Os empresários, exportadores e intermediários envolvidos no processo de comercialização da castanha de cajú criticaram a morosidade que se regista no processo da exportação da castanha de cajú, este ano, particularmente nos últimos meses que, de acordo com as suas explicações, das 241 mil toneladas da castanha de cajú concentradas em Bissau, foram exportadas até ao momento da reportagem 141 mil toneladas.
Informaram que ficaram por exportar 120 mil toneladas da castanha estocadas nos armazéns em Bissau e no interior da Guiné-Bissau e que a cada dia que passa perde a qualidade e, consequentemente, perde o valor no mercado, devido à situação climática do país e à falta de condições dos armazéns onde o produto é armazenado.
Os empresários ouvidos pela equipa de reportagem do Jornal O Democrata afirmam que, se forem adicionadas as castanhas que ainda estão nas matas às que já se encontram nos armazéns em Bissau, pode-se concluir que o país não atingiu ainda 60 por cento da exportação este ano. Por isso, criticam o processo de exportação, por ser muito lento e exortaram o governo a acelerar a exportação para permitir a comercialização de toda a castanha, de forma a salvar os empresários das pesadas consequências.
O Democrata constatou umas filas enormes, de dezenas de camiões porta-contentores carregados na estrada de volta, da fábrica de cimento aos portos de Bissau, aguardando o acesso ao porto. Uma situação que também constitui uma ameaça ou perigo à circulação rodoviária naquela zona.
Não obstante as críticas feitas pelos empresários, o governo regozija-se pelos resultados obtidos até agora, em termos da exportação, e afirma que conseguiu exportar até ao momento 141 mil toneladas da castanha, ultrapassando a previsão inicial feita para a presente campanha. Contudo, o ministério do Comércio explicou que as dificuldades e a morosidade na exportação do produto estão ligadas à situação do próprio mercado internacional.
EXPORTADORES PEDEM A INTERVENÇÃO DO GOVERNO PARA EVITAR A PENÚRIA FINANCEIRA
O presidente da Associação Nacional dos Importadores e Exportadores da Guiné-Bissau, Mamadú Iero Jamanca, disse ao nosso jornal que a situação sócio conjuntural fez baixar a procura ou a compra da castanha de cajú drasticamente no país. Acrescentou que os empresários deparam-se com falta de compradores, o que bloqueou a exportação do produto, obrigando-os a estar com uma boa quantia ainda em stock nos armazéns.
Assegurou que em comparação aos resultados de outubro do ano passado, tinham sido exportados mais de 70 por cento das suas castanhas para o estrangeiro.
“O que sentimos não é a falta de transportadoras, mas de compradores, apesar de, na primeira fase termos deparado com uma situação de incapacidade logística, mas já está ultrapassada”, disse, lembrando que a quantidade da castanha escoada para Bissau é de 236 mil toneladas, citando os dados oficiais, dos quais se conseguiu exportar no total 141 mil toneladas.
O empresário recordou que, do início da campanha de 2020 até ao mês de outubro, foram exportadas quase 180 mil toneladas. Acrescentou ainda que a situação que se regista na presente campanha de cajú deve-se a dois fatores que considera essenciais: interno e externo.
“O fator externo é influenciado pela baixa procura, obrigando-nos a ficar com a castanha em mão, acarretou aos empresários muitos custos devido à incapacidade do armazenamento deste produto. A Guiné-Bissau é um país de clima tropical, apesar da maioria dos armazéns serem modernos e que oferecem mais condições em relação aos armazéns antigos. Mas a maior parte destes armazéns foi construída nas zonas pantanosas e os produtos que são armazenados neles ficam expostos à humidade e fungos e outras pragas”, lamentou, defendendo o diálogo com base na parceria transversal entre o governo e a classe empresarial para encontrar uma possível solução.
O empresário critica o governo por não ter aprendido com os erros cometidos nas campanhas anteriores. Sublinhou que o atraso na exportação da castanha obriga os empresários e intermediários, que ainda têm castanha nos armazéns, a contratar pessoas para fazer a secagem da castanha, todos os dias, o que é um trabalho que lhes acarreta custo diários muito altos e prejuízos enormes.
“Nós somos a indústria financeira da Guiné-Bissau, mas a situação não está boa. Se tudo continuar como está, teremos uma penúria financeira social. O governo precisa convocar uma reunião com carácter de urgência com os intervenientes do setor do cajú para ter a noção da quantidade da castanha que ainda ficou retida no país, mas o governo continua calmo e sereno com o dinheiro das taxas e dos impostos, porque o que lhe preocupava está resolvido, dinheiro no bolso”, acusou.
INTERMEDIÁRIOS: “TAXAS E IMPOSTOS EXAGERADOS AGRAVAM A SITUAÇÃO DA CAMPANHA DE CAJÚ”
Ouvido pela repórter de O Democrata para falar dos atrasos registados na exportação da castanha e que deixou os seus associados muito apreensivos, Lassana Sambú, presidente da Associação Nacional dos Intermediários de Negócios da Guiné-Bissau, disse que a situação está muito complicada, porque deixou os empresários apreensivos, porque até agora não se conseguiu exportar 60 por cento da castanha declarada.
