terça-feira, 16 de abril de 2019

CIVILIZADOS vs DJINTIUS

Dr. Jorge Herbert
Por : Dr Jorge Herbert (via facebook)
Confesso que resisti muito em escrever estas linhas. Resisti antes até a ver e ouvir a polémica entrevista da Suzy Barbosa à RTP África! Mas, lá acabei por roubar um pouco do meu escasso tempo, para ouvir a versão completa da entrevista. E, depois disso, fiz umas pesquisas relacionadas com o analfabetismo regional na Guiné-Bissau e sobre quem é Suzy Barbosa.

Falta-me conhecer apenas o resultado que o PAIGC obteve na região Oio, um dos mais fustigados também pelo analfabetismo, segundo aos dados de 2009. Será que o PAIGC também perdeu ou ganhou a região de Oio pela taxa de analfabetismo aí reinante?
Engana-se quem pensar que Suzy Barbosa é contra os muçulmanos ou o pessoal de leste. Pessoalmente, acredito que ela até gosta muito da região onde cresceu, tem carinho e é acarinhada pelas pessoas dessa região. Não é por acaso que ela foi eleita deputada com votos acolhidos nessa região!
A Suzy Barbosa não falou nessa entrevista por si mesma, mas em representação de uma estratégia montada pelos “renovados”. Sem dúvida que se renovaram nos métodos usados para o domínio do povo e do país! A Suzy Barbosa é parte de uma estratégia que só não vê quem não quer ou não consegue ver. Essa estratégia passa pelo domínio da informação e comunicação, com consequente manipulação da população, através dos mitos por eles criados, através do controlo dos blogs de conteúdos nacionais, até a entrevistas programadas nas linhas editoriais de uma cadeia televisiva e radiofónica paga pelo erário público português.
Acham que é por acaso que um alienado gritou no dia do anúncio dos resultados eleitorais Viva os Civilizados, a frente da sede do PAIGC?


