Quatro detidos em protesto na Guiné-Bissau: Frente Popular denuncia repressão "brutal". AFP - GEORGES GOBET
Bissau – Quatro pessoas foram detidas durante a manifestação desta manhã em diferentes bairros da Guiné-Bissau, denunciou o coordenador da Frente Popular, Armando Lona. A mobilização, promovida por várias organizações da sociedade civil no Dia de África, pretendia exigir mais liberdade, justiça e democracia. O governo guineense é acusado de repressão sistemática e de impedir o exercício de direitos constitucionais.
Quatro pessoas foram detidas este domingo, 25 de Maio, durante uma manifestação convocada por organizações da sociedade civil na Guiné-Bissau. A informação foi avançada pelo coordenador da Frente Popular, por Armando Lona.
O protesto teve lugar num contexto marcado pela suspensão do funcionamento regular das instituições. O Parlamento está fechado há um ano e meio, o Supremo Tribunal de Justiça é descrito pela oposição como estando “sequestrado”, e o actual Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, é acusado por organizações civis de continuar no cargo mesmo após o fim do mandato, a 27 de Fevereiro deste ano.
Armando Lona considera que a repressão da manifestação revela o desrespeito pelas normas constitucionais. “Nós estamos vinculados à Constituição da República da Guiné-Bissau, que garante o direito de manifestação. Não é a palavra de um indivíduo que pode anular essa disposição", defende.
Confrontado com as declarações do Presidente da República, que acusou as organizações envolvidas de serem ilegais e de quererem desestabilizar o país, o coordenador da Frente Popular reagiu às alegações: “Essas acusações são baratas. Sempre que surge um grupo cívico, dizem que há forças por trás. Mas nós somos cidadãos guineenses com plenos direitos e com experiência profissional e técnica", afirma.
De acordo com Armando Lona, o movimento é apartidário e tem como único objectivo promover a democracia e o bem-estar da população: “Lutamos por uma Guiné-Bissau onde haja escolas, hospitais, liberdade e dignidade. Não temos qualquer agenda partidária. Queremos uma economia que sirva a todos, e instituições que funcionem".
Em relação ao impacto das detenções e ao futuro político do país, o dirigente não esconde preocupação: “Hoje há um fluxo forte de jovens guineenses a abandonar o país. A situação é crítica. A justiça não funciona, o parlamento está encerrado, e não há controlo sobre a governação”.
Segundo o também activista, os detidos participaram num protesto que decorria em diferentes bairros da capital, no âmbito das comemorações do Dia de África. “Foram brutalmente detidos. Estamos a acompanhar a situação neste momento para apurar onde é que estão e como é que foram tratados”, afirmou.
A Frente Popular, juntamente com outras organizações, convocaram a manifestação para exigir o respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos, incluindo a liberdade de expressão, o direito à manifestação, e a realização de eleições, numa altura em que, segundo os organizadores, o país atravessa uma profunda crise institucional.
“Mais uma vez o regime utilizou o mesmo método de repressão”, declarou Armando Lona. “Estamos num processo difícil, com um regime que não respeita quaisquer direitos dos cidadãos. Cada vez que se emite uma opinião, ela é interpretada como ameaça, e somos alvos de perseguição”, acrescenta.
Por :Lígia ANJOS
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