sábado, 8 de janeiro de 2022

“Cruzamento de registos é imprescindível para divulgação de dados reais sobre VIH/Sida”


Os dados divulgados sobre VIH/Sida no país, provavelmente, não são reais, pois segundo as informações recolhidas no centro de saúde de Bula, algumas pessoas começam o tratamento naquela instituição sanitária e, mais tarde, mudam para outra zona do país, onde se registam outra vez, assim sucessivamente.

No entanto, a falta de cruzamento dos referidos dados estatísticos, leva o Secretariado Nacional de Luta Contra Sida a divulgar dados enganadores, sobre o número de pessoas viventes com esta doença.

De acordo com Monique Gomes, enfermeira e responsável da área de tratamento de doentes de tuberculose nesta unidade sanitária, regularmente aparecem gravidas seropositivas e são seguidas por técnicos de saúde. O certo é que a negligência fala muito alto, tendo em conta que entram em tratamento, e passado algum tempo, acabam por abandonar. “Uma mulher grávida quando vem à consulta é logo testada. Caso o resultado der positivo é orientada a começar o tratamento. Acontece que, quando inicia a terapia ela é aconselhada para não ficar um dia sem tomar os medicamentos, para aparecer todos os meses no centro para levantar os medicamentos, entre outros aconselhamentos, mas sem sucesso”.

Na verdade, desaparecem durante meses, ressurgem já no nono mês de gravidez, quando não conseguem dar luz em casa, que muita das vezes os filhos nascem seropositivos. Essa situação resulta no facto de não terem seguido as orientações de tratamento dos técnicos de saúde.

Outra situação preocupante refere-se à mudança de local de consulta. Um doente começa tratamento no centro de Bula, passando alguns tempos, perde de vista e aparece em Canchungo e é registada outra vez, muda para Nhacra, fazendo a mesma coisa. Esse comportamento leva às instituições vocacionadas na duplicação de dados estatísticos sobre VIH/Sida na Guiné-Bissau.

O mais complicado de tudo isso, refere-se à situação de não-aceitação dos resultados, conforme disse Gomes. Essas grávidas, muitas das vezes, preferem recorrer à medicina tradicional, onde acabam infelizmente por perder a vida, enquanto hoje em dia, um doente seropositivo que segue as orientações, vive por muito tempo.

Para Monique Gomes, é extremamente difícil trabalhar nessas condições, sobretudo com esses doentes que necessitam de encontro regular, no sentido de se manterem saudáveis.

“Aconselhamos-lhes a trazerem os maridos, mas não aceitam. Ao meu entender, esse pedido pode ser uma das razões da referida mudança de lugar de tratamento”, disse.

Situação do centro

A unidade sanitária de Bula tem 18 técnicos, nomeadamente duas médicas, 12 enfermeiros, três parteiras, dois técnicos de laboratório e um de farmácia, para uma população estimada em 23.490 habitantes, conforme dados do Programa Alargado de Vacinação (PAV).

Essa unidade não consegue responder às exigências da população do setor, por ser demasiadamente pequena e sem possibilidade de internamento.

Funciona 24 horas por dia. Apesar das sucessivas greves no setor de saúde este ano, prestam serviço mínimo para atender às demandas dos pacientes. Têm serviços de maternidade, consultas externas para adultos, pediatria e laboratório.

Os números de atendimento mensal variam de serviço para serviço. Na maternidade, fazem de 40 até 33 partos, enquanto nas consultas externas de adulto atendem 452 pacientes, com os sintomas de paludismo, gripe e diarreia. Já para pediatria, recebem 328 visitas com as mesmas patologias.

Na implementação do Programa Integrada para a Redução de Mortalidade Infantil (PIME), as mulheres e crianças vinham com frequência, tomando em consideração que eram isentas dos pagamentos. Com o término do projeto, as grávidas aparecem tarde para as consultas pré-natais, nesse caso a partir de sete ou oito meses.

Nessa fase, torna-se difícil controlar as doenças que desenvolvem durante a gravidez, o que na maioria das vezes cria complicações durante o parto.

Aquela unidade sanitária lida com os partos normais, os mais complicados são transferidos para Bissau. Não dispõe nesse momento de ambulância. Caso algum doente necessite de evacuação, os familiares procuram meios.

No que se refere às condições de funcionamento, o centro de saúde de Bula depara com muitas dificuldades, pois não dispõe até de luvas para o atendimento dos pacientes.

Em termos de conservação de medicamentos e de vacinas, disse que adquiriram através do UNICEF, um frigorífico para colmatar essa situação, porque despõem de painel solar, assim como de um furo de água.

Tratamento de doentes com tuberculose

O pequeno centro de saúde, também serve para tratamento e seguimento de doentes com tuberculose. Esse serviço tem nesse momento 20 doentes, 13 de sexo masculino e sete do feminino. O tratamento dura seis meses e é dividido em duas fases, intensiva e manutenção.

Na primeira fase, o doente é submetido a intenso tratamento, enquanto na segunda muda-se, onde o acompanhamento e feita de acordo com o nível de recuperação do doente.

Antes do surgimento da covid-19, os doentes recebiam géneros alimentícios, tendo em conta a debilidade que a maioria dos doentes apresentava.

Segundo Monique, esses pacientes também dão trabalho aos técnicos de saúde, porque começam o tratamento e depois abandonam, ficando em casa, provavelmente contaminando seus familiares.

Elci Pereira Dias
Conosaba/jornalnopintcha.

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