sexta-feira, 2 de junho de 2017

«OPINIÃO VII» JOSÉ CARLOS SCHWARZ – RECRUTA EM BOLAMA - JUSTINO SANCHES CORREIA – BOLAMENSE [CARTA ABERTA MULHER E OS FILHOS]


D. TERESA LOFT FERNANDES, com muito prazer que lhe dirijo esta carta aberta, foram muitos anos, não sei se lembra aquando do seu falecido marido, era RECRUTA, a cumprir o serviço militar em Bolama.

Vi a sua entrevista na repórter África, não deixarei de fazer uma pequena síntese de pouco tempo que privei com o seu falecido marido, era um homem bom sobretudo “palavra de rei não volta atrás”.

O seguinte:
Foram passar fim de semana em Bolama, com o seu filho era recém-nascido, estiveram hospedados na casa do falecido, Sr. Manuel Miguel da Costa, era funcionário da Imprensa Nacional de Bolama e a mulher D. Eurisanda Costa, enfermeira, era funcionária de saúde do respetivo hospital. Fui vizinho do casal o meu nome JUSTINO SANCHES CORREIA.

 O seu falecido marido, esteve na vossa companhia, na casa do respetivo casal, passou-lhe, a hora de entrada no quartel, tinha licenças nesta altura até às 21h00 /24h00. passaram esses dois períodos, quando chegou ao quartel, após de última hora o portão do mesmo esteve fechado, não ariscou, senão apanhava castigo. Nestas circunstâncias era impedido de sair do quartel no dia seguinte, sem ver a família, creio, regressariam a Bissau no mesmo dia domingo.

Ele … voltou a casa, preocupado com o seu instrumento musical (viola), onde estiveram hospedados com o filho, já era tarde; não quis, incomodar aquele casal amigos.

O moral das estórias, quando cheguei do meu passeio à noite, não o conhecia, vi, cumprimentei-o boa noite Sr. militar, respondeu-me, estive com ele, em breves conversas, explicou-me a situação na altura, ele esteve com uniforme militar, sentado no passeio da casa no chão ao pé de um poste de luz a musicar, sentiu o barulho do carro, dizia-me, é pá!… É patrulha do serviço militar, interrompeu a conversa, que íamos tendo, levantou-se, rapidamente, refugiou-se numa zona escura, para não ser visto àquela hora, fora do quartel.  

Após a passagem do patrulhamentos, perguntei-lhe o nome, dizia-me: JOSÉ CARLOS SCHWARZ para mim o apelido era estranho, dizia-me: amigo de Aliu Bari, dizia-lhe não conhecer, ficou perplexo, dizia-lhe, mais isso não interessa, ficou à vontade.

Continuamos nas nossas conversas na sua abordagem com emoção, falou-me de Domingos Badinca e Domingos Gomes e outros na prisão de Bissau.
Estes dois indivíduos acima mencionados eram funcionários públicos da Imprensa Nacional em Bolama. O segundo foi deportado para ilhas de galinhas; mas numa situação bastante crítica, não havia possibilidade de sobrevivência, esteve lá pouco tempo, a sua saúde piorava dia após dia, inspirava o cuidado médico.

…… foi   transferido para Hospital de Bolama, estive de uma visita privado com [ele], dizia-me, que não resistiria que os seus órgãos internos, esteve pisados urinava sangue. Dizia-me, a luta era assim; éramos colegas de trabalho, com emoção, despeço dele e agradecia-me a minha visita. Passados alguns tempos morreu.

O então governador da província da Guiné, o Sr. Marechal António de Spínola, no quadro de Juramento de bandeiras aos militares no seu discurso, dizia: haviam ninhos de terroristas em Bolama.

Convidei o seu falecido marido, para abandonar àquele sitio, viesse, dormir no meu quarto, acedeu, sem que a família soubesse.

No dia seguinte arranjei a água para higiene pessoal dele, ficou satisfeito comigo, perguntou-me, se tivesse família em Bissau, dizia-lhe, tenho a minha mãe e a zona? Expliquei-lhe! Quando eu tenciono ir a Bissau? Disse-lhe; estaria em Bissau 22 de dezembro.

Após as nossas conversas, volta das 09h00, dizia-me, que iria bater a porta que as famílias já estão acordadas, deu duas pancadas na porta, a mulher, veio, abriu a mesma, ficou assustada e viu o marido àquela hora, supostamente, pensava que chegava mais tarde, não sabia que ele estivesse ao lado, pernoitava no meu quarto.

Ele explicou-lhe, o que havia acontecido e apresentou-me, a mulher, D. Teresa e o filho no colo dela. Agarrei o miúdo pós no meu colo, brinquei com ele, breves instantes, depois, entreguei o recém-nascido aos pais, despeço do casal e fui a minha vida.

No dia 23 dezembro, ele foi a casa onde vivia a minha mãe, só que não me encontrou, tinha saído. Deixou o recado com a minha mãe, dizia-lhe; que vivia na zona de Coqueiros; para ir lá ter, gostaria imenso de estar comigo. Haviam tantos assuntos a tratar, não foi possível contatá-lo. Acabei por regressar a minha terra, era funcionário público na Imprensa Nacional de Bolama.

Em 1977, encontramos na Rua Praia da Vitória, no Consulado da Embaixada da Guiné-Bissau, em Portugal, eu a subir escadas e ele a descer, quando me viu, gritou o meu nome: Justino! Abraçou-me, efusivamente, com palmadas nas minhas costas, esteve com uma enorme alegria, de me ter encontrado em Lisboa.

Dizia-me, Justino, vou à HAVANA CUBA, assim, que regressar, estaríamos juntos, tinha muita coisa para nos falarmos.

Não deixarei de testemunhar, a alma de JOSÉ CARLOS SCHWARZ, a sua sensibilidade, sofria imenso, com os prisioneiros políticos em Bissau e nas ilhas de galinhas nas prisões nas mãos dos carrascos da PIDE.

Foi com uma grande consternação e estupefação que soube das notícias, do trágico acidente de aviação que vitimou este grande camarada, cantou e musicou o seu POVO.

Que Deus lhe abençoe!
 Abraços fraternos a toda a família e desejo infinito.
POR: JUSTINO SANCHES CORREIA
                 BOLAMENSE

PORTUGAL 30 DE MAIO DE 2017

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