O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, disse hoje num discurso ao país que não tenciona dissolver o Parlamento mas não esclareceu se vai ou não demitir Governo.
Num discurso de cerca de 30 minutos, José Mário Vaz teceu, de forma implícita, duras criticas ao Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder) acusando-o de ter atitudes de bloqueio, visando levá-lo a dissolver o Parlamento e, consequentemente, convocar eleições antecipadas.
"Reitero mais uma vez que não tenciono dissolver a Assembleia Nacional Popular (ANP) e consequentemente convocar eleições legislativas antecipadas", disse o chefe de Estado guineense para quem a resolução crise política no país passa pela negociação.
O PAIGC sugeriu que a única forma de levar a Guiné-Bissau a sair da crise política em que se encontra é através da convocação de novas eleições que seriam gerais, legislativas e presidenciais.
MENSAGEM DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
- Excelência Senhor Presidente da Assembleia Nacional Popular,
Num discurso de cerca de 30 minutos, José Mário Vaz teceu, de forma implícita, duras criticas ao Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder) acusando-o de ter atitudes de bloqueio, visando levá-lo a dissolver o Parlamento e, consequentemente, convocar eleições antecipadas.
"Reitero mais uma vez que não tenciono dissolver a Assembleia Nacional Popular (ANP) e consequentemente convocar eleições legislativas antecipadas", disse o chefe de Estado guineense para quem a resolução crise política no país passa pela negociação.
O PAIGC sugeriu que a única forma de levar a Guiné-Bissau a sair da crise política em que se encontra é através da convocação de novas eleições que seriam gerais, legislativas e presidenciais.
MENSAGEM DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
- Excelência Senhor Presidente da Assembleia Nacional Popular,
- Excelentíssimo Senhor Primeiro-Ministro,
- Venerando Juiz Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e do Conselho Superior da Magistratura Judicial,
- Excelências, Ex-Presidentes da República, da Assembleia Nacional Popular e Primeiros-Ministros,
- Digníssimos Deputados da Nação,
- Senhoras e Senhores Membros do Governo,
-Senhores Ministro Director do Gabinete, Chefe da Casa Civil, Conselheiros e Assessores do Presidente da República,
- Digníssimo Senhor Procurador-Geral da República,
- Senhor Presidente do Tribunal de Contas,
- Senhor Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas e demais Chefias Militares,
- Senhores Embaixadores e Chefes de Missões Diplomáticas e Consulares,
- Senhores Representantes de Organismos e Organizações Internacionais Acreditadas na Guiné-Bissau,
- Senhores Representantes do Poder Tradicional, Entidades Religiosas e Organizações da Sociedade Civil,
- Caros Convidados,
- Minhas Senhoras e Meus Senhores
Permitam-me,
antes de mais, que enderece os meus cumprimentos ao Senhor Eng.
Cipriano Cassamá, Presidente da Assembleia Nacional Popular.
Aproveito
ainda, para saudar e apresentar iguais cumprimentos, aos Líderes das
Bancadas Parlamentares, cumprimentos esses extensivos aos demais
Deputados da Nação, em representação legítima e plural da vontade
popular expressa através das últimas eleições legislativas.
- Senhoras e Senhores Deputados da Nação,
Que me
seja permitido enquadrar o contexto e as razões subjacentes a esta
importante sessão parlamentar, para que tenhamos, todos, o mesmo nível
de informação e, consequentemente, melhor percepção sobre o motivo da
minha presença aqui na Assembleia Nacional Popular.
Nos
termos da alínea d) do artigo 68.º da Constituição da República, compete
ao Presidente da República, passo a citar “Convocar extraordinariamente
a Assembleia Nacional Popular sempre que razões imperiosas de interesse
público o justifiquem”.
Entendi
existir um imperioso e inegável interesse público em ver reunido este
importante órgão de soberania para debater o Estado da Nação,
aproveitando este evento para dirigir uma mensagem à Assembleia Nacional
Popular e à Nação guineense.
Nessa
conformidade, agendei, no passado dia 8 do corrente mês de Abril, uma
audiência de trabalho com o Senhor Presidente da ANP a fim de, entre
outros, lhe transmitir as razões, a data, bem como a matéria desta
convocação. Ao encontro compareceu o Primeiro Vice-presidente da ANP,
que me comunicou a ausência do titular do órgão, tendo a audiência
corrido em ambiente de elevada cordialidade institucional.
