quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

RECADOS DA ROSA MARIA MARTINS GOMES: CASO DA GUINÉ-BISSAU!

NHA BOCA CASTA LA
Para quê fazer a ELEIÇÃO se o povo não tem a voz na matéria? Se quando o povo escolher, o candidato não será aceite? Para quê se o povo não pode decidir nada no seu próprio País? Se a saúde não anda bem? Se não pode dar uma opinião? Se não pode ter nem a rédea da sua própria vida?
Para o que serve a ELEIÇÃO, se lá se vive segundo a lei de bala? Não seria preciso primeiro aplicar a LEI e a JUSTIÇA e limpar o País de malfeitores só depois escolher os que são dignos de chefiar um País tão generoso como a Guiné?
Um País bom para se viver, onde tudo floresce, rica em terreno para agricultura, fauna, pesca, onde se respira um bom ar.
Esse País só precisa dos líderes que não dizem: NHA BOCA CASTA LA; NON VOGLIO SAPERE; MI DA IGUALE; I DON`T CARA; Cela NE ME REGARDE PA
Este Povo precisa de ter uma vida condigna. Precisa recuperar o auto estima. Não precisa vender a alma para se sobreviver.
Na Guiné é uma honra as filhas amasiarem-se com um homem que pertence ao sistema. Basta as meninas de 13/14 anos atingirem o corpo de mulher, serão vendidas para o benefício da família. Elas saem a noite e os pais não lhes pergunta para onde vão, como outrora se fazia na família. Não importa, de manhã trará o sustento para casa. Quando não sair, eles perguntam:” então, hoje não vais brincar com as tuas amigas?”. Qual é a diversão que se faz a noite e que dá dinheiro? Nessa idade? Sem ser um emprego?
Como foi que chegamos a este ponto? E a saúde? Como é que fica?
SAÚDE…SAÚDE…SAÚDE!
Dá um aperto no coração pronunciar esta palavra sabendo que, não existe o seu significado para o Povo da Guiné, porque os que estão no sistema não querem saber. NHA BOCA CSTA LA.
A saúde tornou-se comercial. Não há equipamentos, não há materiais, os hospitais não têm o mínimo de condição de assistência aos pacientes. Os que estão no sistema não se importam.
REPAREM NESTE PORMENOR:
Uma grávida no fim da gestação, para ter o seu bebé, precisa ter o dinheiro senão morre ao dar a luz.
Quando chega a maternidade, a primeira coisa que lhe perguntam: “ tem dinheiro?” Se disser que sim, é atendida. Se disser que não, a resposta é: “ chega para lá e deixa passar quem tem dinheiro. Nós não fazemos milagres “. A sério? Mas uma verdadeira profissional faz milagres sim.
Ninguém vai a maternidade despida. Pode-se fazer o parto e aproveitar a roupa da mãe para proteger o filho de morrer de hipotermia ou seja de frio. Qualquer peça de roupa, salva uma vida nestas condições. Até mesmo a peça da profissional.
Uma testemunha contou que a sua prima foi ter o bebé na maternidade. Quando foi mais tarde saber se correu bem, encontrou-a na sala sozinha, com a placenta por extrair, a esvair-se em sangue, toda suja. Perguntou-lhe pela pessoa que lhe estava a assistir e também pela criança. A parturiente respondeu a prima que a criança estava num canto e já não a ouvia chorar há uns tempos, e que a parteira disse-lhe que estava no fim do turno, ia sair, mas que ela seria assistida pela colega do turno que estava para entrar o serviço, e que precisava madrugar se quiser encontrar a alimentação para os seus filhos. Ela foi ao canto indicado e encontrou a criança morta. És a razão pela qual a mãe não a ouvia chorar. Estava deitada numa poça de sangue com o cordão umbilical por laquear.                     

Não teve coragem de dizer a aquela Mãe que o filho recém-nascido morreu por falta de assistência, dado que ela também estava em risco. Tirou o lenço e cobriu a criança. Apanhou a roupa e cobriu a mãe, que ficou a espera que chegasse a Parteira de serviço para lhe extrair a placenta. Foi para casa preparar a sopa para ela.
Quando voltou a maternidade, nem a Mãe e nem o filho, estavam na sala. Perguntou por eles. Recebeu a resposta de que os encontraria na casa mortuária. Foi o que foi.

Como foi que isso aconteceu?
Para além de haver falta de equipamentos e falta de materiais, há também falta de profissionalismo? Ou simplesmente é: NHA BOCA CASTA LA.
Então e a promessa de “ juro usar o meu profissionalismo para cuidar dos outros, independentemente da sua condição social “. O que se passa com os profissionais de saúde da Guiné? Esqueceram-se de juramento?
A hierarquia, o que faz perante esta situação? Sabem o que é que se passa?
Passa-se que todos têm as suas clínicas particulares ou são sócios dessas clínicas.
Por isso não há nem materiais e nem equipamentos nos hospitais públicos. Contudo, existe meia dúzia que luta para que as coisas funcionem, mas não têm forças. Perdem sempre a luta pela dignidade dos seus pacientes.

Os que estão no sistema, não precisam daquela maternidade para nada, visto que, mandam as suas esposas e as concubinas para terem os seus filhos ou em Dakar ou em Lisboa. Por isso, NHA BOCA CASTA LA.
Em que País é que 3 ou 4 parturientes ficam numa cama, onde só cabe uma pessoa? Ainda mais sem lençóis e o colchão manchado de sangue?
A própria sala de parto sem condições de higiene, placentas, compressas e algodões por remover. A própria marquesa, onde se realizam vários partos, fica por desinfectar. Não há condições mínimas de higiene para usar aquele ninho de bactérias como uma sala de parto. Onde estão os responsáveis? Começando por Director, Enfermeira chefe, Responsáveis por turnos e até as serventes, não querem saber. Não recebem o ordenado há vários meses, têm dificuldades em sustentar a família, por isso precisam facturar a custa dos pacientes. Não os culpo por isso, mas pelo menos devem continuar a praticar o profissionalismo.
O mínimo necessário como fazer o parto é um acto cívico, um acto de solidariedade e de consciência profissional, mesmo faltando os equipamentos.
Ser profissional de saúde é um acto digno, é humano e pessoal. Lembrar que, aquele ou aquela paciente poderia ser um irmão, uma irmã, o pai ou a mãe, um primo, um filho etc. etc.
Ser profissional de saúde é ter o amor, o afecto e sentir a generosidade. É uma profissão onde se dá sem esperar receber alguma coisa em troca.

Então o que está de errado nos profissionais de saúde na Guiné? Venderam-se para o sistema corrupto ou se renderam a fome e medo?
O Povo da Guiné merece recuperar a sua dignidade mais rapidamente possível. Senão será sempre NHA BOCA CASTA LA.
Onde têm os olhos a Diplomacia creditada na Guiné? O que deve acontecer que ainda não aconteceu, para a comunidade Internacional nos ajudar?
Esta é a pergunta que todos querem fazer.

NHA BOCA CASTA LA.



Rosa Maria Martins Gomes

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