segunda-feira, 9 de agosto de 2021

AGRICULTORES PEDEM QUE A GESTÃO DA CAMPANHA DE CAJÚ PASSE PARA O MINISTÉRIO DA AGRICULTURA


[ENTREVISTA agosto_2021] O presidente da Associação Nacional dos Agricultores da Guiné-Bissau (ANAG), Jaime Boles Gomes, disse que a intenção dos agricultores guineenses é que nos períodos das campanhas de comercialização de cajú, o produto estratégico da Guiné-Bissau, que a gestão seja retirada ao ministério do Comércio e passe a ser feita pelo Ministério da Agricultura.

Jaime Boles Gomes afirmou que os agricultores decidiram avançar com esta proposta porque sentiram que estão a ser prejudicados pelo ministério do comércio.

Jaime Boles Gomes disse ao jornal O Democrata que o preço base de comercialização do produto não foi divulgado a tempo pelo governo, o que deveria ter acontecido no mês de abril, para que assim se facilitasse os produtores na venda das suas produções e assegurassem o sustento e a alimentação das suas famílias.

“A falta de controlo e a fixação de preço de referência anunciada (tardiamente) prejudicou de que maneira os agricultores”, sublinhou.

Jaime Boles Gomes disse que a Agência Nacional de Caju (ANCA), uma entidade criada para assumir a arbitragem do jogo comercial da campanha de cajú, não está a desempenhar esse papel, razão pela qual a sua organização pediu ao ministério da Agricultura que assuma essa responsabilidade para garantir que os agricultores não sejam explorados.

“O Ministério da Agricultura deve proteger os agricultores, porque o cajú é nosso, porque se não existisse cajú, não haveria a intermediação, comercialização, industrialização e exportação. Por ser um produto estratégico para o país, é o ministério da Agricultura que deveria assumir essa missão”, frisou.

O presidente da ANAG indicou que há quase um século não se vêem nenhumas melhorias no setor do cajú, antes pelo contrário continua a degradar-se, por isso é necessário envolver o ministério da Agricultura ao mais alto nível, atribuindo-lhe a responsabilidade de gestão do setor no seu todo, nomeadamente, a reorganização dos pomares, modernização de fator de produção respeitando a técnica recomendada de espaçamento entre pomares e entre as árvores e a sua manutenção, assistência e combate às pragas.

O presidente da ANAG quer ainda o envolvimento de técnicos em matéria de cajú descerem ao terreno, não os do ministérios do Comércio e das Finanças.

“O ministério da Agricultura deve assumir a gestão do produto estratégico no seu todo, desde identificação do solo apropriado para o cajú, as técnicas de espaçamento na plantação, a manutenção e assistência dos pomares e boas práticas de armazenamento para permitir que esse produto não perca a sua qualidade nos armazéns”, disse.

Questionado sobre quando a ANAG vai enviar a carta ao chefe do executivo sobre essa proposta de o ministério de agricultura passar a gerir o processo do cajú no para formalizar a proposta, Jaime Boles Gomes anunciou que a ANAG vai enviar uma carta ao primeiro-ministro solicitando que este analise a proposta, porque “o cajú é o petróleo e o ouro da Guiné Bissau, mas há vários anos e repetidamente que se fala da renovação dos pomares, mas nada aconteceu e o nosso produto é levado a cada ano em estado bruto, isso não é bom para país”.

ANAG: “GESTÃO DA CAMPANHA DE CAJÚ DESTE ANO É NULA E INEXISTENTE”
Sobre a campanha do ano em curso, Jaime Boles Gomes informou que o cajú funciona em cadeia, que vai desde a limpeza dos pomares nos meses de novembro, dezembro e janeiro, o que não aconteceu devido à proibição de aglomerações de pessoas em cumprimento das medidas de prevenção de contágio por coronavirus, o que influenciou negativamente a campanha deste ano esse foi o primeiro fator.

“A segunda fase é a colheita do cajú que também foi atingida negativamente, porque são grupos de mulheres que fazem esse trabalho e elas não conseguiram fazê-lo este ano pelo mesmo motivo”.

O responsável assegurou que o executivo devia gerir a campanha agrícola a partir do anúncio e fixação do preço de referência para a comercialização da castanha, o controlo das operações e fiscalização da campanha, mas isso infelizmente não aconteceu, porque “o governo fixou o preço no final da campanha, o que não foi respeitado pelos comerciantes nem controlado pelo ministério do Comércio, por isso a campanha agrícola 2021 foi considerada umas das piores campanhas de comercialização da castanha de cajú, porque não trouxe ganhos para os produtores, devido à pandemia da Covid 19, associada a outros fatores.

“O preço de referência anunciado pelo governo era 360 francos CFA por quilograma de castanha de cajú, mas o preço praticado no terreno em algumas zonas foi de 250 a 300 francos CFA e nenhum produtor conseguiu vender a sua castanha acima dos 360 francos CFA até ao fim da campanha, porque não foram observadas as medidas que deveriam permitir que os agricultores beneficiassem”, indicou.

Segundo Jaime Boles Gomes, o preço de castanha cajú subiu para 400 francos CFA, na compra do produto aos intermediários, que não são agricultores.

“Apenas alguns produtores, em número muito reduzido, que estocaram a castanha na altura em que os intermediários estavam a comprar ao preço de 200, 250 e 300 francos. Esses conseguiram vender ao mesmo preço que os intermediários. Portanto a campanha foi mal gerida”, criticou.

Jaime Gomes Boles disse que a pandemia da Covid-19 bloqueou a intervenção dos estrangeiros que todos os anos compravam a castanha no país e deixou o mercado mais folgado e sem concorrência.

Como consequência, o valor do produto caiu. Adiantou que o escoamento deste produto estratégico do país do interior para a capital Bissau aconteceu na época das chuvas, de maneira que a gestão da campanha “foi nula e inexistente”.

Para Jaime Gomes, quando uma campanha de comercialização de cajú fracassa, contribui negativamente para a campanha agrícola seguinte.

Adiantou que é o rendimento do cajú que é investido para a diversificação de outras atividades agrícolas, nomeadamente, feijão, batata, milho e mancarra, de maneira que haverá reflexos profundos na vida dos produtores agrícolas.

O presidente da ANAG frisou que a Guiné-Bissau é único país a nível da sub-região que não dispõe de um banco agrícola nem de um banco de investimento e micro finanças para os agricultores submeterem projetos a empréstimos a fim de estarem em condições de produzir diferentes produtos. Assim, qualquer anomalia na comercialização da castanha, acaba por afetar outras atividades agrícolas dos produtores.

Por: Aguinaldo Ampa
Conosaba/odemocratagb

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