Acto
contínuo, o propósito da audiência foi formalizado por nota dirigida e
entregue na Assembleia Nacional Popular no dia 8 de Abril, marcando a
data da sessão para quinta-feira dia 14, ou seja, com 6 dias de
antecedência.
Convém,
a este propósito, ainda esclarecer que, embora a sessão tenha sido
convocada com antecedência superior aos 5 dias requeridos para as
sessões ordinárias, esta sessão por ter natureza extraordinária, não
carecia dessa antecedência, mas ainda assim, convoquei-a com 6 dias de
antecedência.
Posteriormente,
no dia 13 de Abril, entendi, por razões imperiosas de interesse
público, dar anuência ao adiamento da sessão proposto pela Assembleia
Nacional Popular para o dia 19 de Abril do corrente, para que a mesma
possa, entre outros, contar com a presença de todas as instâncias
requeridas. Com essa anuência, pretendi, com mais um esforço,
contribuir, quer pessoal, quer institucional, na busca de soluções
conducentes a uma governação sustentável.
- Senhoras e Senhores Deputados da Nação,
Na
verdade, a convocação extraordinária da Assembleia Nacional Popular não
se deve confundir nem se resumir a um mero poder de iniciativa, coberto
pela fórmula, “solicitar” ou “requerer” a convocação. Trata-se de um
direito constitucional potestativo, um poder efectivo, uma atribuição
própria do Chefe de Estado, ou seja, convocar!
A esse
respeito, veja-se o que dizem os manuais de direito constitucional e as
constituições anotadas, nomeadamente a Portuguesa da qual passo a
citar, a título de curiosidade exemplificativa, algumas breves
passagens:
“A
convocação extraordinária pelo Presidente da República (...) constitui a
única excepção ao princípio de autodeterminação da Assembleia da
República quanto ao seu próprio funcionamento. Trata-se de um preceito
de grande relevância sob o ponto de vista da caracterização do sistema
de governo, pois, sobretudo quando articulado com o poder de dissolução,
confere ao Presidente da República um significativo poder de
intervenção no funcionamento da Assembleia da República, comprimindo
assim a autonomia constitucional desta (...) ”.
Noutra
passagem referente à ordem de trabalhos, diz o seguinte: “Caso especial
é (...) quando a Assembleia da República é convocada pelo Presidente da
República, pois aí a ordem de trabalhos é fixada pelo Presidente da
República – devendo sê-lo no próprio decreto de convocação da Assembleia
da República – e durante esse tempo a Assembleia da República não deve
poder ocupar-se de qualquer outro assunto. Trata-se, pois, do único caso
em que a ordem de trabalhos é fixada por uma entidade exterior à
Assembleia da República”.
Para
finalizar as citações, dizem os entendidos que “Nem sequer está excluída
a hipótese de uma convocação extraordinária, quando a Assembleia da
República se encontre em funcionamento efectivo, pois o que caracteriza
esta figura não é apenas o acto de convocação externa mas também e
sobretudo o facto de a Assembleia da República ser convocada para tratar
de um assunto específico determinado pelo Presidente da República”.
Por
fim, “Desnecessário é acentuar que se o Presidente da República pode
convocar a Assembleia da República e determinar o assunto sobre que ela
deve debruçar-se, já não pode, de modo algum, indicar-lhe o sentido em
que deve orientar a decisão que ela houver que tomar” fim de citação.
Vide Constituição da República Portuguesa anotada volume II 4ª edição,
páginas 379 e seguintes, Coimbra Editora, 2014.
- Senhoras e Senhores Deputados da Nação,
Foi
imbuído de espírito de concertação institucional, que levou a que, ao
invés de lançar mão directamente ao Decreto Presidencial, optei por
privilegiar a articulação entre órgãos de soberania para a realização
deste encontro, crente que nesta fase sensível da grave crise política
que o país atravessa, sem prejuízo das formalidades essenciais,
devíamos, todos nós, valorizar mais a substância das questões de
interesse nacional e concentrar os nossos esforços no que é essencial,
ou seja, encontrar, na base do diálogo político, formulas de resolução
das nossas diferenças e problemas.
- Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Escolhi
vir pessoalmente, hoje, à Assembleia Nacional Popular para proferir
esta mensagem, porque, para além de ser esta a casa da Democracia e
representativa de todos os cidadãos guineenses, a ANP é também a sede
própria para decisão sobre as questões fundamentais da nossa vida
política e dos assuntos mais marcantes da vida nacional. Fórum por
excelência da livre expressão e do contraditório, onde os Deputados da
Nação, legitimados pelo voto popular, expõem e discutem ideias e
procuram as melhores e mais consensuais soluções, no intuito de assim
contribuir para a concretização dos objectivos fundamentais da nação.
Ademais,
foi também perante esta Augusta Assembleia que, a 23 de Julho de 2014,
jurei “por minha honra defender a Constituição e as leis, a
independência e a unidade nacionais, dedicar a minha inteligência e as
minhas energias ao serviço do povo da Guiné-Bissau, cumprindo com total
fidelidade os deveres da alta função para que fui eleito”.
Assumi
este compromisso sagrado com o Povo Guineense e com a Guiné-Bissau de
Amílcar Cabral, de “Nino” Vieira e demais Combatentes da Liberdade da
Pátria.
Com
esta alusão ao meu juramento inaugural, quero relembrar que durante a
minha presidência, não há e nem haverá alternativa a esse juramento
sagrado.
- Senhoras e Senhores Deputados da Nação,
- Caros Compatriotas,
Por
ocasião do Novo Ano, entendi que era oportuno chamar a atenção aos
Partidos Políticos representados na Assembleia Nacional Popular, em
particular, às suas lideranças, que era imperioso que fossem «capazes de
promover a cultura de diálogo e a coesão interna, condições sine qua
non para gerar entendimentos que possam servir de base a consensos
nacionais alargados».
Na
ocasião, também realcei que apenas com base numa solução política de
compromissos, que salvaguarde o respeito pela Constituição e demais leis
da República, podiam ser erguidos consensos políticos duradoiros que
promovam e garantam os pressupostos da tão almejada estabilidade
governativa.
Por
razões que não importa agora referenciar, estas e outras preocupações
manifestadas por diferentes quadrantes da nossa sociedade, não mereceram
devido acolhimento junto dos principais actores parlamentares, o que
levou o nosso país, a mergulhar numa grave crise política, com epicentro
aqui na Assembleia Nacional Popular.
Os
efeitos desta crise têm vindo a perturbar o normal funcionamento do
aparelho do Estado e ameaça pôr em causa algumas das nossas conquistas
democráticas, tais como a liberdade de pensamento, de expressão e de
voto.
Existe
um verdadeiro mal-estar no país e um desânimo quase que nacional. Com
muitos problemas à mistura, por exemplo, greve na educação, na saúde,
paralisação na administração pública, desemprego dos jovens, etc.
Esta
crise também gerou ansiedades e suscitou interrogações quanto à eficácia
do nosso sistema político. Em particular, quanto à capacidade das
lideranças político-partidárias em encontrar soluções para as
divergências internas e consequentemente para as crises institucionais
delas decorrentes.
Na
presença desta crise política, eram diversas as opções possíveis, tendo
surgido várias vozes apelando a uma decisão imediata do Chefe de Estado
para pôr cobro à situação, usando para tanto os seus poderes
constitucionais.
- Minhas Senhoras e Meus Senhores,
É
público o empenho do Presidente da República na promoção de um aturado,
mas nem sempre fácil, processo de diálogo político para a busca de uma
solução negociada do conflito que se instalou no Parlamento.
A
pedido, por escrito, do Presidente da Assembleia Nacional Popular,
corroborado pelas organizações da sociedade civil, e julgando
interpretar bem aquilo que eram as expectativas nacionais, decidi
intervir para ajudar a mudar o rumo dos acontecimentos.
Para
tanto e a fim de melhor ajuizar a questão da perda de mandato de
Deputados por expulsão do partido em cujas listas foram eleitos,
solicitei pareceres jurídicos de dois dos mais conceituados Professores
de Direito do mundo lusófono e profundos conhecedores da nossa realidade
jurídica.
Optei
por Juristas de conhecido e reconhecido mérito, cujas autoridades em
matéria constitucional estão acima de qualquer suspeita, não são parte
da luta política interna, não têm interesse, é bom referi-lo, não têm
interesse no resultado dessa luta política, o que lhes dá, mais do que a
qualquer um de nós, maior distanciamento e objectividade para analisar
as disposições legais em pretensa controvérsia.
