Bancos portugueses seguem o aviso do Banco Central Europeu (BCE) para pesarem o risco dos investimentos em Angola, no seguimento da exposição do Banco Espírito Santo (BES) à banca angolana. O BPI é o mais afetado.
O BCE, autoridade única de supervisão europeia, avisou os bancos portugueses a ponderarem decisões sobre investimentos em Angola, país com o qual têm uma relação histórica intensificada pelo seu potencial de crescimento dos últimos anos.
Recentemente, a Comissão Europeia publicou uma lista de 17 países terceiros com regulamentação e supervisão equivalentes às da União Europeia (UE). Angola não foi incluída nessa lista devido ao elevado risco que este mercado representa.
Dois dos bancos portugueses com capital angolano já reagiram à decisão. Depois da advertência, o Banco Português de Investimento (BPI), que passa a estar sujeito à aplicação do limite dos grandes riscos, garante que vai cumprir as orientações do BCE.
"Quando uma instituição não respeita o limite dos grandes ricos tem que apresentar às autoridades de supervisão um plano para passar a cumprir esse limite", lembra o administrador do BPI, Fernando Ulrich.
Segundo o responsável, o banco tem estado a trabalhar com o Single Supervisory Mechanism (SSM), o mecanismo de supervisão bancária do BCE, no plano de cumprimento desse limite e no calendário para cumpri-lo.
BPI readapta-se às novas regras
De acordo com Fernando Ulrich, caberá ao BPI readaptar-se às novas regras. O administrador sublinha que o Banco de Fomento de Angola (BFA), no qual detém 50,1%, é um projeto "absolutamente extraordinário", que deve seguir o seu caminho.
O BFA, que além do BPI tem um acionista angolano, a UNITEL, que detém 49,9%, está sujeito às regras de supervisão e à lei angolanas. Por isso, "não é afetado pela regulação europeia, quem é afetado é o BPI", explicou Fernando Ulrich.
O presidente do BPI falou sobre estas questões durante uma conferência de imprensa, na quinta-feira (29.01), para apresentação dos resultados de 2014. Em dezembro último, o BPI reagiu através de um extenso comunicado à decisão da Comissão Europeia, explicando o impacto da não inclusão de Angola na lista de países terceiros com regulamento e supervisão equivalentes às regras da UE.
Antes, para o Banco de Portugal, Angola era exceção. Considerava que os investimentos dos bancos portugueses tinham um risco equiparável aos da Alemanha ou da Inglaterra. Com a supervisão única européia iniciada em novembro de 2014, o BCE mudou as regras.
Reduzir exposição
Segundo a jornalista de economia Maria João Gago, não se trata de uma posição apenas em relação a Angola, mas também a outros países importantes para outros mercados. "Em Portugal, esta questão é importante porque Angola é um mercado muito importante para os bancos nacionais", sublinha.
"O caso mais gritante é o do BPI, que terá de reduzir essa exposição", tendo em conta a sua dimensão e "o peso grande que a operação em Angola tem no BPI como um todo", sublinha Maria João Gago.
Também é preciso ter em conta que "passa a haver uma ponderação maior no risco dos investimentos angolanos, tanto na própria presença bancária como no peso da carteira de dívida pública angolana", explica.
É provável que as medidas que o BPI terá de tomar sejam no sentido da redução do peso de Angola no seu balanço, seja vendendo uma parte da sua participação maioritária no BFA, seja, por exemplo, comprando o Novo Banco, uma alternativa que está igualmente em cima da mesa.
"Independentemente de ganhar dimensão ou não, o BPI vai ter de reduzir a sua carteira de dívida pública angolana", precisa a autora do livro sobre o fim do império de Ricardo Salgado, do BES.
BCP menos exposto
O Millennium BCP, também com capital angolano – e que apresenta resultados na próxima segunda-feira (02.02) –, não quis antecipar à DW África qualquer consideração a este propósito.
De acordo com um comunicado da instituição, o banco tomou as devidas providências, apesar de não estar tão exposto aos riscos do mercado angolano.
Segundo Maria João Gago, o Millenium BCP, "que tem uma dimensão relativa face à sua dimensão total menor, não tem de mudar nada em relação à sua operação angolana". De acordo com a jornalista, o mesmo aplica-se a outras instituições portuguesas que controlam bancos em Angola.
A Associação Portuguesa de Bancos não quis tecer qualquer comentário a este respeito. A propósito de riscos, o setor bancário português está atento e, de certo modo apreensivo, face ao impacto da queda do preço do petróleo na economia angolana.