se deparam, aproveitando esse momento para apelar novamente ao veto do Presidente da República.
Durante o encontro, foram ainda expostos problemas relativos às bolsas de estudo que os alunos cabo-verdianos têm, nomeadamente os atrasos que se verificam no início do ano letivo e a irregularidade nas datas em que a bolsa mensal é recebida.
Jorge Carlos Fonseca esteve presente em Coimbra, no âmbito da sua visita a Portugal, com o objetivo de visitar as comunidades cabo-verdianas no país.
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