Na
posse dos pareceres e profundamente convencido que “mais vale um mau
acordo do que uma boa sentença”, fiz uso da minha magistratura de
influência, promovi e empenhei-me pessoalmente num amplo processo de
diálogo com as forças vivas da nação (organizações da sociedade civil,
partidos políticos com e sem assento parlamentar e representantes dos
nossos cinco parceiros internacionais permanentes (Nações Unidas, União
Europeia, União Africana, CEDEAO e CPLP), com o objectivo de identificar
e delimitar as causas do bloqueio na ANP e buscar uma solução de
compromisso entre as partes envolvidas.
Admito
que os encontros de consulta podiam ter sido conduzidos em moldes
diferentes, mas ainda assim, como resultado dos mesmos e fruto da
harmonização das diferentes contribuições e propostas apresentadas ao
longo dos diversos encontros (bilaterais e conjuntos) com as partes, foi
elaborado e remetido a todos os participantes um draft de projecto de
«Acordo Político de Incidência Parlamentar para a Estabilidade
Governativa». Um documento modesto, despretensioso, apenas para servir
de base de trabalho. Repito, um ensaio inacabado, porquanto aberto a
receber e acomodar as diferentes abordagens que a solução do problema
prevalecente na ANP pudesse merecer.
No
essencial, esse documento apelava à adopção do princípio de retorno das
partes ao status quo ante – ora, justamente, a situação em que nos
encontramos hoje. O projecto de Acordo também propunha que o Senhor
Primeiro-ministro fosse encorajado a iniciar diligências tendentes a
estabelecer compromissos que reflita maior inclusividade intra e
extra-partidária, susceptível de lhe proporcionar confiança política da
maioria dos Deputados da Nação, condição constitucional da sua
subsistência.
Como
tenho sustentado, estou convencido que, no quadro da actual configuração
e composição parlamentar resultante da vontade popular expressa nas
últimas eleições legislativas, apenas com base numa solução política de
compromisso, que salvaguarde o respeito pela Constituição e demais leis
da República, podem ser erguidos consensos políticos duradoiros que
promovam e garantam a estabilidade político-governativa até ao fim da
presente legislatura.
Infelizmente,
não fui acompanhado nessa perspectiva por algumas das partes
desavindas. Como todos tiveram a oportunidade de testemunhar, vários
motivos foram evocados para se furtar ao diálogo e ao compromisso.
Numa
atitude contrária à nossa boa tradição africana, alguns chegaram ao
ponto extremo de, no decurso do encontro e por mera questão de forma e
formato, abandonar mesmo a mesa das negociações com irmãos guineenses,
na presença do Chefe do Estado e representantes da comunidade nacional e
internacional, simplesmente, porque têm preferência por uma solução
judicial.
- Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Os
Estados de Direito democráticos enceram diferentes sistemas e formas de
governo, com princípios fundadores e regras próprias de funcionamento
para instituições que os compõem.
O
nosso sistema de governo, caracterizado de semi-presidencialista, para
além das dificuldades inerentes às democracias representativas, vem
acrescido de um grau de sofisticação que nem sempre o torna perceptível,
dificultando a sua concretização prática.
É um
sistema exigente que impõe uma articulação permanente entre órgãos
(independentes) de soberania, cada um com funções e competências
próprias, mas convergentes na unidade do Estado que a vontade popular
confiou-me a mim representar.
Ao
Executivo cabe governar, aos Tribunais é confiada a tarefa de
interpretar e aplicar as leis, mas não de fazê-las, à Assembleia
Nacional Popular compete fazer as Leis e não interpretá-las e ao
Presidente cabe servir de árbitro moderador e bombeiro do sistema.
Um
Estado apenas é de Direito Democrático, quando todos estivermos de
acordo para afirmar e fazer valer que, a par das leis, o cumprimento das
decisões judiciais é a melhor maneira de promover uma Justiça forte e
independente e é também um acto de dignidade. Pois, quem acredita e
espera algo da Justiça, não pode furtar-se ao imediato cumprimento das
suas decisões porque desfavoráveis. O contrário seria bem fácil e não só
para alguns.
Como
se devem recordar, e não é demais referi-lo tendo em conta o seu valor
pedagógico, quando o Supremo Tribunal de Justiça entendeu, no seu
acórdão, considerar inconstitucional o meu Decreto Presidencial que
nomeou o Primeiro-Ministro, limitei-me a acatar e cumprir a decisão.
