Um grupo de jovens da Guiné-Bissau criou um movimento para "pressionar e exigir" do poder político a realização das primeiras eleições autárquicas no país, disse à Lusa o coordenador da iniciativa, Benvindo Buo.
Para fazer avançar a ideia, Benvindo Buo criou o Movimento de Jovens pelas Autarquias na Guiné-Bissau (MJPAGB) e pôs a circular na rede social Facebook uma petição que, em uma semana, já reúne cerca de 200 subscritores que concordam com o tema.
A residir em Cabo Verde, após terminar a licenciatura em Administração Pública e Autárquica, na Universidade Jean Piaget de Bissau, em 2019, Benvindo Buo disse à Lusa, em conversa telefónica, que acredita que a Guiné-Bissau "não se vai desenvolver se não avançar para descentralização do poder" político e administrativo.
"Está claro que só com as eleições autárquicas é que poderemos diminuir o nível de corrida ao poder central em Bissau. Todos querem ser ministros, secretários de Estado ou diretores gerais, é a única forma de exercer política" no país, observou Benvindo Buo.
Num trabalho de pesquisa na cidade cabo-verdiana da Praia para compreender como é que a descentralização traz melhorias para a vida da população, o criador do MJPAGB afirmou que "a ânsia dos guineenses pelas autarquias locais" vai ser comprovada com a petição, cujos resultados vai entregar ao Presidente do país, Governo e ao parlamento.
Benvindo Buo quer aproveitar a revisão constitucional lançada pelo Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, para, com a sua petição pressionar o poder político a introduzir na lei a data e a periodicidade da realização de eleições autarquias.
"Até porque a Constituição reconhece que a Guiné-Bissau é um Estado unitário mas descentralizado, no entanto, isso não se vê na prática", notou Buo, salientando que acordos internacionais, rubricados pela classe política nos últimos cinco anos, apontam para necessidade da realização de eleições autárquicas.
Benvindo Buo vê aquelas eleições como forma de "colocar o poder mais próximo do povo", aumentar a competitividade entre políticos e naturais das localidades e diminuir a pressão sobre Bissau, disse.
Na situação atual, observou Benvindo Buo, os dirigentes que são colocados nas localidades, sobretudo as do interior do país, não têm nenhum poder de decisão, porque, notou, recebem ordens a partir do poder central em Bissau.
"Olha o caso da Câmara Municipal de Bissau em que os dirigentes que lá estão não têm nenhuma competência administrativa e financeira, pois prestam contas ao Governo central, isto é, não respondem aos munícipes", sublinhou o criador do MJPAGB.
Assumindo-se como "combatente pela descentralização" na Guiné-Bissau, Benvindo Buo disse que o seu movimento vai "tudo fazer" para que as primeiras eleições autárquicas tenham lugar antes do término da atual legislatura, em 2023.
Benvindo Buo nasceu em Bedanda, na região de Tombali, no sul da Guiné-Bissau, no dia 11 de junho de 1994, como o próprio escreve na sua biografia enviada à Lusa, "nas vésperas das primeiras eleições multipartidárias, parcial", em alusão ao facto de não terem sido realizadas as autárquicas.
As eleições a que Buo faz referência, as primeiras legislativas, foram realizadas em julho de 1994.
Conosaba/Lusa
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