quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

CONFRONTAÇÕES NO CENTRO DE MOÇAMBIQUE PROVOCAM NOVA VAGA DE DESLOCADOS


As confrontações dos últimos dias em Gorongosa, centro de Moçambique, provocaram uma nova vaga de deslocados, que pedem ao Governo e à Renamo para que "parem de brincar" com as suas vidas e apelam para o desarmamento da oposição.

"Estou muito chateado e enervado com estas coisas que estão acontecer. O Governo e a Renamo [Resistência Nacional Moçambicana] estão a nos maltratar, porque nós não estamos a ficar sossegados. Estamos sempre com bagagens na cabeça e deixamos muitas coisas para trás", disse à Lusa Ricardo Murtar, morador de Nhaulimbi, em Sadjundjira, na província de Sofala.

A semelhança de outras centenas de famílias, Ricardo Murtar, fugiu de casa com sete filhos e duas mulheres, após ter sido surpreendido por confrontos entre as forças de defesa e segurança e a guarda da Renamo na semana passada em Sadjundjira, nas encostas da serra da Gorongosa, onde o maior partido da oposição mantém uma base militar.

Murtar conta que conseguiu sair do "fogo cruzado" e fugiu mata adentro até chegar à vila da Gorongosa, onde se hospedou na casa de um familiar.

Esta região esteve no centro da anterior crise entre Governo e Renamo até ao acordo de cessação de hostilidades, assinado em setembro de 2014, terminando um período que deixou um número desconhecido de mortos, milhares de deslocados e paralisou a economia local.

Quase 13 meses depois, quando alguns daqueles deslocados começavam timidamente a regressar às suas casas, a região voltou a ser palco de incidentes, nas operações em curso de desarmamento da Renamo.

"O Governo e a Renamo estão a brincar com nossas vidas", declarou Inoque Bica, morador de Vunduzi, com 27 anos e três filhos, e que pela segunda vez abandona as machambas (hortas), o que no passado lhe garantiu um período de fome.

"Estamos cansados de correr e ficar no mato, dormir no mato e comer mal. Estamos a construir casas de alvenaria, mas as obras não andam, porque são interrompidas sempre com conflitos políticos", disse Mateus Pedro, outro residente em Vunduzi, que lembra amargurado a época que sobreviveu de mangas verdes após perder a produção agrícola devido ao conflito iniciado em 2013.

Os deslocados ouvidos pela Lusa são unânimes em pedir diálogo político entre o Governo e a Renamo, para que "esta confusão acabe" e assim tirar a população da situação difícil em que se encontra, "com crianças e adultos a serem submetidos a condições desumanas de sobrevivência".

São ainda favoráveis ao desarmamento da Renamo, desde que isso não afete mais a população.

"O desarmamento da Renamo deve continuar, mas por meio de diálogo e não por troca de tiros porque isso estraga a população", defendeu Ricardo Murtar, embora outros, como Inoque Bica, receiem que estas operações tragam mais violência para Vunduzi.

Viola Caravina, chefe do posto administrativo de Vunduzi, limitou-se a confirmar os confrontos da semana passada, escusando-se a comentar sobre a nova vaga de deslocados.

O ministro do Interior confirmou na semana passada novas operações das forças de defesa e segurança para recolher armas em posse da guarda da Renamo, em Gorongosa (Sofala) e Morrumbala (Zambézia), centro de Moçambique.

A polícia, disse Basílio Monteiro em declarações aos jornalistas na Gorongosa, "tem todo interesse que prossiga [a busca de armamento até desativar o último 'ninho' [base dos militar da oposição] e deixe o país totalmente tranquilo".

A Polícia iniciou a operação de recolha de armas da Renamo no dia 09 de outubro, quando forças especiais cercaram e invadiram na Beira a casa de Afonso Dhlakama e prenderam por algumas horas sete elementos da sua guarda.

O cerco só terminou quando Dhlakama entregou 16 armas da sua guarda pessoal ao grupo de mediadores do diálogo entre a Renamo e o Governo e que por sua vez o deixou à responsabilidade da Polícia de Sofala.

A operação policial ocorreu um dia depois de o líder da oposição ter reaparecido na serra da Gorongosa, ao fim de duas semanas em parte incerta, na sequência de dois incidentes envolvendo a sua comitiva e as forças de defesa e segurança em Chibata e Zimpinga, província de Manica.

Lusa/Conosaba

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