sábado, 22 de março de 2025

Sissoco Embaló diz que "não é ditador" e mostra-se seguro de que vencerá presidenciais


O Presidente guineense concedeu uma longa entrevista à agência Lusa em que abordou a situação política do país, as suas prerrogativas em termos institucionais, a perspectiva das eleições em finais de Novembro, a recente expulsão da missão da CEDEAO, bem como a organização da cimeira da CPLP em Julho. No cômputo geral, Umaro Sissoco Embaló faz um balanço positivo da sua forma de conduzir o país e diz que "não é um ditador".

Com efeito, ao ser questionado sobre o facto de ser acusado pela oposição e sectores da sociedade civil de dirigir o seu país com mão de ferro, Umaro Sissoco Embaló assegura que nunca proibiu nenhuma manifestação no seu país, mostra-se convicto de que os seus antigos aliados voltarão a apoiá-lo nas próximas eleições e diz que o seu país ganhou visibilidade durante o seu mandato.

"A Guiné-Bissau de ontem não é a Guiné-Bissau de hoje. Só a nossa Presidência da CEDEAO: é a primeira vez que houve um Presidente lusófono a presidir a maior organização subregional", sublinha o chefe de Estado ao vincar "o papel da Guiné-Bissau nos vários conflitos no mundo, nomeadamente na crise da Rússia e Ucrânia. Nós temos tido um papel muito importante".

"Eu fiz quase 50 visitas de Estado -um recorde- e só aqui na nossa zona tenho condecorações da Nigéria, Gana, Senegal. Isso é muito importante. Acha que ter uma medalha Legião de Honra francesa com visita de Estado em França, isso não é para qualquer um. Eu sou o único Presidente que efectuou a visita de Estado com o Presidente Bolsonaro, China também", destaca ainda Umaro Sissoco Embaló.

"Penso que nesse meu primeiro mandato, a Guiné-Bissau tinha que se sentir como uma nação, como um Estado, porque a ausência de Guiné-Bissau no concerto das nações, afectou muito o desenvolvimento socioeconómico da Guiné-Bissau porque dantes, quando se falava Guiné-Bissau falava-se só um narcoestado, um Estado falhado, mas hoje não", sublinha o chefe de Estado ao vincar que no seu país "não há ditadura".

"Eu não sou ditador. Até não pretendo ser. Sou disciplinador. Nunca proibi as manifestações", argumenta o Presidente ao mostrar-se convicto de que vai ganhar as próximas presidenciais que ele marcou para o dia 23 de Novembro e às quais ele é candidato. Sissoco Embaló está igualmente seguro de que vai obter o apoio dos seus antigos aliados, nomeadamente Braima Camará. "Eu, indo hoje para as eleições, eu vou ganhar na primeira volta, porque vê-se aquilo que eu fiz. Os que não me tinham apoiado, muitos estão a apoiar-me hoje. Mas uma coisa eu posso garantir: os que me tinham apoiado em 2019, não têm outro candidato senão eu. Não terão", vinca Embaló.

Questionado sobre a situação institucional do seu país cuja Assembleia Nacional Popular foi dissolvida em Dezembro de 2023, depois de acontecimentos que o Presidente qualificou na altura de "tentativa de Golpe de Estado", o interessado recusa o epíteto de "crise".

"Essa é a terceira vez que o parlamento é dissolvido em Portugal. Quando o parlamento é dissolvido em Portugal não é crise", argumenta Umaro Sissoco Embaló ao explicitar a forma como encara o seu papel como chefe de Estado. "O Presidente da República da Guiné-Bissau é o chefe do Executivo, o primeiro-ministro, o chefe do Governo, ele presta contas ao Presidente da República. O Parlamento também. Agora, se quiser, hoje ou amanhã, faço um decreto, vou convocar todos os deputados para irem a Assembleia, mesmo com o Parlamento dissolvido", declara.

Relativamente às críticas de que tem sido alvo sobre a sua decisão de marcar as eleições gerais a 23 de Novembro, muito para além do fim do seu mandato segundo a oposição que sustenta que, de acordo com a Constituição, ele deixou de ser Presidente no dia 27 de Fevereiro, data do quinto aniversário da sua chegada ao poder, Sissoco Embaló insiste que "de acordo com a Constituição da Guiné-Bissau, as eleições fazem-se entre Outubro e Novembro."

"Isso é a lei eleitoral e a Constituição da Guiné-Bissau, independentemente de ter tomado posse a 1 de Janeiro, 5 de Fevereiro ou 10 de Março. José Mário Vaz (anterior Presidente) também teve o mesmo problema. Ele teve que recorrer à Procuradoria-Geral da República. O procurador disse 'o Presidente tomou posse em Junho. O mandato pode terminar em Junho, mas o Presidente só sai do palácio com a eleição do novo Presidente da República. Mas, de acordo com as nossas leis, tem que ser entre Outubro e Novembro, a primeira volta. A segunda volta tem que ser na terceira quinzena ou no último domingo do mês de Dezembro'. E foi isso que aconteceu", esclarece ainda o actual inquilino do Palácio presidencial.

Questionado sobre a expulsão da delegação da CEDEAO que efectuou no mês passado uma missão de uma semana na Guiné-Bissau para ajudar o país a encontrar pistas para sair do seu actual mal-estar, o Presidente torna a assumir a sua decisão. "Há regras. Antes de nós, CEDEAO, mandarmos uma delegação, quando ela chega, vai apresentar-se junto do chefe de Estado e depois ao Ministro dos Negócios Estrangeiros. Pergunta ao Presidente da República 'olha, o roteiro que nós temos é isso e isso. Isso está de acordo?' 'Não, não estou de acordo com isso'. E não se pode mesmo discutir, porque não é a nível de chefe de Estado. Então foi isso que aconteceu. Eles tinham um roteiro, saíram fora desses parâmetros, então tinham que ir. E foram. Eu vou repetir: a Guiné-Bissau é um país soberano. A CEDEAO não é soberana. Mesmo as Nações Unidas não são soberanas. Há regras", sublinha.

Quanto à perspectiva de organizar a Cimeira da CPLP e passar a assumir a presidência rotativa daquela organização em meados de Julho, Umaro Sissoco Embaló rebate as dúvidas que foram surgindo sobre a possibilidade de o seu país ter condições para assumir estas responsabilidades. "Nós já mandamos convite para Julho. São Tomé e Príncipe assumiu a presidência nos mesmos moldes. Iam para as eleições. Na altura não era o Vila Nova que era o Presidente. O país assumiu", refere o chefe de Estado guineense ao recordar que o seu país já organizou a cimeira da Comunidade Económica dos Estados da África do Oeste. "A CEDEAO é maior do que a CPLP em termos de números, em termos de logística. Não quero dar elogios à Guiné-Bissau, mas foi um marco e correu muito bem. E a nossa presença foi marcante", conclui Umaro Sissoco Embaló.

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