O Governo de Transição liderado por Rui Duarte Barros, deixou os produtores de castanha de caju a “mercê” dos compradores da castanha que estão a comprar o produto a preços que querem, sem que sejam interpelados pelos inspectores do comércio que se encontram no terreno. Para alguns observadores o executivo de transição abandonou os produtores de caju em detrimento de campanha eleitoral.
A nossa reportagem passou em algumas zonas do interior do país nomeadamente nas regiões de Oio e Biombo, constatou a ausência total dos compradores da castanha e os que estão no terreno, compram o produto nos preços muito inferior ao preço da referência de 250 por quilograma anunciado pelas autoridades.
Para muitos produtores interpelados pela nossa reportagem, a situação da presente campanha de caju demonstra uma ausência total da autoridade de Estado que há muito tempo tem sido verificado. Perante olhar pálido dos agentes de inspecção do comercio a castanha de caju está a ser comprada pelos poucos comerciantes que estão no terreno nos preços de 150, 200 fracos cfa e existem informações a circular, que dão conta de que em algumas zonas do país, sobretudo nas zonas de difícil acesso se prática o preço até de 100 francos cfa por quilograma.
O preço de referência de 250 F.CFA anunciado pelo executivo não está a ser praticado no terreno, mas conforme os camponeses as autoridades já têm o conhecimento da situação real da campanha de caju, mesmo assim, não estão a reagir através dos agentes de inspeção que deveriam fazer os comerciantes cumprirem com o preço da referência.
“O Democrata” soube que a situação da campanha de caju, mas particularmente a falta do cumprimento da parte dos comerciantes com o preço da referência de 250 farncos cfa por quilograma da castanha de caju, foi objecto de uma reunião na semana passada numa das salas da reunião do ministério da Economia, onde estiveram presentes, Chefe de Governo Rui Duarte Barros, ministro do Comercio, Secretário de Estado de Comercio e o director-geral da mesma instituição.
Até ao fecho desta edição, não conseguimos apurar os resultados deste encontro que o primerio-ministro, manteve com os responsáveis do ministério do Comercio sobre a situação da campanha de caju.
“TROUXERAM-NOS ARROZ PODRE PARA TROCAR COM A CASTANHA”
A nossa reportagem interpelou um jovem camponês de uma vila que dista há alguns quilometros do sector de Nhacra (região de Oio), Rudi Tcham que confessou ao nosso jornal que a sua tabanca está a enfrentar muitas dificuldades neste momento, devido a falta de compradores de castanha de caju.
Assegurou que existem grande quantidade da castanha de caju nas mãos dos populares, mas mesmo assim, estão a enfrentar dificuldades que se relacionam com a falta de alimentação e de compradores dos seus produtos.
Rudi Tcham informou que não há nenhum posto de venda dos produtos alimentares ou outros produtos como se costuma verificar no período da campanha eleitoral. Acrescentou ainda que “levaram-lhes arroz podre para trocar com a castanha” através das viaturas que sempre passam por aquela zona.
Revelou que os comerciantes que passam nas suas aldeias vendem 50 quilograma de arroz por 75 quilograma da castanha de caju, porque sustentam que o arroz é mais carro em relação a castanha, porque um quilograma de arroz se vende 350 e até 375 francos cfa.
“Somos obrigados aceitar trocar a castanha a qualquer preços ou condições que impuserem, porque se não, corremos o risco de morrer de fome. A bolanha já não está bem e a nossa confiança é na castanha, mas infelizmente os comerciantes estão-no a matar”, lamentou o jovem produtor indigitdo pelos familiares para prestar a declaração.
“NÓS NÃO PASSAMOS DE ESCRAVOS DE COMERCIANTES”
Um homem de aparentemente 70 anos de idade da povoação de Dugal, mostrou a nossa reportagem a sua concernação em relação a situação da campanha de caju, que no entender do ancião, “não passam de escravos dos comerciantes, bem como de outras pessoas que beneficiam com a má comercialização da castanha”.
Aquele ancião que expressava no dialecto balanta e traduzido em crioulo através de um dos seus filhos de 16 anos de idade que estuda em Nhacra, explicou que levou muitos anos no trabalho de cultivo de cajueiros, com o intuito de poder um dia beneficiar da sua produção, mas acabou sempre por perder em detrimento dos comerciantes.
“Trabalhamos juntamente com os nossos filhos muitos anos a nossa plantação-horta, mas quem acaba por ganhar mais que o próprio camponês são os comerciantes. Trazem arroz e outros produtos alimentares, fazem a troca a preço que quiserem e levam a nossa castanha.
No fim da campanha acabam por ser ricos através das nossas castanhas que compram num preço muito baixo, mas vendem aos estrangeiros num preço muito elevado e o que os tornam ricos”, disse.
Para o ancião as autoridades deveriam estar ao lado dos produtores, mas não do contrário como se tem verificado. Acrescentou que o preço base de 250 francos cfa por quilograma anunciado pelas autoridades, não está a ser cumprido pelos comerciantes que estão a praticar um outro preço muito inferior daquilo que foi anunciado.
Assegurou ainda que as autoridades têm o conhecimento desta situação, mas não tomam nenhuma medida para defender a população. Revelou além do preço muito inferior que os comerciantes estão a comprar a castanha, também trazem – no arroz que não serve para o consumo humano.
“Se fossse no tempo em que as nossas bolanhas se encontravam em condições, não iamos estar nesta situação e nem se quer pensar neste arroz que nos trazem para trocar com as nossas castanhas”, lamentou.
“TENHO MEDO DE VER A MINHA CASTANHA APODRECER NO ARMAZEM”
A nossa reportagem falou igualmente com uma ex-escolta presidencial reformado que se encontra na povoação de Dugal. Fernando Yalá proprietário de uma plantação (horta) de 5 hectares, onde consegue tirar mais de 15 toneladas anualmente.