Suzy Barbosa é apenas uma mulher guineense, como muitas outras, que se licenciou na europa e terá também feito uma especialização. Teve como experiência profissional ter sido analista de crédito bancário do BES (um banco já extinto…) e gerente de Relações Públicas de um grupo hoteleiro espanhol, não sei durante quanto tempo e porque razão depois regressou ao negócio da família e, a seguir, encontrar a saída profissional perfeita, que é enfileirar-se na organização criminosa que dominou e domina o país.
É natural que não tenha conseguido estar, o tempo todo que durou a entrevista, alinhada com a experimentada entrevistadora que, com a segurança da sua experiência profissional, conduzia brilhantemente a entrevista da forma pretendida pelo lobbie que sustenta o PAIGC.
A inexperiência traiu a Suzy Barbosa e fê-la levantar o véu da estratégia não assumida publicamente pelo seu partido, de Civilizados vs Djintius. Basta olhar pela face atónita da entrevistadora, quando a entrevistada estava a justificar da forma como se justificou os resultados eleitorais do seu partido no Leste!
Essa gafe derivada da inexperiência da entrevistada, não teria impacto público na Guiné-Bissau, se já não existisse uma franja de guineenses reativos à essa agenda identificada, mas não publicamente assumida. O PAIGC, por seu lado, comprometido com a estratégia de Civilizados vs Djintius, mas temeroso que seja descoberto pelo povo que não tardará a ir às urnas nas eleições presidenciais, tudo faz para justificar e voltar a cobrir o véu que a Suzy Barbosa inadvertidamente levantou a ponta.
O PAIGC, empolgado com a vitória nas legislativas, ainda sem ter inicado a legislatura, já começaram a meter os pés pelas mãos, porque, de tão empolgados que estão, já estão empenhados em tentar manipular consciências, com vista à futura eleição presidencial.
Ao PAIGC não lhe interessa absolutamente nada que se continue a falar da Suzy, para não se ter de destapar definitivamente o véu, encoberto da sua estratégia de Civilizados vs Djintius. Estão muito mais interessados em envolver, de qualquer forma e a qualquer preço, o Presidente da República na polémica do arroz “apreendido” no leste do país, um caso que parece ser mais de luta político-partidária do que policial ou judicial!
Ainda não consegui entender como é que um Primeiro-Ministro dá indicações ao Ministro da Agricultura para armazenar toneladas de arroz em Bissau e esse não cumprir com as suas orientações e o Sr. Primeiro-Ministro continuar a não dar conta que todo esse volume da mercadoria em causa já não se encontrava em Bissau, mas sim a centenas de quilómetros de Bissau! Estamos a falar de toneladas, ou seja centenas de sacos de arroz, que não se transporta numa carrinha de caixa-fechada! Foi preciso à Policia Judiciária ter ido lá descobrir esse arroz todo ou, através de uma estratégia política, a Polícia Judiciária foi para lá encaminhada?! Falando da Polícia Judiciária, queria saber em que pé está a investigação dos casos dos passaportes que envolveram os membros do primeiro governo chefiado por Domingos Simões Pereira, que levou o próprio a assumir publicamente que a justiça estava a perseguir o seu governo? No esquecimento?! É o que me faz pensar que o PAIGC continua a achar que o povo guineense continua a pensar como há quatro décadas atrás!
Mas, voltando a Suzy Barbosa traída pela inexperiência da vida e na política, o que muita gente não se apercebeu é que, ela a justificar que o PAIGC perdeu o Leste pela elevada taxa de analfabetismo e ausência de meios de comunicação como a televisão, ela estava justamente a lamentar o facto de a estratégia manipuladora do PAIGC dito renovado, através do domínio dos meios da comunicação para disseminação dos seus mitos, não ter conseguido penetrar nessa região! Nada mudou no Leste do país desde quando o PAIGC ganhava as eleições, até os dias de hoje, em que perde eleições nessa região! O que mudou efetivamente, é a estratégia manipuladora do PAIGC, com o uso de uma outra forma mais eficaz de disseminar mitos e notícias por eles criados, que não conseguiu penetrar no leste. É justamente pela mesma razão que o PAIGC conseguiu ganhar Bissau e a Diáspora, empenhados no projecto de Civilizados vs Djintius, Urbano vs Rural.
É caso para dizer, quem dera que a maioria da população guineense fosse analfabeta! Manifesto desde aqui a minha maior consideração ao povo de Leste, o povo das terras que conheci na minha infância - Bafatá, Contuboel, Gabú, Sonaco, Bambadinca, Fajonquito e outros, principalmente aos analfabetos, que ainda não sentiram o poder neocolonizador dos novos Honórios Barretos.
Outra vertente da entrevista que demonstra a ingenuidade e a inexperiência da entrevistada, é a enfase feminista que ela dá ao seu labor como activista e política, assente nas outras atividades já praticadas e na defesa da aplicação da lei da paridade, esquecendo-se que, segundo os dados de 2009, 63,2% das mulheres guineenses são analfabetas! A não ser que a Suzy Barbosa queira limitar a lei da paridade aos civilizados da zona urbana, onde o analfabetismo é menor, mas onde as mulheres perfazem 68,4% de todos analfabetos do Sector Autónomo de Bissau!
Peço aqui para que não se centre as reacções na pessoa da Suzy Barbosa, nem que lhe seja dirigida ofensas pessoais ou da sua vida privada, porque ela está incluída e influenciada por uma estratégia movida pela ambição desmedida de um conjunto de quadros sem provas dadas e sem experiência de mercado de trabalho (engenheiros sem obras, médicos sem doentes, economistas sem empresas, etc, etc, etc), que assumiram a cultura de indicações e nomeações de carácter partidário ou outros lobbies, como forma de afirmação e domínio de todo um povo, com minimização da sua essência histórica e cultural, em prol da cultura do ex-colonizador.
Essa estratégia de Civilizados vs Djintius também tem o mais alto patrocínio de uma diáspora qualificada mas sem afirmação no mercado de trabalho nos países acolhedores e outra não qualificada, mas saudosa do tempo do pseudo-elitismo colonial, onde quanto mais assimilado, mais elite.
Aqueles que têm uma formação universitária e não pensam em consonância com a estratégia e não dependem de cargos de indicações e nomeações, são tomados como “anormais analfabetos funcionais”!
Confesso que continuo a gostar de ser convictamente analfabeto e louco para levantar todos os dias para ver e tratar doentes e louco pela Guiné-Bissau e a sua multiculturalidade e rezo todos para que nunca caia na dependência da organização criminosa que domina a Guiné-Bissau há mais de quatro décadas !

Jorge Herbert

Sem comentários:

Enviar um comentário