sexta-feira, 12 de abril de 2019

«GOLPE DE ESTADO» SUDÃO: FORÇAS ARMADAS (JUNTA MILITAR) DESTITUEM OMAR AL-BACHIR


Cartum - O Presidente sudanês, Omar Al-Bachir, foi destituído, nesta quinta-feira, em Cartum, pelas Forças Armadas, disse o ministro da Defesa, Awad Mohamed Ibn Auf, que anunciou a criação de um Conselho de Transição, que será dirigido pelos militares.
PRESIDENTE DESTITUÍDO DO SUDÃO, OMAR AL-BASHIR
“Na qualidade de ministro da Defesa, anuncio o derrube do regime, e a prisão do seu chefe num lugar seguro”, declarou o general Awad Mohamed Ahmed Ibn Auf, na televisão estatal.

O ministro da Defesa sudanês anunciou ainda uma série de medidas a ser aplicadas durante os três meses da vigência do Estado de emergência, dentre as quais o encerramento dos aeroportos e um recolher obrigatório que iniciará às 22 horas.

No Sudão, as manifestações iniciaram a 19 de Dezembro de 2018, quando a população da localidade de Altabara (Norte) revoltou-se contra a medida do governo de multiplicar por três o preço do pão.

Seguiu-se, em Fevereiro, a instalação de um Estado de Emergência no país.

Terça-feira, 09 de Abril, milhares de manifestantes começaram a concentrar-se frente ao Quartel-general das Forças Armadas, para continuarem a exigir a demissão do Presidente Al Bachir e a formação de um governo de transição, pelos civis e os militares.

As manifestações que derrubaram o Presidente Omar Al-Bachir são uma reacção à degradação da situação política e económica, ao fracasso do governo e à sua incapacidade em encontrar soluções para as sucessivas crises que o país atravessa desde a secessão do Sudão do Sul, em 2011.

Na sua separação do Norte, o Sudão do Sul ficou com 75 porcento dos jazigos de petróleo, com reservas estimadas em mais de seis mil milhões de barris.

Depois da independência do Sudão do Sul, as autoridades de Cartum tomaram medidas de austeridade económica que visavam eliminar o défice engendrado pela perda dos jazigos de petróleo.

Essas consistiram na supressão das subvenções aos combustíveis, o que provocou o aumento dos preços dos bens de primeira necessidade.

Na altura, muitos observadores foram unânimes em considerá-la a pior repressão protagonizada por Al-Bachir desde que tomou o poder, através de um golpe de Estado, em 30 de Junho de 1989.

A repressão de 2013, a persistência da crise económica, a contínua degradação das condições de vida, a propagação da corrupção e a impunidade dos corruptos, a sua protecção e promoção, os privilégios concedidos às mesma pessoas, convenceram a população a, por falta de vontade política do governo, encetar reformas e contestar as derivas das autoridades.

As manifestações que iniciaram em Dezembro de 2018 esbarraram com um sistema ideológico-religioso, fanático e autoritário que geria o país há 30 anos, e que dedicava 70 % do Orçamento do Estado ao aparelho de segurança e militar.

Mas, o facto de a partir de terça-feira última, vários militares desertarem e juntarem-se aos manifestantes em frente ao Quartel-general das Forças Armadas, e o de a Polícia vir a declarar oficialmente que não se associava às Forças que reprimiam a população, foi um passo gigante, uma incontornável fissura que debilitou o poder do Presidente Al Bachir, levando ao seu derrube nesta quinta-feira.

O Sudão, um país milenar que fez parte da antiga Núbia, tornou-se independente do Reino Unido, em 1956.

Desde 30 de Junho de 1989, o país era dirigido por Omar Al-Bashir e o seu partido, o Congresso Nacional, coligado às castas muçulmanas.

Militar, Omar Al-Béchir aderiu às Forças Armadas aos 16 anos de idade e, por várias vezes, participou no Egipto, em combates contra Israel.

Em 1989, toma o poder através de um golpe de Estado contra Sadiq al-Mahdi, lança uma purga, e instaura um regime Islâmico-militar, introduz a xaria e alberga terroristas, entre os quais Oussama Bin Laden, o que levou os Estados Unidos da América a colocá-lo na lista negra.

As sangrentas guerras que levou a cabo contra a região de Darfour fizeram com que, em 2009, o TPI emitisse um mandado de captura conta si, por genocídio, crime de guerra e crimes contra a humanidade.

Por João Gomes Gonçalves/Angop com Conosaba do Porto

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