Arroz de povo na bemba de povo!
É sempre importante esclarecermos as coisas, sobretudo quando a nossa cabeça está tonta, por causa de uma dúvida chamada arroz de povo.
Para um guineense, o arroz é o melhor produto alimentar do que qualquer outro. Podemos ter pizza, bolo, frango, leite, ovo, carne de vaca ou de porco, legumes, leguminosos, azeite, iogurte, papa, batata e sei lá o que mais. Podemos ter até muito dinheiro no bolso, mas se não temos “um saco de arroz” lá em casa, é como se o tudo fosse nada.
Uma vez, no meu primeiro ano de casamento, ainda inexperiente na matéria da gestão de casa e da família, houve um indivíduo que me chamou de “coitado”, só porque eu pesava todos os dias um quilograma de arroz. De facto, eu era coitado! Mas na altura eu era mais ignorante do que coitado, uma vez que não conhecia o valor cultural de um saco de arroz em casa.
Hoje, eu compreendo muitíssimo bem a importância que “um saco de arroz” tem na nossa vida, na nossa gastronomia, na nossa identidade como um povo. Aliás, já dissemos em crioulo “menino bonito i arus”. Para qualquer guineense esse provérbio é o que está mais afiado e na ponta da língua, porque sem ele a nossa casa não passa de um lar faminto. Lembro-me ainda que há uns anos, foi discutido na Assembleia Nacional Popular se o país devia ou não declarar a fome, só porque faltava o arroz no mercado e a colheita nesse ano não foi boa.
Embora a grande discussão dos nossos deputados estivessem à volta da palavra fome, se fôssemos definir essa palavra em língua portuguesa, é óbvio que não havia fome, porque a Guiné-Bissau naquela altura não estava com escassez de alimentos, mas do arroz. Contudo, se decidimos também definir essa mesma palavra em crioulo, teríamos que considerar o aspecto cultural que a palavra em si carrega nessa língua. Na nossa vivência o arroz não pode faltar na hora de “djanta”. Eu mesmo… se não coma o arroz ao almoço, mesmo comento mil alimentos é como se não almoçasse. Sinto fome Psicologicamente!
Portanto, compreendi perfeitamente a discussão dos nossos políticos deputados, o arroz não pode faltar nunca! Por isso, os políticos podem fazer o que quiserem com o dinheiro do Estado, até há um provérbio sobre isso (só para não dizer o slogan) que os políticos e politiqueiros guineenses conhecem muitíssimo bem “dinheiro de Estado, na bolso de palácio” aliás, “dinheiro de Estado na cofre de Estado”, perdão pelo erro.
Eles, os políticos, podem fazer o que quiserem com o dinheiro de Estado, não é dinheiro de povo, ironicamente, não é o nosso dinheiro e o povo não se importa com isso, mas com o arroz do povo, ahhh! Aí que a porca torce o rabo! Isso não pode ficar como uma mão de sal na água. Juro!
Arroz de povo na bemba ou caçarola de povo! Se alguém mexer com esse arroz, o povo vai atrás dele, podem escrever isso! Talvez seja o início de uma mudança! Mas uma certeza posso garantir, isso ainda vai dar numa dança, porque quando o povo fique farto, é porque há arroz. Mas quando não há arroz, o povo fica farto é de bandidagem!
Chega dessa bandidagem! Os políticos que continuem com “dinheiro de Estado na cofre de Estado” e deixem o nosso arroz na nossa bemba para as nossas caçarolas, por favor!
Arroz de povo na bemba de povo! Arroz de povo na caçarola de povo!
Abdelaziz Vera Cruz
12/04/2019
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