sábado, 21 de junho de 2014

CARTA ABERTA AO NOVO PODER NA GUINE-BISSAU (FERNANDO KA)


O povo da Guiné-Bissau, cansado do sofrimento e da desilusão durante quase quarenta anos de independência sem nenhum sentido até hoje, vê agora raiar a nova esperança no horizonte político guineense com a eleição de duas personalidades em quem a esmagadora maioria do povo votou como figuras dignas de crédito para o exercício dos cargos de presidente da república e de primeiro-ministro, respectivamente José Mário Vaz e Domingos Simão Pereira.

Os guineenses deram o benefício da dúvida às suas promessas eleitorais e esperam que sejam cumpridas integralmente e sem subterfúgios. A credibilidade dos políticos está em fazer o que dizem, mas não nas promessas falaciosas durante os períodos eleitorais.

As duas personalidades da nova esperança de uma Guiné melhor, embora pertencendo ao partido que levou o país à desgraça total pela incompetência que sempre o caracterizou depois do colonialismo, o povo guinéu, animado de espírito de patriotismo e ansioso pela mudança qualitativa, não hesitou em votar nos candidatos vencedores de ambas as eleições. Aliás, cabe aos dois dirigentes máximos do país a chamada de atenção de que o novo poder não pode ser uma espécie de coutada para a caça de empregos para os seus camaradas e respectivos familiares.

Ora, o Presidente da República e o Primeiro-ministro do partido vencedor das eleições devem trabalhar afincadamente para servir exclusivamente os interesses do país, de modo a não frustrar a expectativa criada neste momento. A Guiné-Bissau parece ter virado uma nova página da sua história em que os seus dirigentes e todos os guineenses, quer os residentes no país, quer a sua diáspora, não devem furtar-se ao grande desafio que o seu desenvolvimento impõe a todos sem excepção. Perante as novas perspectivas que o país enfrenta, jamais poderá haver desculpas de falta de condições para a participação daqueles que vivem fora. Aliás, é pretexto de que servem muitos quadros formados à custa da Guiné precisamente para criarem as tais condições de que estão à espera que sejam os outros a fazê-lo. 

A Guiné-Bissau não pode, mais uma vez, desperdiçar esta grande e última oportunidade para poder sair do fosso em que se encontra, sob pena de se afundar definitivamente. Por isso, o futuro executivo deverá constituir-se com pessoas competentes, capazes de implementar com sucesso o respectivo programa e de irrepreensível princípio ético. O país não pode continuar com os dirigentes corruptos que se aproveitam dos cargos públicos para o enriquecimento fácil em pouco tempo de mandato. A mudança efectiva que a esmagadora maioria do povo guineense deseja não se compadece com o compadrio político e muito menos com a desresponsabilização dos prevaricadores que lesam sistematicamente o Estado.

A diáspora guineense, que tem feito mais que qualquer governo da Guiné ao longo de muitos anos, evitando a calamidade social, sobretudo no período da guerra civil, através das suas remessas, aguarda que o novo governo tenha uma verdadeira política de emigração para o bem do país. A comunidade emigrante quer contribuir ainda mais para o desenvolvimento social e econômico desde que o novo executivo compreenda a importância da emigração nos países de origem hoje em dia.

Dirigente da Associação Guineense de Solidariedade Social

http://www.publico.pt/

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