segunda-feira, 3 de junho de 2024

«Djambacatam!» Confissão de um ex-consumidor: “DROGA NEUTRALIZA QUEM A CONSOME E AINDA DEIXA-O FURIOSO, DESCONFIADO E ZANGADO COM TODA A GENTE”


Um antigo vendedor e consumidor de diferentes tipos de drogas confessou que este estupefaciente tem consequências muito graves no consumidor, porque neutraliza-o muito rápido e deixa-o furioso, desconfiado de todos que estão ao seu redor e com um sentimento de querer brigar contra todos, “porque tem a perceção que todos falam mal dele e lhe odeiam”.

“Fumei e vendi, desde canábis, craque, que é feito com a cocaína e o famoso MDM. Confesso que a fase da juventude obrigou-me a entrar sem perceber das consequências, sobretudo da forma como a pessoa é rejeitada pela sociedade e apenas se consegue relacionar com pessoas do seu mundo, ou seja, aquelas que consomem droga. A droga é muito perigosa, porque neutraliza muito rápido quem a consome e ainda a deixa furiosa, desconfiada de toda gente, deixa-a preguiçosa e acima de tudo, tem um sentimento de querer sempre brigar com toda gente, porque sente que falam mal dele e lhe odeiam”, disse o antigo potencial vendedor de droga em entrevista ao Boletim Info-Droga da Organização Não Governamental – Observatório Guineense de Droga e da Toxicodependência (OGDT), retomado pelo nosso semanário.

“PRIMEIRA VEZ QUE FUMEI CANÁBIS, A MINHA CABEÇA PARECIA QUE ANDAVA ÀS VOLTAS E UMA PESSOA PARECIA-ME DUAS“

Este antigo potencial consumidor e vendedor de droga morador de bairro de Reno, que apesar de ter deixado estas práticas, pediu anonimato por medo de ser retalhado por seus colegas que ainda consomem e vendem droga, garante que já não se relaciona com essas pessoas.

O jovem reconheceu que, na verdade, a propagação do consumo de liamba e também do MDM atingiu um nível muito alto na Guiné-Bissau, tendo defendido um apoio direto do governo aos jovens consumidores destes produtos ilícitos que segundo a sua explicação, na sua maioria, são desempregados e sobrevivem essencialmente da venda destes produtos e que através da mesma sustentam as suas famílias.

“É preciso um trabalho de identificar os bairros em que se vendem e consome mais drogas em Bissau e no interior, mas sobretudo procurar as pessoas que importam estes produtos dos países vizinhos e começar por ali, para cortar o mal. O governo deve realizar uma ação de sensibilização junto das comunidades para falar dos riscos e das consequências na saúde das pessoas, porque muitos jovens alimentam as suas famílias com estas atividades. Por isso, têm a proteção dos seus pais e da família em geral”, contou.

Lembrou que começou a fumar o canábis com a influência do seu colega muito cedo, antes do conflito militar de 07 de junho de 1998, “porque na altura não conhecia esta droga e nem sabia das suas consequências”.

Em relação à reação que sentiu quando consumiu a droga pela primeira vez, confessou que não consegue explicar, contudo lembrou que sentiu a sua cabeça às voltas e que quando via uma pessoa, ela lhe parecia duas pessoas, o que o levava a ir para a cama.

“Quem me deu a droga não queria que eu ficasse na rua e a melhor forma de salvar a sua pele, levava-me para a cama de uma forma discreta. Ela era mais velha. Mandava-me ir comprar o produto. Um dia, convidou-me para provar e experimentei. Mesmo tendo uma má reação, no dia seguinte, voltei a provar e assim foi sucessivamente” explicou.

“Eu comprava apenas para consumir e até um certo tempo, depois comecei a vender os chamados pequenos “vol” para consumo de duas ou três vezes, dependendo do cliente. Ganhei um pouco de dinheiro e comecei a comprar grandes quantidades para vender, depois vendi o craque e o famoso MDM, antes de decidir parar”, narrou, afirmando que parou mais por causa da pressão dos seus familiares que lhe pressionavam muito, porque também envolvia-sesempre em conflitos com os seus irmãos, dado que pensava que eles o odiavam, “mas agora estamos muito bem e percebi que eu estava no mau caminho”.

CADA QUILOGRAMA DE CANÁBIS CUSTAVA 102 MIL FRANCO CFA EM 2023

Disse que quem consome liamba tem mais coragem de fazer algo e que alguns até praticam violência, sublinhando que, quando parou de fumar, sendo pedreiro, apercebeu-se que estava metido num vício. Lembrou ainda que foi detido uma vez pelas autoridades policiais.

“Fui pego em flagrante delito, durante o patrulhamento policial e fui levado para a esquadra. Quando cheguei, confessei e fui solto” disse, apelando aos jovens a evitar o consumo de liamba, por a prática ter prejuízos graves à saúde.

“Normalmente, é fatal para o cérebro e também coloca em causa a sua integridade social, até ao ponto de considerar todo o mundo como inimigo, peço àqueles que consomem liamba para abdicarem, porque é prejudicial à saúde. Muitos que consomem a droga não se alimentam bem, os seus organismos são fracos, o que lhes leva a ter perturbação mental” insistiu.

Desde que deixou de fumar e vender, disse, constatou muita diferença e que muitos atos que praticava já deixou de os praticar, por que já não consome liamba.

Disse também que o negócio de drogas é rentável, mas com grandes riscos, porquanto é um crime, sublinhando que o canabis é consumido em todos os bairros da capital Bissau e no interior do país.

Este antigo vendedor de droga, confessou que canábis é cultivada no país, sobretudo no interior, sem no entanto mencionar o nome da região ou setor em que este estupefaciente é cultivado.

“Até ao ano 2023, cada quilograma de liamba custava cerca de 102.000 fcfa. É muito rentável, por isso muitos entraram no seu negócio, embora fosse um crime. É por isso que se trabalha em colaboração com os polícias para ter proteção”, assegurou, revelando que os polícias e militares frequentam os locais da venda para comprar o produto e fumar no mesmo sítio. Acrescentou que todos os potenciais vendedores têm sempre a colaboração das forças de segurança, que recebem alguma coisa como recompensa pelo serviço prestado.

Quando questionado se tinha um colaborador policial, respondeu que a colaboração era a seguinte: “quando um polícia chegava, o vendedor era obrigado a entregar-lhe parte do dinheiro da venda, caso contrário o vendedor poderia ser preso”.

Disse que para além de liamba, já vendeu cocaína, mas nunca a consumiu.

“Vendi cocaína na época em que houve a propagação da cocaína em Biombo. Vendi craque e cada pedra custava 2.500 fcfa, mas devido às dificuldades do país passou a ser 1.000 fcfa” disse, afirmando que o craque feito com cocaína é mais perigoso que liamba.

“Os efeitos do craque deixam alguém fora do normal, e é difícil recuperar alguém que já entrou no consumo do craque sobretudo da própria cocaína. Nunca preparei a droga craque. Um amigo nigeriano é que chegou a dar-me algum para vender e depois dividimos o lucro. Esse tipo de droga tem lucro” explicou, afirmando que agora se dedica à atividade de construção civil, porque é pedreiro.

Por: Redação
O Democrata/Boletim Info-Droga com Conosaba do Porto

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