"Portugal, o racismo segue de boa saúde", diz o músico e cronista Kalaf do ocorrido na Cova da Moura. Será? E se sim, porquê?
"Todo o homem negro, conscientemente ou não, a dada altura da sua vida, já odiou o homem branco". São as duas primeiras linhas do artigo que o músico e cronista luso-angolano Kalaf Ângelo Epalanga publicou no site Rede Angola a 10 de fevereiro, cinco dias após os acontecimentos na Cova da Moura, no mesmo dia em no Público se lia a reportagem-choque em que se denunciam comportamentos racistas da PSP, a cujos agentes se atribuem frases como "Não sabem o que eu odeio vocês, raça do caralho, pretos de merda".
Kalaf sorri quando ouve que o seu artigo provocou polémica acesa nas redes sociais. "Depois de ver aquelas notícias sobre a Cova da Moura não encontrei outra forma de expressar o que sentia senão a de inverter os papéis. Aqueles polícias disseram: "Não gosto de pretos". É pouco comum ouvir um negro dizer "não gosto de brancos", pelo menos de uma forma tão visível. Os negros não gostam de falar sobre racismo. Estão agradecidos de estar na Europa e os deixarem trabalhar aqui. Mas é preciso perceber que a maioria tem medo de sair à rua no dia 10 de junho. E antes do Alcino Monteiro [português de origem cabo-verdiana assassinado em 1995 por skinheads] já sucedia. Há uma onda de ressentimento em relação aos brancos que, mesmo tendo razões, é assustadora." Ressentimento? "É o que se sente quando se pensa em 500 anos de escravatura." DN
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