sexta-feira, 20 de agosto de 2021

POLITÓLOGO CONSIDERA “EXAGERADA” A POSIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DE COLOCAR A PRÉMIO CABEÇA DE GENERAL INDJAI

 

O Politólogo guineense e analista político, Rui Jorge Semedo, considerou esta sexta-feira, 20 de agosto de 2021, exagerada a posição do departamento dos Estados Unidos de América (EUA) que prometeu cinco milhões de dólares como prémio pela cabeça do ex-chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, o General António Indjai.

“O General Indjai não é um foragido. Ele vive e tem a sua vida na Guiné-Bissau. Portanto, não vejo o motivo para dramatizar a situação ao ponto de colocar cinco milhões de dólares como prêmio a sua cabeça”, criticou o analista político, em entrevista ao jornal O Democrata para analisar o comunicado do departamento do estado norte-americano que acusa o antigo chefe de Estado-Maior guineense de narcoterrorismo, conspiração para importar cocaína, conspiração para fornecer apoio material a uma organização terrorista estrangeira e conspiração para adquirir e transferir mísseis antiaéreos para os rebeldes de FARC da Colômbia.  

O analista disse que os EUA reconhecem e têm trabalhado com as autoridades vigentes na Guiné-Bissau. Por isso, no seu entender, o mais conveniente era que o assunto fosse tratado a nível do Estado. Acrescentou que caso o Estado da Guiné-Bissau não colaborasse, é que os americanos poderiam avançar com este tipo de posicionamento.

“A Guiné-Bissau é um país frágil e que talvez os Estados Unidos queiram provocar outras situações no país, sobretudo uma sublevação militar. Ou em caso extremo o próprio governo guineense ou alguém do governo possa envolver-se em negócios ilícitos para entregar o General Indjai e ganhar este dinheiro”, assegurou.

O Politólogo fez referência ao caso do almirante Bubo Na Tchuto, que diz ter sido aliciado e depois entregue à polícia norte-americano, supostamente em colaboração com a polícia cabo-verdiana. Frisou que os Estados Unidos ainda não informaram ou esclareceram ao Estado e ao povo guineense a situação do almirante Bubo Na Tchuto.

“O almirante foi detido e levado aos Estados Unidos, onde fez quatro a cinco anos, depois foi solto, mas ninguém sabe de concreto o que aconteceu na verdade. Se o Bubo realmente é um traficante de droga ou não!? Os crimes que terá cometido devem também ser conhecidos pelos cidadãos e pelo Estado da Guiné-Bissau” salientou, afirmando que o direito à informação é um dos princípios fundamentais da democracia, do qual o próprio Estado dos EUA diz defender.

Por isso, os cidadãos devem exigir aos Estados Unidos à informação sobre o caso de Almirante Bubo Na Tchuto, que fora detido 2013.

Frisou ainda que os cidadãos desconhecem também a relação entre os dois Estados sobre o caso António Indjai. Lembrou, neste particular, que o antigo chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas está sob sanções das Nações Unidas que o impede de viajar para o estrangeiro.

“Desde 2012, creio que ele não chegou a sair fora das fronteiras da Guiné-Bissau. Não saindo além fronteiras, provavelmente que os Estados Unidos terão muitas dificuldades de ter colaboração de outros Estados, então a sua captura vai depender da colaboração de governo guineense” disse, para de seguida advertir que o General Indjai, mesmo na reserva, conta com muita influência nas estruturas das forças armadas. 

“Não é por acaso que ele esteve presente na posse do atual Presidente da República e do Primeiro-ministro, portanto isso demonstra que ele ainda goza da influência no seio da classe castrense”, contou, acrescentando que o caso é muito complexo e que se refere a uma pessoa com muita influência na estrutura militar de um Estado frágil.

O Politólogo criticou duramente o posicionamento do Departamento do Estado norte-americano que, na sua opinião, visa “simplesmente contribuir para criar as situações anormais, da desconfiança, da perseguição e de acusações dentro da estrutura militar, bem como a nível do próprio funcionamento do Estado da Guiné-Bissau”.

“Isso não é um ato correto. É verdade que os Estados Unidos, dentro da sua política externa, defendem os seus interesses, mas também há que levar em consideração os interesses dos Estados, sobretudo dos Estados como a Guiné-Bissau”, sublinhou.

Questionado se o Estado da Guiné-Bissau deve colaborar com os Estados Unidos para entregar o General Indjai, se for solicitado formalmente, respondeu que a colaboração é uma das exigências das relações internacionais, mas advertiu que neste âmbito vai depender da forma como é solicitada.

“Nós ainda não temos elementos que provem isso, que os Estados Unidos solicitam de forma legal a colaboração da Guiné-Bissau. Acho que o Estado da Guiné-Bissau deve pedir mais explicações aos Estados Unidos” assegurou, recordando que, em várias ocasiões, o chefe de Estado guineense pediu o levantamento das sanções impostas aos oficiais militares pelas Nações Unidas.

“Agora o Presidente da República tem um elemento. Achamos que estamos perante um fato que requeira o maior posicionamento do Estado da Guiné-Bissau, particularmente do Presidente da República, que deve sair, de momento, de mero populismo que até então estava a fazer para o momento de engajamento diplomático, onde deve liderar e acompanhar com todos elementos legais e com o envolvimento do judiciário para clarificar e posicionar dentro daquilo que é exigido para salvaguardar os princípios institucionais e legais no qual o Estado da Guiné-Bissau se inscreve”, salientou.

Esclareceu também que os Estados Unidos não solicitaram uma extradição, mas se percebe que a exigência dos norte-americanos é a captura de um criminoso, porque para eles o General Indjai tem colaborado com as FARC e tem contribuído para a desestabilização de alguns países da sub-região. 

Entretanto, O Democrata soube que as autoridades guineenses estão a analisar a situação para pronunciar-se. 

Por: Assana Sambú

Conosaba/odemocratagb.

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