Ao
proceder dessa forma, não queria isso significar que que o Acórdão em
questão fosse isento ou imune a comentários e/ou observação crítica.
Contudo, optei por dar um sinal inequívoco de sujeição de todos à Lei e à
decisão dos órgãos de justiça, porquanto as mesmas terem força
obrigatória geral.
Este
padrão de conduta institucional é aplicável a todas as entidades
públicas ou privadas, sem excepção. Quando um assunto é confiado aos
Tribunais e este se pronuncia, mormente em última instância, não há
margem para aceitação parcial, condicionada ou sob reserva.
Perante
a decisão dos Tribunais, independentemente da jurisdição ou instância,
nada mais há a fazer a não ser acatar, gostemos ou não da decisão.
O tribunal decidiu, está decidido. Não pode haver “mas” nem “meio mas”. As decisões judiciais são para cumprir, ponto final.
- Mulheres e Homens da Nossa Terra,
Esta crise evitável, está a durar mais do que aquilo que se podia esperar.
A crise ganhou contornos censuráveis, fruto de agendas políticas preconcebidas, com cronologias sequencialmente bem delineadas.
Os
objectivos não podiam ser mais claros. Ou seja, enquanto não estiverem
reunidas as garantias para fazer vingar a perspectiva de alguns,
bloquear o normal e regular funcionamento do Plenário da ANP,
comprometer todos os esforços tendentes à busca de soluções para a saída
da crise e, assim, forçar a dissolução da Assembleia Nacional Popular e
consequente convocação de eleições legislativas antecipadas – numa
clara lógica de “ou é tudo para mim ou é nada para ninguém”.
Mas, na vida, como também na política, tudo tem o seu próprio tempo.
Se,
por um lado, é verdade que antes de decidir um Chefe de Estado tem que
ponderar, avaliar e reavaliar, para que dos seus actos não resultem
situações indesejáveis e incontroláveis.
Por
outro, julgo acertado partilhar com os Digníssimos Deputados da Nação,
bem como com à Nação guineense, algumas inquietações enquanto Presidente
da República, garante da Constituição e do regular funcionamento das
nossas instituições da República.
São
várias as questões que gostaria de colocar à Vossa ponderação, no
sentido de, em conjunto, encontrarmos as melhores soluções, com base no
consenso nacional:
1.º Por
quanto tempo mais devemos assistir – impávidos e serenos – o
desmoronamento da autoridade do Estado ou a submissão de alguns dos seus
órgãos à interesses particulares ou de grupos, numa tentativa de criar
anarquia e fazer vergar instituições do Estado?
2.º É
legítimo que o actual Executivo, empossado há mais de 180 dias, mas que
até ao presente momento ainda não entrou em plenitude de funções,
governe à margem do parlamento, continue a gerir o nosso bem comum e a
engajar o nosso Estado, sem o Programa de Governo e nem o Orçamento
Geral do Estado, ambos, aprovados na ANP?
3.º É
compreensível que a Plenária da Assembleia Nacional Popular, expressão
máxima da vontade popular, ver impossibilitado o seu regular e normal
funcionamento, cujas sessões, mesmo que ordinárias, têm sido adiadas
sine die?
4.º O povo escolheu, o Supremo Tribunal de Justiça decidiu em relação aos 15 Deputados da ANP, é correcto desobedecermos?
- Senhoras e Senhores Deputados da Nação,
- Caros Compatriotas,
É
importante que as partes compreendam e façam uma leitura actualista das
decisões judiciais, nomeadamente as que versaram sobre a alegada perda
de mandato dos Deputados da Nação, e avaliem o seu reflexo na dinâmica
política da configuração parlamentar, tendo como pano de fundo a matriz
parlamentar do nosso sistema.
Esta
crise parlamentar evidencia a fragilidade das nossas instituições
político-partidárias e a necessidade de se incrementar o diálogo
político com vista à procura de largos consensos e compromissos nas
questões de interesse nacional.
Nestas
situações, a responsabilidade de iniciativa na busca de uma solução
governativa compatível com a realidade parlamentar, cabe, em primeira
linha, a quem tem a maioria formal, pelo que recomendo vivamente uma
atitude proactiva, pois a governação do país não pode ficar dependente
de uma única narrativa política, mesmo quando a mesma se revela incapaz
de gerar consensos maioritários.
