Os clubes e academias de futebol da Guiné-Bissau estão a perder, há vários anos, muitos fundos de solidariedade da FIFA, por falta de inscrição dos jovens promessas futebolistas no sistema TMS da FIFA, que tem como função efetuar todos os registos das transações e dos intermediários envolvidos nas transferências dos jogadores.
Nos últimos anos, vários miúdos com qualidade futebolística dos clubes e academias foram inseridos nas principais ligas europeias, principalmente em Portugal, mas não têm registos que comprovam que competiram internamente no país nos respetivos clubes e academias nacionais.
Em causa está a falta da realização do Campeonato Nacional de Futebol da categoria (sub-15 e sub-17), pela Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB), nos últimos anos no país, por isso os clubes e academias não têm como inscrever os seus jogadores talentosos no sistema TMS da FIFA.
Na sequência da não realização das competições de formação para os miúdos pelo organismo que tutela o futebol nacional, os clubes e academias foram obrigados a transferir os jogadores talentosos para o futebol internacional para não desperdiçarem os dotes futebolísticos.
Para além do fundo financeiro que os clubes e as academias perdem devido a não inscrição dos miúdos no sistema TMS da FIFA, onde cada transferência internacional de um jogador o clube formador do atleta teria o direito a 5% dos valores envolvidos, a Guiné-Bissau perde também o próprio jogador a favor de outros países, principalmente de Portugal.
A informação foi transmitida na quarta-feira, 19 de março, pelo Administrador da Academia de Futebol da Guiné-Bissau (MEPA), Paulo Mendonça, durante uma entrevista concedida ao Jornal O Democrata, com o propósito de reagir à não realização do Campeonato Nacional de Futebol de Formação no país.
“Temos desperdícios no futebol nacional. Temos jogadores que estão a sair das academias, graças aos familiares e bolsas de estudo para o futebol europeu e quando chegam lá, começam a despertar atenção de muita gente, mas ninguém consegue informar corretamente os percursos dos nossos atletas, onde começam antes de chegarem à Europa, porque não competem a nível nacional. A própria Federação de Futebol e as academias não dispõem de dados de atletas, porque não foram registados no sistema TMS da FIFA que prova que o jogador não é só guineense, mas saiu de um clube de futebol da Guiné-Bissau, por isso chamamos isso de desperdícios”, disse.
“Penso que os responsáveis das academias, a própria FFGB têm consciência desses prejuízos que existem quando o jogador sai da Guiné-Bissau e começa a despontar no futebol internacional. Temos muitos exemplos claros dos jogadores que saíram do país neste contexto, mas a Guiné-Bissau continua a perder e as academias não têm tirado os devidos proveitos relativamente ao fundo de solidariedade sobre os direitos de formação, porque não têm justificativos para provar que o atleta formou-se na sua academia”, explicou Mendonça.
Mendonça, que chegou a manifestar a intenção de liderar a FFGB, alertou que é fundamental “rigor, organização e paciência” no sentido de permitir o desenvolvimento do futebol nacional, com destaque para a categoria de formação, permitindo os jogadores abraçarem o projeto da seleção nacional de livre consciência.
Segundo a explicação do administrador do projeto MEPA, as academias nacionais têm agora dificuldades imensas de convencer os clubes europeus para emitir convites para os jovens talentosos guineenses poderem demonstrar as suas qualidades nos diferentes clubes internacionais devido à falta de competição interna.
“Para além de não aceitar emitir um convite para um jogador deslocar-se até à Europa, é preciso ter muita confiança na sua pessoa, devido à falta de vídeos para convencer os parceiros internacionais que os jogadores têm qualidade e merecem ter uma oportunidade para jogar no futebol internacional”, disse.
Informação oficial indica que após a conclusão do Campeonato Nacional de Futebol de formação da época desportiva 2021-2022, desde então o organismo que tutela não conseguiu realizar a prova interna para futebolistas do sub-15 e sub-17 na Guiné-Bissau. Embora não tenha realizado a competição, a estrutura técnica tem feito a planificação em cada época desportiva para realização da competição.
Em reação, o Diretor Executivo da Academia Valusa, Valdumar Tchongo, responsabilizou a atual Direção Executivo da FFGB e Associação dos Jogadores, por falta de competição interna para os miúdos nos últimos três anos. Tchongo, que colocou vários jovens talentosos no futebol internacional, apelou aos jogadores a saírem às ruas para protestar contra essa postura.
Tchongo falava ao Democrata, à margem da primeira edição do Torneio Internacional “Bocundji Cá”, para captação de miúdos talentos da categoria de sub-17, com o objetivo de colocá-los no mercado futebolístico europeu com contrato profissional rubricado com o seu clube.
“Os miúdos das academias e clubes não estão a competir é uma situação grave, por isso é uma responsabilidade da Federação de Futebol. Há vários anos que não se realiza o campeonato dos jovens pela entidade máxima do futebol nacional e o executivo e a própria federação podem esperar o produto acabado das pessoas (clubes que formam jogadores fora do país) a pedir que estes jovens representem a seleção nacional nas competições internacionais”, argumentou Tchongo, visivelmente preocupado com a situação.
Sem apontar dedo a ninguém ligado ao futebol nacional, o Diretor Executivo da Academia Valusa, afirmou que a Guiné-Bissau não pode continuar a receber fundos da FIFA, entidade máxima de futebol, por não realizar as competições de formação de categoria no país.
O Democrata tentou obter a reação oficial da FFGB, mas sem sucesso. Contudo, no mês de janeiro do ano em curso o organismo liderado por Carlos Mendes Teixeira “Caíto” tinha anunciado o início das inscrições dos clubes e academias para o Campeonato de Formação da época desportiva 2024-2025.
De acordo com a FFGB, a prova seria na categoria de sub-15 e sub-17 e as inscrições dos jogadores seriam realizadas de forma criteriosa em relação às respectivas faixas etárias, evitando adulteração de idade.
A fonte federativa garantiu ao Democrata que já foram concluídas inscrições dos clubes e nos próximos dias serão realizados os sorteios para dar início à competição.
De recordar que a última edição do campeonato nacional da categoria 2021-2022, nomeadamente juvenil e júnior, foi vencida pela Academia Valusa e Academia Vitalis. Na altura, as duas academias situadas em Bissau receberam 750.000 FCFA, respetivamente.
Por: Alison Cabral
Conosaba/odemocratagb
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