Kieran Kesner é um fotojornalista americano de 23 anos que esteve na Libéria em finais de Agosto. Neste texto conta como é trabalhar quando se está tão perto do vírus.
Depois de quatro escalas, cheguei ao aeroporto na Libéria. O avião teve uma aterragem atribulada, derrapando até parar na pista em mau estado. Depois de sairmos do aparelho, fomos recebidos por um exército de pessoas que queria medir a nossa temperatura, enfiando-nos termómetros em forma de arma debaixo do nariz. Depressa percebi que aqueles termómetros bem podiam ser armas de verdade, apontadas às nossas cabeças. Depois de lavar as mãos com cloro, atravessei a cacofonia da fronteira onde o meu passaporte foi carimbado rapidamente.
Na semana seguinte, fiquei cara a cara com o ébola. Fotografei os doentes, os mortos e todas as fases do vírus. Percebi a gravidade desta epidemia que faz um país recuar depois de ter recuperado da destruição causada pela guerra civil de 1989-2003. Num táxi, o motorista grita pela janela: "Porque estão a queimar os corpos?", na direção de um menino que carrega à cabeça um cesto cheio de trapos e roupas. Perguntas como esta parecem ter-se tornado normais na Libéria. Até então eu olhara para a epidemia de ébola na África Ocidental como uma estatística de um mundo muito afastado. Nunca percebera, pessoalmente, o seu impacto.
dn
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