quarta-feira, 12 de março de 2025

PR Umaro Sissoco Embaló: “A CONSTITUIÇÃO DA GUINÉ-BISSAU ESTÁ ACIMA DA CEDEAO”

O Presidente da República da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, afirmou que a lei e a Constituição do país estão acima da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), assegurando que a Guiné-Bissau é um país soberano e que nada está acima das suas leis e da Constituição, afirmando, neste particular, que a “Comissão da CEDEAO não é soberana”.

“A missão de alto nível da CEDEAO/ONU cometeu um grande erro. A missão tinha um roteiro sobre o qual deveria concentrar o seu trabalho, mas saiu do seu caminho. É como uma viatura que sai da estrada e se atropela. A Guiné-Bissau é um país soberano, mas a Comissão da CEDEAO não é soberana, porque somos nós, os Estados, que tomamos as decisões”, disse o chefe de Estado guineense na entrevista concedida ao canal de televisão russa RT (seção francesa).

O Presidente Embaló explicou na entrevista que os chefes de Estado decidiram, na cimeira, o envio da missão de alto nível da CEDEAO à Guiné-Bissau para se inteirar do que está realmente a passar no país.

“Eu aceitei a vinda da missão, mas sob a condição de respeitar as leis e a Constituição da Guiné-Bissau, que estão acima da CEDEAO. A missão não respeitou as leis e a Constituição, então expulsei-os”, esclareceu, assegurando que a missão foi longe demais e que não foi mandatado para desrespeitar as leis do país.

Questionado se teme que a Guiné-Bissau ou ele próprio seja retaliado ou sancionado pela CEDEAO por desrespeitar a organização, respondeu: “Eu, não! Isso não é possível nem desejável, aliás, nem estará em cima da mesa para discussão.”

“Eu tomei uma decisão, tendo em consideração os próprios princípios da CEDEAO. A Guiné-Bissau é um dos membros fundadores da CEDEAO, portanto, nós somos a CEDEAO. E não são os funcionários de baixo nível que vão decidir o que vamos fazer. Esta não é a primeira vez que as missões da CEDEAO foram expulsas, e mesmo as missões das Nações Unidas são expulsas, porque a ONU não é soberana”, contou.

Embaló advertiu que é inadmissível a existência de ativistas no seio da Comissão da CEDEAO, enfatizando que os chefes de Estado precisam trabalhar na reestruturação da organização.

“Não podemos admitir os ativistas no seio da Comissão da CEDEAO, e isso é inaceitável, porque a CEDEAO é uma instituição credível. É triste ver essa organização a afundar-se”, notou.

“NÃO TENHO UMA OPOSIÇÃO DE VERDADE NA GUINÉ-BISSAU PARA DISPUTAR ELEIÇÕES”

Sobre o anúncio da sua candidatura para as eleições presidenciais agendadas para novembro do ano em curso, e apesar de ter afirmado anteriormente que não concorreria, explicou que, na verdade, tinha decidido não candidatar-se à sua própria sucessão, mas reconsiderou a sua decisão tendo em conta a situação do país neste momento.

“Decidi candidatar-me para o bem deste país, porque entendemos que é preciso formar hoje uma nova geração de políticos. Fazer um mandato apenas e sair, penso que trai as minhas ideias e o meu próprio país”, assegurou.

Indagado se as pessoas que exercem atividade política atualmente não são modelos, explicou ainda que, quando assumiu a função de chefe de Estado, conseguiu realizar três coisas que considera muito importantes: “reerguemos o Estado que estava no chão, e na Guiné-Bissau preocupávamo-nos muito com a comunidade internacional.”

“Quando olho para trás, afirmo sinceramente que esses políticos não estão em condições de dirigir este país. Devemos ter paciência e criar uma nova classe política, portanto conseguiremos realizar tudo isso durante o meu segundo mandato. É necessário reconsiderar a minha posição e avançar para o segundo mandato. Na verdade, houve muita pressão das pessoas que me perguntavam por que decidi não concorrer ao segundo mandato. Sempre lhes digo que tinha a intenção de fazer outras coisas”, contou.

“Após muita reflexão, tomei a decisão de recandidatar-me ao segundo mandato, que considero uma grande decisão para a República da Guiné-Bissau, mas sobretudo tendo em conta as ações que realizámos pelo país. Antes, toda a gente afirmava que a Guiné-Bissau era um país em pânico e instável, mas hoje conseguimos trazer este país para o concerto das Nações”, afirmou, acrescentando que “hoje não existem Estados pequenos, mas sim Estados, podemos ser um país pequeno, mas não um pequeno Estado”.

Questionado sobre a afirmação de que ganharia as eleições presidenciais logo na primeira volta, respondeu que o balanço do seu trabalho no primeiro mandato falaria por si.

“Não tenho verdadeira oposição na Guiné-Bissau, mas existem políticos que falam muito e cujo único trabalho é a política. Antes de me dedicar à política ativa, trabalhei, tinha casas, viaturas e uma família constituída”, salientou, sublinhando que, na Guiné-Bissau, sempre que um ministro é demitido por corrupção, corre logo para criar um partido.

Por: Assana Sambú
Conosaba/odemocratagb

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