Um novo tiroteio entre as forças moçambicanas e militares da Renamo em Inhaminga, no centro de Moçambique, forçou a fuga da população para as matas, deixando a vila deserta, disse hoje à Lusa um padre residente no local.
Adelino Fernandes, padre da congregação do Sagrado Coração de Inhaminga, província de Sofala, disse que cerca das 05:50 (03:50 de Lisboa) houve um forte tiroteio na vila de Cheringoma, sede de Inhaminga, que se prolongou até perto das 07:00.
"Quando cessou o tiroteio a população começou a fugir para as matas. Dezenas [de pessoas] atravessaram a linha férrea e foram caminhando para o sentido do distrito de Marromeu [noroeste de Sofala]", disse Adelino Fernandes, descrevendo uma situação de insegurança na região.
O padre contou ainda que na sexta-feira, um grupo da tropa estatal avisou a população próximo da zona onde hoje ocorreu o tiroteio para se retirar.
"Com esta situação, cancelámos uma peregrinação a Murassa, porque não havia condições de segurança. A sete quilómetros do local onde estamos, há um comando da polícia e o local estava agitado esta manhã", disse Adelino Fernandes.
A Lusa tentou em vão ouvir o administrador local.
Daniel Macuácua, porta-voz da polícia da província de Sofala, disse à Lusa não ter conhecimento do tiroteio na região, remetendo esclarecimentos para um momento oportuno.
O ministro do Interior moçambicano confirmou na sexta-feira novas operações das forças de defesa e segurança para recolher armas em posse da guarda da Renamo, em Gorongosa (Sofala) e Morrumbala (Zambézia), centro de Moçambique.
A polícia, disse Basílio Monteiro em declarações aos jornalistas na Gorongosa, "tem todo interesse que prossiga [a busca de armamento da Renamo] até desativar o último 'ninho' [base dos militares da oposição] e deixe o país totalmente tranquilo".
A polícia iniciou a operação de recolha de armas da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) no dia 09 de outubro, quando forças especiais cercaram e invadiram na Beira a casa do líder do principal partido da oposição, Afonso Dhlakama, e prenderam por algumas horas sete elementos da sua guarda.
O cerco só terminou quando Afonso Dhlakama entregou 16 armas da sua guarda pessoal ao grupo de mediadores do diálogo entre a Renamo e o Governo, que por sua vez o deixou à responsabilidade da polícia de Sofala.
A operação policial ocorreu um dia depois de o líder da oposição ter reaparecido na serra da Gorongosa, ao fim de duas semanas em parte incerta, na sequência de dois incidentes envolvendo a sua comitiva e as forças de defesa e segurança.
Antes dos acontecimentos na Beira, registaram-se três incidentes em três semanas com a Renamo, dois dos quais envolvendo a comitiva do presidente do partido.
A 12 de setembro, a caravana de Dhlakama foi emboscada perto do Chimoio, província de Manica, num episódio testemunhado por jornalistas e que permanece por esclarecer.
A 25 do mesmo mês, em Gondola, também na província de Manica, a guarda da Renamo e forças de defesa e segurança protagonizaram uma troca de tiros, que levou à partida do líder da oposição para lugar desconhecido.
Uma semana mais tarde, forças de defesa e segurança e da Renamo confrontaram-se novamente em Chicaca (Gondola), com as duas partes a responsabilizarem-se mutuamente pelo começo do tiroteio.
Dhlakama não é visto em público desde o cerco à sua casa na Beira, a 09 de outubro.
Moçambique vive novos momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de outubro do ano passado e pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.
Lusa/Conosaba
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