quinta-feira, 10 de julho de 2025

Opinião: Porque Cabral Não Se Insulta: Transformar a Dor em Ensinamento, para Acabar com a Ignorância que nos Atrasa

 

Guiné-Bissau, em pleno século XXI, um insulto público a Amílcar Cabral não pode ser tratado como algo banal, irrelevante ou apenas “opinião pessoal”.

Não se trata apenas de defender a honra de um homem. Trata-se de proteger a memória, a consciência e o futuro dos povos de um continente inteiro.

Por isso afirmamos, com toda a clareza e firmeza: Cabral não se insulta.
1. Quem insulta Cabral, insulta o próprio povo
Amílcar Cabral não é um homem qualquer. É o segundo maior líder do mundo — dedi ki mundu i mundu.

É o primeiro maior líder africano a frente dos homens como Imperador Mansa Mussa Keita e Presidente Nelson Mandela.

É o libertador de dois países africanos do jugo colonial português, contribuindo decisivamente para o fim dos sistemas imperialistas no continente.

Fundador das nacionalidades guineense e cabo-verdiana, Cabral forjou uma nova visão de libertação nacional, unindo povos diversos num projeto de dignidade, independência e soberania.
Foi ele quem ousou afirmar, em plena luta armada contra o poderoso exército colonial português:“

A arma mais poderosa nas mãos do inimigo é a nossa própria ignorância.

”Insultar Cabral é insultar todos os combatentes que lutaram pela liberdade das pátrias africanas da Guiné e de Cabo Verde.

É cuspir sobre os túmulos das que deram a vida, das que tombaram sem ver o amanhecer da independência. É negar a história das nossas nações e, por extensão, é negar a possibilidade de construir um futuro de progresso com justiça, memória e consciência crítica.

Quem insulta Cabral — por ignorância, má fé ou encomenda política — insulta, nolens volens, o povo da Guiné-Bissau, no seu todo, o povo de Cabo Verde, no seu todo e todos os povos que acreditam na liberdade como bem supremo.
2. Ignorância não é liberdade de expressão
O que temos visto nas redes sociais e em certos círculos (poucos) de opinião não é exercício de liberdade. É abuso. É desinformação.

É konta mintida. É desprezo pela memória coletiva.

Pior ainda: é a reprodução de uma ignorância sistemática e sistémica que, se não for combatida, continuará a produzir gerações alienadas, manipuláveis e incapazes de transformar a realidade em que vivem. Incapazes de orgulhar-se do seu maior tesouro.
Do seu soft power – AMÍLCAR CABRAL.

Cada ataque a Cabral deve ser enfrentado com inteligência, com educação e com ação cívica.

Não se responde ignorância com ódio — mas com esclarecimento. Não se cala a verdade diante do ruído — educa-se.
A ignorância não é liberdade de expressão. É a expressão de uma profunda falta de educação. E os insultos ignominiosos lançados contra o bom nome de Amílcar Cabral são a manifestação clara de uma grosseria inadmissível.
3. Transformar a dor em força educativa
A dor sentida pelas filhas biológicas e pelos filhos ideológicas de Cabral — intelectuais, professores, combatentes, mulheres organizadas, jovens conscientes, operários e camponeses — precisa ser canalizada para uma resposta pedagógica e transformadora.

Cada vez que Cabral for atacado, devemos responder com uma aula pública sobre sua vida e obra. Multipliquemos as aulas de história, os programas radiofónicos, os podcasts, as brochuras educativas e as campanhas de memória.

Porque quem conhece Cabral, não o insulta.

E quem o insulta, é porque não o conhece.

Devemos, @s cabralistas e cabralólog@s do mundo, ser capazes de transformar a nossa dor em força educativa explosiva, destinada a combater a arma mais poderosa nas mãos dos inimigos: a ignorância.
4. Cabral é farol e guia dos povos rumo ao progresso
Amílcar Cabral foi um dos raros africanos dos movimentos de libertação convidados a falar na ONU em vida.
Foi escutado pelo Papa Paulo VI como voz da África em luta pela liberdade.

É hoje reconhecido como uma das personalidades mais influentes da história contemporânea — considerado o segundo maior líder mundial de todos os tempos, e o primeiro maior líder africano, pelo seu papel teórico, prático e visionário na libertação do continente.

Mas Cabral é mais do que isso.
Cabral é um projeto inacabado.
A Guiné-Bissau e Cabo Verde nasceram com as independências forjadas na luta, mas ainda estão por alcançar o nível de desenvolvimento sonhado por ele.
Estão por vencer as cinzas da ignorância, da corrupção e da negação histórica.
Esses objetivos só poderão ser atingidos pelas mãos de uma juventude que estuda, que lê, que organiza, que age.
Honrar Cabral não é venerá-lo em silêncio.
É levantar-se e fazer viver as suas ideias.
Porque ele é farol e guia dos nossos povos, Cabral não se insulta.
As suas ideias-força devem ser seguidas — e ensinadas — continuamente.

Conclusão:
Educação como vingança nobre
A resposta à ignorância não pode ser outra senão a educação.

Como disse o próprio Cabral: “As ideias não se matam.”Insultos jamais apagarão o legado de um homem que viveu e morreu para libertar consciências e formar homens novos e mulheres novas.
A expressão é dele ao decidir, em plena guerra de libertação, criar escolas nas regiões libertadas da Guiné.
Àqueles e àquelas que hoje se sentem feridos por verem a memória de Cabral vilipendiada, deixamos uma palavra de força:
Resistam com ideias.
Lutem com conhecimento. Transformem a dor em movimento.
Porque Cabral não é um mártir morto.
Cabral nunka kana muri.
É uma chama viva.
E como tal: não se insulta — defende-se, honra-se, ensina-se.
Por Iancuba Djola N’Djai

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