segunda-feira, 9 de agosto de 2021

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[ENTREVISTA agosto_2021] O presidente do Instituto Nacional da Pesquisa Agrária (INPA), João Aruth, exortou o governo a investir seriamente no setor da agricultura, de forma a aproveitar as potencialidades agrícolas de que o país dispõe. Acrescentou que é preciso investir bem e inteligentemente na compra de equipamento agrícola, controlar a sua manutenção e investir na formação de recursos humanos.

“Existem bons agrónomos que devem ser motivados em termos financeiros e dotá-los de materiais de trabalho para que possam demonstrar o que sabem no terreno, dando apoio mais consciente para que o país possa desenvolver a área de produção em quantidade e qualidade”, assegurou o presidente do INPA na entrevista exclusiva ao semanário O Democrata para falar do funcionamento do Instituto Nacional da Pesquisa Agrária, que funciona em Bissau como sede central, bem com as quatro estruturas ou centros regionais, nomeadamente, o Centro de Bissorã, de Contubuel, Cabuchanque e Coli.

INPA FOI CRIADO PARA IMPULSIONAR À AGRICULTURA, MAS NÃO FOI DOTADO DE CONDIÇÕES DE FUNCIONAMENTO

Segundo João Aruth, no passado o INPA tinha o fundo próprio para funcionamento que o permitia realizar as suas atividades, mas a partir do conflito político de 1998, a instituição passou a funcionar por milagre de Deus, porque “nunca mais conseguiu ter o fundo próprio para funcionamento”.

“Desde então tem sobrevivido do bolo inscrito no Orçamento Geral do Estado, que serve apenas para pagar os salários dos funcionários”, disse.

De acordo com o presidente do INPA, o centro principal de Bissau tem uma função administrativa, recebe os programas elaborados pelos centros regionais, dá seguimento às atividades anuais que realizam e procura financiamentos para apoio aos centros regionais para que possam funcionar devidamente.

João Aruth informou que quando o INPA foi criado, tinha as condições para funcionar devidamente como um instituto comparativamente a esse momento, porque tinha fundo de funcionamento que o permitia realizar todas as suas atividades.

O presidente do INPA referiu que os centros criados no interior do país têm as suas funções específicas. Por exemplo, o Centro de Bissorã foi criado para realizar pesquisas ligadas à produção animal, o de Contubuel faz pesquisas de produção do arroz Bafon e outros cereais secos em fibra, mas neste momento está limitado apenas à produção das sementes e ao ensaio da adaptabilidade das sementes novas acabadas de chegar.

“O Centro de Coli tem a missão de fazer produção no domínio da horticultura e da fruticultura e o Centro de Cabuchanque está vocacionado para pesquisas sobre a produção de arroz”, precisou.

Questionado se o INPA está em condições de realizar pesquisas, de acordo com as normas exigidas e produzir documentos básicos orientadores para os agricultores nacionais, João Aruth disse que o INPA foi criado para dar o impulso à agricultura nacional, mas não foi dotado de condições necessárias para fazer o seu trabalho.

Neste sentido, revelou que devido a essa situação de vulnerabilidade e de precariedade com que tem funcionado, vários quadros bons deixaram o instituto para ingressar em outras instituições com melhores condições materiais e remuneratórias.

Apesar desse dilema, João Aruth assegurou que nem todos abandonaram o INPA.

“Alguns bons técnicos, com experiências comprovadas, resistiram à pressão e continuam a trabalhar, dando o seu máximo para a edificação daquela instituição”, indicou.

O especialista em matéria agrária disse acreditar que se forem criadas as condições para o seu funcionamento, os técnicos que ainda acreditam na viabilidade do projeto podem fazê-lo funcionar eficazmente e começar a realizar verdadeiras pesquisas, porque “na verdade a segurança alimentar não é apenas comer arroz”, salientou para de seguida frisar que ela (a segurança alimentar) depende da qualidade e da diversificação de alimentos, ou seja, para que as pessoas passem a comer o arroz, mas também tubérculos, feijão, batata doce e outros produtos indispensáveis para a alimentação variada do homem.

“Se forem criadas agora as condições materiais e financeiras através de fundos que eram disponibilizados para o INPA, retomaremos o nosso trabalho a cem por cento, porque até agora os poucos quadros que temos e que fazem funcionar o INPA são técnicos com uma larga experiência, mas também temos jovens recém-formados nessa área que estão com vontade de trabalhar, mas se continuarmos nesse ritmo de falta de condições, com certeza esses jovens determinados podem fazer outras escolhas, o que não é nem será bom para um país como a Guiné-Bissau com enormes potencialidades agrícolas”, alertou.

Convidado para falar de subsídios que os agricultores nacionais precisam, João Aruth enfatizou que o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural tem técnicos espalhados por todas as regiões que podem fazer um trabalho de seguimento das atividades dos agricultores para conseguirem boa produção agrícola.

JOÃO ARUTH LAMENTA A MONOCULTURA DO CAJÚ E ACONSELHA A DIVERSIFICAÇÃO DA AGRICULTURA

“Os técnicos que estão nas regiões são pessoas capacitadas nessa matéria, mas têm limitações no desempenho das suas funções derivadas de falta de meios materiais e financeiros. Tal como os que estão no INPA, também enfrentam os mesmo problemas, de maneira que pode ser difícil fazer o acompanhamento das atividades dos agricultores nacionais, mas seria ideal que tivessem apoios dos técnicos do Ministério da Agricultura, sobretudo no capítulo das recomendações sobre as melhores técnicas de produzir na Guiné-Bissau”, enfatizou.

