sexta-feira, 25 de maio de 2018

«OPINIÃO» "GUINÉ-BISSAU É OU NÃO A COLÓNIA DAS COLÓNIAS?" - LESMES MONTEIRO

Em tempos disse que a Guiné-Bissau é único país do mundo que não tem interesses estratégicos além da sua fronteira. 

Quando se fala hoje em dia da expansão económica, domínio dos mercados internacionais, da queda dos regimes em vários países do mundo, da interferência externa na política interna de vários Estados, ambas potencializadas em grande parte por uma política externa forte, compreende-se facilmente que nesta temática, a Guiné-Bissau é uma nulidade. 

Entre vários fatores que alimentam esta teoria destaca-se por um lado as fragilidades estruturais decorrentes da crónica instabilidade política e, por outro lado, a falta de preparação, de patriotismo e de visão estratégica dos diferentes políticos que ocuparam lugares cimeiros na Guiné-Bissau. 

Já paramos para pensar o quanto a nossa crise nos tem empobrecido e em paralelo enriquecido os nossos vizinhos. 

Existem elementos que apontam para existência de uma mão invisível (main invisible) dos países da sub-região, principalmente do Senegal em diferentes crises que tem afetado a Guiné-Bissau. Do golpe de Estado de 14 de Novembro de 1980 ao golpe de 12 de abril de 2012; Do Presidente Nino Vieira ao Jomav. São vários elementos que vou trazer à tona para juntos refletirmos. 

- Depois de Golpe de 1980 foram desmanteladas todas as fábricas que haviam no país: Compota de Bolama; Lite Blufo; Fábrica de montagem de carro Ngayhe; Fábrica de Comeré… esses factos favoreceram o controlo do nosso mercado pela sub-região, principalmente depois da nossa entrada na UEMOA. Hoje consumimos em grande parte produtos provenientes do Senegal, porque não produzimos quase NADA em termos industriais; 

- Quantos estudantes guineenses estão no Senegal a titulo privado? Mensalmente qual é o valor enviado pelos pais para custear os estudos dos filhos? 

- O que esteve na origem do Golpe de Estado de 12 de Abril de 2012? Que país da sub-região poderá perder receita consideravelmente se a construção do porto das águas profundas de Buba tornasse uma realidade? Já ouviste falar do apoio do Senegal a presidência da Guiné-Bissau no período de transição com valores avultados em dinheiro? 

- Questão da exploração da Zona Marítima Comum com Senegal, como foi negociado o acordo inicial do famoso 15% para Guiné-Bissau e 85% para Senegal (hoje é de 20% e 80%) em matéria do petróleo? 

- O envio das tropas Senegalesas para Bissau na Guerra de 07 de Junho era para proteger quais interesses? O Por quê da pilhagem e destruição da Biblioteca nacional por parte das tropas Senegalesas? 

- Sobre as telecomunicações? Quem não está interessado na viabilidade da Guinetelecom? Que país tem uma companhia de telecomunicação na Guiné-Bissau e através dela controla todas as nossas comunicações? Que empresa de telecomunicação na Guiné-Bissau tem contrato de prestação de serviço com outras 05 empresas e todas elas senegalesas? O consórcio que vai gerir o Cabo Submarino, integrado por duas operadoras estrangeiras que detêm 51%, enquanto o Estado guineense contém os restantes 49%, reflete a nossa propalada SOBERANIA? 

- Quantas instituições na Guiné-Bissau (Bancos, Organizações internacionais, empresas privadas) tem estrangeiros como diretores? 

- Sabias que em todas as eleições na Guiné-Bissau o Senegal tem sempre o seu candidato? 

- Já parou para pensar onde saiu a decisão da escolha do antigo PM Umaro Sissoco? 

- Por que é que Senegal quer a exploração do porto de Bissau? 

- Por que é que o nosso atual Presidente viaja sempre para Dakar antes de tomar decisões importantes sobre o destino do país? 

Posso enumerar vários elementos, mas todos eles apontam para uma reflexão profunda sobre a nossa relação bilateral. Os dados apontam para uma realidade indiscutível e vergonhosa: SOMOS COLÓNIA DAS COLÓNIAS. Isto sem falar da recente crise, da fragilidade e descredibilização dos atores políticos nacionais, do reforço da posição da CEDEAO e consequentemente dos países da sub-região. O que nos valeu a nossa luta de libertação nacional? 

Perante esta realidade qual poderia ser a saída? 

Necessidade urgente da estabilização do país e reposicionamento da pirâmide social, através da valorização da competência dos melhores filhos desta terra. 

Com isso sugiro a criação de GEPE-GB GABINETE ESTRATÉGICO PARA A POLITICA EXTERNA DA GUINÉ-BISSAU. Um TASK FORCE apartidária, longe das ideologias e querelas partidárias. Este gabinete será integrado por guineenses com experiencias comprovadas em diferentes domínios. Será uma força tarefa de massas pensantes que terá uma coordenação e trabalhará com base num plano de ação previamente definido. O objetivo, entre outros, é de lançar as bases para o fortalecimento da política externa da Guiné-Bissau num horizonte temporal de 10 anos, repensar a nossa intervenção comunitária (vantagens/ desvantagens/riscos/ameaças). 

Os membros não precisam estar todos no mesmo espaço físico e nem precisam abdicar dos seus afazeres profissionais. Só precisam estar comprometidos e ligados a uma estrutura coordenada para que possam, num período de 06 meses ou um ano, repensar e redirecionar a política externa e os interesses estratégicos da Guiné-Bissau em vários domínios como comércio, petróleo, comunicações, industrialização, escolha de parceiros externos, posicionamento na CEDEAO, agricultura, portos, etc.). 

Contudo os nomes são sempre discutíveis, mas entre vários guineenses que podiam integrar este gabinete sugiro os seguintes nomes: 

1. Hilia Barber – Ex Ministra e Ex Embaixadora da Guine Bissau em Israel e França. 

2. Tcherno Djalo – Ex Ministro, Politólogo, Professor Universitário. 

3. Filomena Tipote – Ministra varias vezes e atual Embaixadora da Guiné-Bissau em França. 

4. Carlos Lopes – Economista, ex alto funcionário da ONU, Professor universitário, Especialista de desenvolvimento estratégico. 

5. São Cardoso – Ex funcionária do PNUD e atual assessora do PM para informação e comunicação. 

6. João Soares da Gama – Diplomata e Ex Embaixador da Guiné-Bissau nas Nações Unidas. 

7. Fernanda Tavares (Danda) – Formada em Línguas, foi Alta funcionária do secretariado da ONU em Nova Iorque durante vários anos. 

8. Pedro Rosa Co – Jurista principal no Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos. 

9. Nelvina Barreto – Ex funcionária Internacional do Banco Africano do Desenvolvimento, atualmente consultora sénior de monitoria e avaliação de projetos de FAO. 

10. Júlio Balde – Engenheiro e Ex Secretario da Agencia de Gestão e Cooperação (Guiné-Bissau Senegal). 

11. Artimisa Cande Monteiro – Professora Universitária no Brasil. 

12. Octávio Lopes – Advogado e Mestre em Estratégia Internacional e Diplomacia. 

13. Magda Nely Robalo – Medica de Saúde Pública, Diretora do Departamento de Luta contra as Doenças Transmissíveis, OMS, Região Africana. 

14. António Isaac Monteiro – Ex Ministro e Representante de FAO no Togo. 

Erguemo-nos pelo nosso país. Guiné-Bissau em primeiro lugar. 

Por, Lesmes Mutna Freire Monteiro


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