Caso
não haja disponibilidade política, séria e urgente, por parte do partido
formalmente maioritário, para uma “solução abrangente” poderemos ser
forçados, dentro do quadro parlamentar, a considerar outras opções
governativas que assegurem estabilidade até ao fim da legislatura, uma
vez que não é mais sustentável a continuação desta grave crise política e
o seu impacto negativo no normal e regular funcionamento das
instituições da República.
É
urgente que o Executivo assuma a plenitude das suas funções e que deixe
de estar limitado à gestão corrente dos assuntos do Estado e se liberte
das restrições orçamentais de gerir o país em duodécimos.
É
imprescindível que os parceiros sociais (associações sindicais e
patronais) tenham um interlocutor credível com o qual possam estabelecer
compromissos que permitam estancar a proliferação de greves, prevenindo
assim o risco que as mesmas constituem à paz e à coesão social.
É
mister o país ter um Governo que não se apresente frágil e incapaz de
transmitir sinais duradoiros de confiança aos nossos parceiros de
desenvolvimento. Temos que conseguir continuar a merecer a confiança da
comunidade internacional e a honrar os compromissos internacionais do
Governo da Guiné-Bissau.
Estamos
profundamente convictos que a comunidade internacional está disponível a
relançar o quadro de cooperação e assistência às autoridades legítimas e
não condiciona o seu apoio ao Povo guineense a pessoas e lugares como
muitos tentam fazer querer.
- Mulheres e Homens Guineenses,
Num
Estado que se pretende de Direito democrático deixa de ser exigível
tolerar o estado de degradação em que as coisas chegaram, sob pena da
anarquia total.
É chegado o momento de cada um assumir as suas responsabilidades!
Ou
seja, cada um deve tomar a decisão que lhe cabe tomar e apenas na medida
das suas competências. Como bem ficou demonstrado pelo Supremo Tribunal
de Justiça na parte jurídica da crise, apenas a decisão competente tem a
virtualidade de desbloquear a presente situação de impasse
político-parlamentar.
É chegado o momento das instituições funcionarem na plenitude das suas responsabilidades constitucionais!
Pelo
que reitero mais uma vez que, não tenciono dissolver a Assembleia
Nacional Popular e, consequentemente, convocar eleições legislativas
antecipadas. Mesmo que não houvesse outras prioridades, as eleições
legislativas visam, justamente, escolher Deputados para que Vossas
Excelência possam, durante o período da legislatura, assumir e estar a
altura das vossas responsabilidades.
Desta
vez, a resolução em concreto dos aspectos políticos desta crise terá de
ser encontrada dentro do actual quadro e dinâmica político-parlamentar.
Entendo que, pela primeira vez, não iremos necessitar de fazer recurso
às armas para a resolução dos problemas que criamos. Seremos nós mesmos,
guineenses, através das nossas próprias instituições, a fazer o nosso
trabalho e encontrar as respectivas soluções.
Os
ensinamentos colhidos exigem de todos garantias de uma governação
estável, coerente e credível. As questões em discussão, sendo de
natureza eminentemente política, devem encontrar a sua melhor e cabal
resolução apenas na arena política.
A mim,
enquanto Presidente da República, cabe-me a responsabilidade última de
garantir a preservação da dignidade do Estado, bem como o normal
funcionamento das instituições da República.
Porque
entendo que, em democracia parlamentar, o Governo é expressão e
emanação da vontade da maioria do povo representada pela legitimidade
dos Deputados da Nação, decidi convocar com carácter de urgência esta
reunião da Assembleia Nacional Popular, para um debate sobre o estado da
Nação, bem como para os Digníssimos Deputados da Nação, porquanto
legítimos representantes da vontade popular, procurarem, no quadro da
actual dinâmica parlamentar, encontrar uma solução política negociada
que garanta os propósitos iniciais da estabilidade governativa até ao
fim da presente legislatura.
Resolvida
a questão no foro judicial e inviabilizada que foi a procura de
entendimento extra-parlamentar sob o meu alto patrocínio, através da
recusa por uma das partes do projecto de acordo apresentado às partes em
conflito, resta apenas as Senhoras e Senhores Digníssimos Deputados
assumirem cabalmente as vossas responsabilidades na sessão
extraordinária da ANP por mim convocada.
