O antigo secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan apelou hoje aos líderes africanos para que abandonem os cargos no final dos mandatos e para que evitem excluir a oposição nas eleições, contribuindo para diminuir os conflitos no continente.
O diplomata ganês defendeu que, apesar de se terem reduzido alterações inconstitucionais na governação no continente africano, políticas exclusivistas ameaçam reverter os avanços registados.
"Eu penso que África se tem saído bem, de uma forma geral os golpes acabaram, os generais têm-se mantido nas suas casernas, mas estamos a criar situações que podem trazê-los de volta", alertou o Nobel da Paz de 2001, numa entrevista a propósito do quinto Fórum de Alto Nível de Tana, dedicado ao tema da segurança em África, que decorreu nos últimos dias em Bahir Dar, polo turístico na Etiópia.
"Se um líder não quer abandonar o cargo, se permanecer por demasiado tempo, e se as eleições são vistas como viciadas para favorecerem um líder e ele se mantiver mandato após mandato após mandato, é possível que a única forma de o retirar seja através de um golpe ou o povo saindo à rua", considerou, em declarações divulgadas pela Organização da Imprensa Africana.
"Nenhuma abordagem deve ser vista como uma alternativa à democracia, às eleições ou às regras parlamentares. As constituições e as regras do jogo devem ser respeitadas", avisou Annan.
O antigo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), orador principal do fórum deste ano, disse que abordagens totalitárias às eleições no continente resultavam na exclusão de cidadãos opositores ao regime, aumentando tensões em redor dos atos eleitorais.
Annan recordou ter sido o primeiro a defender, junto da União Africana, que não aceitasse, no seu seio, líderes que estivessem no poder graças a golpes.
O diplomata também sustentou que as soluções para os problemas do continente têm de vir do seu interior. No entanto, o continente deve trabalhar a sua capacidade para tal, incluindo o financiamento às suas instituições.
"Não podemos estar sempre de mão estendida e insistir que queremos ser soberanos e independentes. Devemos liderar e conseguir o apoio dos outros -- esse apoio aparecerá muito mais quando virem quão sérios e empenhados nós estamos", salientou.
A União Africana tem tido dificuldades em garantir que os seus membros paguem as quotas respetivas, permitindo à organização realizar as suas operações e programas com eficácia, uma tema recorrentemente invocado pelos líderes que intervieram no fórum em Bahir Dar.
Annan considerou que as preocupações financeiras estão a colocar entraves ao trabalho do continente no fortalecimento da estabilidade e exigem formas criativas de financiamento.
"Eu fiquei satisfeito por os ouvir [líderes africanos] dizerem: 'Temos de estar preparados para pagar por aquilo que queremos, temos de estar preparados para colocar o nosso dinheiro na mesa e financiar questões que são de grande importância'", referiu.
O fórum, agora na sua quinta edição, surgiu pela iniciativa do antigo primeiro-ministro etíope Meles Zenawi e é organizado pelo Instituto para os Estudos da Paz e Segurança, da Universidade de Adis Abeba.
Entre os participantes encontravam-se atuais e antigos líderes africanos, entre os quais o ex-Presidente moçambicano Joaquim Chissano.
Lusa/Conosaba
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