“Foram declaradas 150 mil toneladas, das quais 144 mil já foram exportadas. Deram entrada em Bissau, 241 mil toneladas. Segundo os dados que temos em mãos, ficaram 120 mil nas matas e em Bissau, neste mês de outubro. Se a quantidade da castanha que ainda está no interior for adicionada ao stock em Bissau, concluiremos que nem atingimos 60 por cento de exportação”, afirmou, alertando que a Guiné-Bissau corre o risco de comprometer a sua próxima colheita (2023) devido ao período do início da colheita nos outros países.
Segundo o empresário, são os mesmos compradores que poderão decidir financiar a campanha naqueles países e colocar a Guiné-Bissau fora da lista dos países prioritários.
Admitiu que a situação que se regista agora poderia ter sido evitada, se o governo guineense se tivesse preocupado com o setor empresarial. Lembrou que a campanha deste ano iniciou um pouco tarde, por causa da implementação das taxas e impostos que complicaram a campanha.
“As castanhas estão retidas nos armazéns por falta de mercado. É uma situação muito preocupante para nós, porque se tivéssemos tido em conta que temos um clima húmido e que isso poderia baixar a qualidade da castanha, como também obrigar-nos-ia a renegociar, em alguns casos os contratos com os compradores, teriam sido tomadas outras diligências. A qualidade agora varia de 49 a 51 por cento, se houver empresas interessadas nestas qualidades, ainda vamos a tempo de tirar as restantes castanhas do stock, caso contrário, enfrentaremos grandes problemas juntos dos bancos”, disse o responsável dos intermediários, lamentando que o executivo tenha aumentado as taxas, por exemplo, da base tributária que saiu de 950 francos CFA´s, no ano passado, para 1050 francos CFA´s este ano.
“O escoamento saiu de 8 francos CFA para 28 francos CFA por quilograma, a exportação saiu de 35 F. CFA ́s para 50 FCA, por quilograma. Pagamos impostos que não têm nada a ver, trata-se dos impostos extraordinário especial de cajú e a de antecipação de contribuição industrial, mas este último no final da campanha é reembolsado. Esses impostos são mais uma forma de roubar dinheiro aos empresários, por isso decidiram instituí-los e adicioná-los a outros impostos”, criticou.
GOVERNO GARANTE EXPORTAÇÃO DE TODA A CASTANHA ATÉ AO FINAL DE NOVEMBRO
Contactado para reagir à reclamação dos empresários à volta do atraso na exportação da castanha e que pode levar os empresários a ter um prejuízo de mais de cem mil toneladas da castanha de cajú que correm o risco de ficar no país, o diretor-geral do Comércio e Concorrência, Lassana Fati, explicou que as dificuldades que se verificam em termos de exportação, estão ligadas à situação do mercado internacional, como também ao início da colheita de cajú noutros países, por isso se abrandou o processo da exportação na Guiné-Bissau.
Lassana Fati informou que até ao momento da entrevista, foram exportadas 141 mil toneladas da castanha, das 240 mil toneladas que deram entrada em Bissau, contudo afirmou que o país conseguiu até agora ultrapassar a previsão inicial da exportação do produto considerado “petróleo guineense”.
“Estão criadas todas as condições nos portos para a exportação, portanto o atraso na exportação de mais de cem mil toneladas deve-se à situação do mercado internacional. Se tudo correr como o previsto, poderemos ver até ao final de novembro, toda a castanha estará fora de Bissau “, garantiu.
Sobre as reclamações dos empresários em relação ao aumento dos impostos e taxas, Lassana Fati explicou que os impostos e as taxas foram fixados num período antes do início da campanha, razão pela qual seria difícil alterá-lo por causa das reclamações dos exportadores e intermediários.
“Se estão a fazer campanha é um sinal de que conhecem as regras do jogo, antes de iniciarem a campanha. Estávamos no meio da campanha e o governo já tinha feito a previsão do que iria recolher na campanha. Seria difícil rever as taxas. Nós sabemos dos contratos que fazem e quanto vão receber destes contratos”, referiu.
Enfatizou que as mais de cem mil toneladas que ficaram por exportar constituem uma preocupação para o governo, mas é situação alheia à vontade do governo e do ministério do comércio. Contudo, reafirmou o esforço do governo em trabalhar para a exportação das referidas castanhas até ao final do próximo mês, tendo recomendado os empresários a secarem sempre as castanhas para não estragarem ou perderem a qualidade.
“Não temos dificuldades de barcos, porque emitimos 43 licenças para a exportação de castanha e todas elas já foram ativadas, com exceção de uma que ainda não iniciou. Em termos de previsão, conseguimos ultrapassar aquilo que era a previsão inicial e conseguimos uma moratória com os estivadores”, indicou.
Por: Epifânia Mendonça
Foto: Marcelo Na Ritche
Conosaba/odemocratagb