Analistas temem tensão, após ameaça de impugnação dos resultados das presidenciais. Comunidade internacional "não permitirá" novo golpe militar
As próximas horas "são decisivas" na Guiné-Bissau, conhecidos os resultados das presidenciais, estima o investigador Eduardo Costa Dias, sublinhando que, "até ao fim de semana, muita coisa pode suceder".
De acordo com os resultados provisórios pela Comissão Nacional de Eleições, José Mário Vaz - candidato do PAIGC, obteve 61.9 por cento dos votos na segunda volta das eleições presidenciais, realizada no domingo, enquanto o candidato do PRS - Nuno Nabiam, conseguiu 38.1 por cento. Em declarações à agência Lusa, o antropólogo e especialista em estudos africanos Eduardo Costa Dias confia que "a comunidade internacional vai fazer tudo para que seja formado um governo e o presidente hoje eleito tome posse", pois, caso contrário, corre o risco de "perder o respeito". Esta é a única certeza, "o resto logo se vê" e "tudo é imprevisível", resume. "O que interessa agora é saber quais são as peripécias pelo meio", aponta, lembrando que se fala de constituir "um governo inclusivo", mas se desconhece em que moldes exatamente, e que "o PAIGC é um pouco uma manta de retalhos".
Nuno Nabiam e os apoiantes do PRS "ainda não se deram por derrotados, ainda que tal não signifique que venha a haver um golpe", vinca. "Ninguém nos pode assegurar que não vão tentar uma jogada, tipo de tribunal", recordando que ainda esta manhã a candidatura do PRS reclamou, em comunicado, vitória nas eleições. "Vamos ver agora, estas horas são decisivas, até ao fim de semana muita coisa pode suceder", frisa o investigador do Centro de Estudos Africanos do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, assumindo "uma grande ansiedade e preocupação". Acreditando que "muita coisa" pode ainda "suceder", Costa Dias descarta, porém, que haja "espaço para um golpe militar", não porque "internamente haja capacidade de afastar os militares", mas porque a comunidade internacional não o permitirá. Os militares "jogaram no voto no Nabiam e tentaram, de facto, influenciar as eleições, criando medo entre as pessoas", o que explica a queda do número de votantes em Gabú e Bafatá, realça o investigador. "Ninguém tem mão" nos militares, reconhece, confessando que gostava de "estar enganado".
Costa Dias antecipa também "alguma alteração em termos de pressão das Nações Unidas", que nomearam como novo representante na Guiné-Bissau o diplomata de carreira brasileiro Marco Carmignani, que sucederá ao timorense José Ramos-Horta.
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