quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

«Guiné-Bissau» Estaleiro Naval: Empresa abandonada e quase a “morrer”



Numa reportagem do Capital News, do dia 29 de janeiro, o repórter do Jornal constatou que a Estaleiro Naval, empresa pública, se encontra de modo iminente na última fase da sua vida e da existência (destinada a acabar), enquanto firma e instituição.

Durante o percurso à todas as instalações da empresa, onde funcionavam diferentes serviços administrativos, desde serviços técnicos, ensaios, bem como os serviços de manutenção e de assistências de navios, viu-se que todos se encontram destruídos e abandonados.

Por causa de danos causados pelo mau uso e falta de conservação dos materiais, foi possível encontrar, a título de exemplo, o serviço de produção de oxigénio estragado, a chamada “Doca Seca” abandonada, o designado “Plano Doca”, igualmente, com materiais em desuso, a rampa de recolha de navios para efeitos de reparação está com problemas de assoreamento e os pavilhões de escola técnica de formação local, com céu aberto e em estado avançado de autodestruição.

Destas constatações, o Capital News registou, ao mesmo tempo, outras localidades paradas e abandonadas, entre as quais o Torno, um serviço de revolvo de ferros de navios, serviços de fundição ou derretimento de peças, onde se fazia entre outros trabalhos a produção de juntas de peças para cabos de luz elétrica.

Em 2002, o Governo liderado por Alamara N’tchia Nhassé, cedeu à empresa ARESKY o Estaleiro Naval, através de um negócio de encontro de contas estimado em mais de 500 mil dólares americanos e, em contrapartida, a construtora assumiu as obras de construção da Avenida Domingos Ramos, em Bissau.

Alguns funcionários contatados no terreno, pelo jornal Capital News, confirmaram que Estaleiro Naval estava em bom estado de uso, mas que a dado momento, a empresa parou e certos materiais que lhe permitia funcionar foram subtraídos aos poucos, apontando responsabilidades à administração da empresa ARESKY.

Relativamente aos vestígios, o CNEWS encontrou navios de grandes portes abandonados e alguns em obras de reparação, nomeadamente Canefaque e o famoso navio Sambuia, vedetas rápidas de quase todas as instituições públicas, desde Brigada Costeira da Guarda Nacional, do Instituto Marítimo e Portuário (este último em obra), e assim como as propriedades para navegação marítima de pessoas particulares, que do mesmo jeito não escapam a “morte lenta” nas instalações de Estaleiro Naval da Guiné-Bissau.

A outra realidade encontrada nas instalações do Estaleiro Naval prende-se com pouco número de funcionários da empresa, as paredes já “velhas” e todas praticamente em ruína.

Pedro da Costa, mecânico Naval, único que ainda resta neste momento na empresa, com 78 anos de idade, revelou ao Capital News que a empresa estatal da Guiné-Bissau com serviço de estaleiro, era chamada Serviço de Assistencial Oficinal (SAO), afetos aos serviços de navios de guerra, que contava com perto de mil operários.

Ele disse que entre 1974 e 1976 o serviço foi mudado no nome para a chamada “Guiné Mar”, daí não tinha mais informações da então SAO.

“No período em que trabalhamos aqui, isso era uma maravilha com tudo, a funcionar desde serrilharia, produção de oxigénio, secção de plano, pinturas, carpintarias e em fim”, lembrou o Decano da empresa.

Questionado sobre o estado atual da empresa, Pedro da Costa disse que ele assiste um momento triste com a “degradação profunda” da empresa da qual ele se orgulhava.

“Esta é uma profunda degradação, que não tenho palavras para descrever esta situação, sinto-me mal quando entro aqui, lembro dos meus colegas e com o nível de estrago da empresa”, lembrou de forma triste.

Ao estado da Guiné-Bissau, Pedro da Costa falou na necessidade de Estaleiro Naval voltar a funcionar, o que daria “mais ganho em termo econômicos”, tendo em conta que os navios da vizinha República da Guiné Conacri eram feitos assistências e reparações em Bissau.

A reportagem do CNEWS falou também com o responsável do sindicato da então SAO, atual Estaleiro Naval, Raul Correia que responsabilizou ARESKY pela “morte lenta” da empresa.

“É muito triste o que encontrei aqui depois de algum tempo que fui transferido para Porto de João Landim em 2000. De espanto, tomei conhecimento de que a ARESKY foi cedida a empresa”, disse.

Correia revelou que durante o período do reinado da empresa ARESKY, ela licenciou alguns funcionários, cortou salários e as pessoas trabalhavam a dobrar e ganhavam menos.

“Estamos indignados com o que se passa. Penso que o estado da Guiné-Bissau deve assumir as suas responsabilidades com a sua empresa, que no outro tempo era a única empresa a nível da África Ocidental, além do estaleiro que existe no porto de Dakar e de Cabo Verde”, lamentou.

A concluir, Raul Correia informou que, neste momento, dos funcionários que restam na empresa, cada um vive da sua sorte, não há como trabalhar, muito menos os salários.

Por CNEWS com Conosaba do Porto

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