E lembrou que a missão do Instituto é fazer testes de variedades de sementes agrícolas de três em três anos.

“Se os resultados forem bons para o nosso ecossistema, a direção geral de vulgarização do ministério de agricultura é chamada a intervir para vulgarizar essas variedades a nível nacional”, sublinhou.

Sobre a mecanização da agricultura na Guiné-Bissau, João Aruth assegurou que não vê as condições para essa mecanização da agricultura, porque isso depende muito das condições financeiras, portanto “não sei se o Estado estará em condições de adotar essa política, visto que os equipamentos agrícolas têm custos muito elevados”.

Contudo, sublinhou que a mecanização da agricultura “é indispensável”, porque “os produtores não podem continuar a fazer os trabalhos manualmente”.

“O trabalho que um trator pode fazer em uma hora, no mínimo vai precisar de 100 pessoas para fazê-lo no mesmo intervalo de tempo”, afirmou.

“Portanto, todo esse trabalho de mecanização precisa de investimento sério, porque a mecanização ajuda não só a romper o solo para a lavoura, mas também permite criar condições a nível do solo para gerir a água da melhor maneira possível”, sublinhou.

Em relação aos materiais que o instituto tem, João Aruth informou que o INPA recebeu apenas duas ceifeiras e debulhadoras do lote de materiais doados pela China e “penso que o governo fez a sua distribuição para todas as regiões”.

“Infelizmente, não posso determinar a quantidade atribuída a cada região. As ceifeiras que recebemos trabalham com dificuldades, porque há peças que devem ser trocadas de tempo em tempo, quando há avarias”, revelou e disse que os técnicos do INPA, para desempenharem cabalmente as suas tarefas, precisam de apoios da missão agrícola chinesa.

“Pode imaginar um trator com avarias em Quinara, Tombali ou na região Oio e que precise de apoio das autoridades para sua recuperação! Ela pode ficar parado por muito tempo até deteriorar-se por falta de manutenção”, lamentou defendendo que deve haver um bom seguimento e o uso racional dos equipamentos agrícolas que o Ministério da Agricultura recebe dos parceiros.

João Aruth afirmou que se a Guiné-Bissau quer aproveitar as suas potencialidades agrícolas deve investir seriamente na agricultura, comprar equipamentos agrícolas, controlar a sua manutenção e investir na formação dos recursos humanos. Acrescentou que existem bons quadros agrónomos que devem ser motivados em termos financeiros e dotá-los de materiais de trabalho para que possam demonstrar o que sabem no terreno, dando apoio mais consciente para que o país possa desenvolver a área da produção em termos de quantidade e qualidade.

Questionado se o solo guineense reúne condições para praticar qualquer tipo de agricultura, esclareceu que é preciso conhecer bem que tipo de solo o país tem e fazer a sua análise, porque “às vezes não é necessário colocar químicos no solo quando não se conhece e nem se sabe que tipo de solo é, o que acaba por intoxicar o solo e mudar toda a sua potencialidade, devido à sua reação contrária”. João Aruth disse que a melhor forma de evitar essa situação é estudar o solo para se saber qual são os seus componente em termos de elementos químicos.

Nesse sentido, o responsável apelou ao governo para pensar seriamente no investimento agrícola, porque “é através dele que tudo se impulsionará”.

Adiantou neste particular que “não é possível falar da indústria sem a matéria prima, não é possível falar do comércio sem a matéria prima, neste caso concreto, a exportação de cajú”.

João Aruth revelou que a forma como os pomares do cajú são plantados no país, de forma apertada, leva a que os produtores percam muita produção, porque não dispõem de um campo organizado em termos de espaçamento para que as copas das árvores se desenvolvam, o que possibilitaria produzir mais.

No seu entender, os governantes devem pensar muito no investimento agrícola.

“No passado, a Guiné-Bissau produzia sementes que mandava para alguns países vizinhos e os quadros desses países vinham à Guiné para apreender aqui em Cabuchanque. Hoje as coisas mudaram e estamos a receber sementes dos países vizinhos. Neste momento deixamos de fazer pesquisas e produzimos apenas para subsistência.

Um dia fui criticado por um dos meus colegas que dizia que a missão do INPA não era produzir sementes. Mas temos que fazê-lo porque o INPA precisa sobreviver e superar as dificuldades que tem vindo a enfrentar ”, defendeu.

O presidente do Instituto Nacional da Pesquisa Agrária afirmou que a agricultura poderia ser sido uma alavanca para o desenvolvimento, se houvesse um investimento sério. Acrescentou que atualmente, todos os produtos têm preço alto no mercado, devido a não diversificação dos produtos agrícolas no país. Porém, sublinhou que os agricultores guineenses não têm culpa, porque devem ser orientados tecnicamente.

Lamentou que atualmente os produtores tenham apostado mais na plantação do cajú, porque tem maior procura no mercado internacional, deixaram de produzir feijão, batata doce, mandioca, milho preto e milho Cavalo, mancarra, inhame, produtos que também fazem parte da dieta alimentar, como o milho bachil que é produzido um pouco por todo o país, bem como o arroz, a base da nossa dieta alimentar usada quase todas as refeições na Guiné-Bissau.

Por: Aguinaldo Ampa
Foto: A.A
Conosaba/odemocratagb

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