O chefe militar sudanês, general Abdel-Fattah Burhan (centro), recebido por soldados à sua chegada ao palácio presidencial, retomado ao grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido, em Cartum, no Sudão, 26 de Março de 2025.2025. AP
Cartum – O exército sudanês anunciou esta sexta-feira, 28 de Março, a retoma da capital, Cartum, após uma ofensiva contra as Forças de Apoio Rápido (FAR). A operação do exército sudanês, que culminou quase dois anos depois do início da guerra, em Abril de 2023, é vista como avanço "simbólico" pela investigadora independente em assuntos de geopolítica no Corno de África e Médio Oriente, Ana Cascão, descrevendo uma guerra "atípica que começou na capital, o que não é normal”.
O exército sudanês anunciou a reconquista total da capital, Cartum, numa operação que culminou na expulsão das FAR, lideradas por Mohamed Hamdane Daglo. O porta-voz militar, Nabil Abdoullah, declarou que os últimos focos de resistência foram neutralizados. O general Abdel Fattah al-Burhane, comandante do exército, proclamou a "libertação" da cidade, consolidando o controlo sobre o norte e leste do país. No entanto, as FAR mantêm presença no sul e numa grande parte do Darfur, no oeste do país.
O conflito, iniciado a 15 de Abril de 2023, resultou em dezenas de milhares de mortos e mais de 12 milhões de deslocados, segundo as Nações Unidas. O Sudão, terceiro maior país de África, permanece dividido entre facções militares rivais, com uma crise humanitária cada vez mais grave.
A investigadora independente em assuntos de geopolítica no Corno de África e Médio Oriente, Ana Cascão, descreve o conflito como "atípico", destacando que a guerra teve início na capital, algo pouco comum nos padrões de conflitos armados. "Normalmente, as guerras começam na periferia e, quando a capital é tomada, isso representa uma vitória. Neste caso, a guerra começou em Cartum, o que foi extremamente problemático. A população foi forçada a fugir para outras regiões do Sudão e para países vizinhos, ampliando o impacto humanitário do conflito", explica.
As FAR ocuparam várias áreas estratégicas da capital, dificultando o controlo unificado do território. "Cartum é uma cidade composta por bairros interligados por numerosas pontes. Isso significa que nenhuma das facções conseguia exercer um controlo absoluto sobre toda a cidade", acrescenta a investigadora..
A retoma da capital pelo exército não só representa um avanço militar, mas também um ganho simbólico para o governo. "Recuperar Cartum é fundamental para retomar o palácio presidencial e locais-chave como o Banco Central, mesmo que este tenha sido destruído. Além disso, é essencial para controlar as pontes que ligam as três partes da cidade e conectar o leste ao oeste do país", enfatiza Ana Cascão.
Apesar do avanço do exército sudanês, as FAR continuam a controlar vastas áreas do país, e a instabilidade política e social persiste. A situação humanitária continua a deteriorar-se, com milhões de pessoas a precisar de assistência urgente.
Por :Lígia ANJOS
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