Enquanto
Chefe do Estado, resolvi accionar este comando constitucional, como
forma de permitir que todos os Deputados da Nação, em total liberdade,
exerçam o papel que lhes foi soberanamente confiado pelo Povo guineense,
a fim de, na base do diálogo, se encontrar uma solução política
consensual para a saída desta crise política parlamentar que tem
impedido o seu normal funcionamento.
Entendi
vir aqui, hoje, perante todos vós, com o testemunho da comunidade
internacional, da sociedade civil e demais convidados, para lançar uma
veemente exortação a todos e cada um dos Digníssimos Deputados da Nação
presentes nesta Sessão Especial, de que: é imperioso que a Assembleia
Nacional Popular retome mais rapidamente o seu normal funcionamento.
Insisto, resolvido o aspecto jurídico da crise, entendo que não há
nenhuma razão ponderosa que possa obstar a que, em sede política
própria, sejam encontrados os entendimentos políticos necessários e
testadas todas as soluções políticas.
Estou
certo que, os Digníssimos Deputados da Nação, reunidos em sessão
plenária, saberão dar os passos necessários em busca de uma solução mais
consentânea à vontade real ou presumível do nosso povo e àquilo que são
os superiores interesses da Nação.
Pela
minha parte, continuarei a olhar atentamente sobre o que se passa na
vida pública guineense e exercer o meu dever, sempre que necessário, e
de propor medidas correctivas ou alternativas ao que vai acontecendo,
tendo como objectivo principal o bem da Guiné-Bissau, o meu país, o seu
país, o nosso país.
- Minhas Senhoras e Meus Senhores,
- Digníssimos Deputados da Nação,
Senhor Presidente da Assembleia Nacional Popular
Chegados a este ponto, são duas as opções possíveis:
A
primeira: criar condições e permitir que os órgãos legítimos, em
particular, a Assembleia Nacional Popular, funcione regularmente e no
seu seio estabelecer compromissos e procurar as soluções que se
considere mais adequada para a saída da crise.
ou
A
segunda: promover e facilitar a criação da desordem parlamentar e, acto
contínuo, tentar alastrar o caos às demais instituições do Estado para
que possa haver “eleições gerais antecipadas”.
Enquanto
Presidente da República, Chefe do Estado e garante do regular
funcionamento das instituições da República, vou assumir na plenitude as
minhas responsabilidades constitucionais e tirar todas as consequências
políticas de qualquer uma das opções que for feita.
A
fórmula “aos meus amigos tudo, aos meus inimigos nada e aos outros que
se aplique a Lei” não permite a coesão interna dos partidos, nem tem
servido os propósitos de estabilidade político-governativa.
O
tempo que falta para o fim da legislatura é pouco para cumprirmos todos
os compromissos assumidos com o nosso povo, mas é suficiente para lhe
devolver a esperança de que é possível fazermos melhor.
- Caros Compatriotas,
- Mulheres e Homens Guineenses,
Do
passado ocupa-se a história, a nossa responsabilidade perante o presente
é construir o futuro. Por isso, devemos esquecer o que ficou para traz e
aproveitemos esta oportunidade para construir pontes para o futuro.
Este não é o momento de celebrar vitórias nem de afogar mágoas. O momento é de compromissos e de responsabilidade colectiva.
É para este desafio maior que convoquei esta reunião extraordinária da Assembleia Nacional Popular.
O povo
guineense, aqui representado através dos Digníssimos Deputados da
Nação, demonstrou em situações difíceis no passado estar à altura dos
desafios que se lhe impunha.
Entendo
que é a vez dos Digníssimos Deputados da Nação, porquanto legítimos
representantes dos interesses do povo guineense na Assembleia Nacional
Popular, darem mostras da maturidade política que lhes é reconhecida e
oferecerem ao povo que representam uma solução para esta inusitada crise
política.
Acredito
que também saberemos vencer o complexo desafio do presente, um desafio
que se coloca a todos perante um grande exercício de democracia.
Temos plena consciência dos desafios que despontam no horizonte.
Em conclusão, juntos e unidos, estou convencido que podemos e vamos mudar a Guiné-Bissau, a bem do nosso Povo.
Que Deus abençoe a Guiné-Bissau e aos guineenses!
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