Fernando Yalá explicou que ouviram através das rádios que o preço base da castanha é de 250 francos cfa por quilograma, mas no terreno alguns comerciantes estão a fazer o contrário. Afirmou que no sector de Nhacra, mas sbretudo nas tabancas mais distantes da estrada principal se pratica preços muito inferiores.
Informou por um lado, que se verifica ausência total dos comerciantes no terreno, pelo qe de acordo com ele, não se compreende a razão da ausência dos comerciantes no terreno para a compra da castanha.
“É possível que a situação política do país, é que leva com que os comerciantes estejam com o medo de tirar o dinheiro para comprar a castanha. Talvez isso pode ser uma das razões que estão por de trás da ausência dos comerciantes no terrno. A população é que está a pagar com isso, porque tem grande quantidade de castanha, mas não tem o comprador”, disse.
Assegurou que anualmente consegue arrecadar mais de 15 toneladas da castanha de caju, pelo que salienta que está com medo de ver a sua castanha a danificar no armazém pela falta de um comprador. Por isso aproveitando a nossa conversa, lançou um apelo ao executivo de Transição, no sentido de salvar a presente campanha de caju para o bem da população.
EM QUINHAMEL PRATICA-SE O PREÇO DE 250 F.CFA
A nossa reportagem passou igualmente na região de Biombo e concretamente no sector de Quinhamel, onde abordamos os comerciantes (mauritâneanos) e a população, compradores e produtores da castanha de caju da situação da campanha de caju no sector de Quinhamel, ao que quer um como outra parte, responderam que ela é um pouco diferente de Nhacra, ali (Quinhamel) a castanha de caju se comprado a preço de 250 francos cfa, anunciado pelas autoridades como o preço da referência.
O posto de compra de castanha de caju visitado pela nossa reportagem na cidade de Quinhamel na sua maioria são dos cidadãos mauritâneanos, onde se regista uma movimentação das pessoas que entram e saem nas tabernas para vender a sua castanha no preço de 250 fracos cfa.
Numa conversa que mantivemos com os jovens que se encontram ao lado do mercado principal daquela cidade, explicaram que quase em todo o Quinhamel se prática o preço de 250 francos cfa e a própria comunidade se organizou para fiscalizar as pessoas que tentam comprar a castanha a preços inferiores daquilo que foi anunciado.
“O DINHEIRO NÃO QUER BARRULHO”
A jornal “o Democrata” ouviu ainda o Secretário-geral da Associação Nacional dos Consumidores, Bambo Sanhá para pronunciar sobre as denúncias de arroz impróprio para o consumo que se verifica no terreno para a troca com a castanha de caju por parte dos comerciantes.
Sanhá lembrou na sua declaração que a sociedadee civil tinha aconselhado o Presidente Nhamadjo para agendar as eleições no mês de Junho, ou seja, depois da campanha de caju, de formas a não permitir que nada comprometa a campanha de caju. Sustenta ainda que a campanha política para as eleições emsombrou a campanha de caju, facto que levou com que os operadores económicos estejam reticentes a tirar os seus dinheiros para a compra da castanha de caju.
“Acho que isso é uma das razões que pode estar na origem da ausência dos compradores da castanha de caju nas matas. Os operadores económicos conhecem o país, mas também já têm a experiência sobre a situação, por isso estão a espera do término do processo eleitoral para depois avançarem”, explicou.
Sanhá afirmou por outro lado que o “dinheiro não quer barrulho”, pelo que no seu entender é dificil os operadores económicos disponibilizarem os seus dinheiros neste momento da incerteza total em que se encontra o nosso país. Acrescentou ainda que nesta situação o país e a sua população são quem perde com a stuação da crise ou instabilidade política.
Sublinhou que o executivo de Transição mesmo com dois anos na liderança do país não conseguiu melhorar a situação da campanha de caju, tendo assegurado que o país corre o risco de repetir a má campanha de caju registada nos anos anteriores, devido a falta de trabalho de base que no seu entender deveria ser feito pelo executivo.
“Antes do início da campanha de caju deveria ser criado as condições necessárias da parte do executivo que permita os camponeses vender as suas cantanhas num bom preço. As comissões foram constituidas para ir explorar as experiências de outros países em termos da comercialização da castanha, onde se gastou muito dinheiro na viagem e o resultado de tudo isso é zero”.
O responsável da Associação dos Consumidores, disse ainda que não compreende o porquê de não posicionamento das autoridades face a situação de não cumprimento de preço de 250 francos cfa da parte de alguns comerciantes. Sustentou neste particular que o ministério do Comércio tem agentes de inspeção em toda parte do território nacional, mas continua – se a registar a imposição dos comerciantes que recusam cumprir com o preço de base para a compra da castanha.
Solicitado à pronunciar sobre a venda de produtos alimentares fora de prazo, sobretudo do arroz da parte de alguns comerciantes, Bambo Sanhá disse que a questão levantada é uma prática de muito tempo da parte de alguns comerciantes que segundo ele, aproveitam da fragilidade do executivo para fazer aquilo que querem.
“Acabamos de perceber que essa situação se repete todos os anos, portanto isso leva – nos a entender que existe a cumplicidade de certas pessoas que representam o Governo neste aspecto. Lembro-me que nos anos anteriores a população foi vítima de consumo de arroz impróprio para o consumo humano, mas que acabou por provocar diarreia da parte das populações e por um pouco ia haver um choque entre a populações e os comerciantes donos destes produtos”, vincou para de seguida, recordar que já fizeram a denúncia desta situação, mas o executivo nem se quer chegou a tomar nenhumas medidas.
Por: Assana Sambú
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