Tonelada atrás de tonelada, a castanha de caju continua a ser o motor da economia da Guiné-Bissau: todos quantos podem estão a plantar a árvore para colher o fruto, extrair a castanha e exportar.
O dinheiro da campanha agrícola (que vai de março a agosto) serve para no resto do ano as famílias terem o que comer.
O caju serve para comprar arroz, base da alimentação – às vezes funciona a troca direta.
Este ano, o mercado internacional está favorável, com aumento de procura e preços em alta.
De acordo com as previsões do Governo (entretanto demitido pelo Presidente da República em agosto), a Guiné-Bissau pode exportar 200 mil toneladas em 2015 face a 136 mil toneladas exportadas em 2014.
No terreno, a campanha arrancou com um preço de referência de 300 francos CFA por quilo e já ultrapassou os 600 – um valor inferior a 50 cêntimos de euro que saltou para perto de um euro.
Nos campos fala-se de um ano histórico para o rendimento dos agricultores. Jaime Gomes, presidente da Associação Nacional dos Agricultores da Guiné-Bissau (ANAG) explica que a subida do preço deve-se ao “arranque tardio da campanha” – no mês de abril, quando em condições normais devi iniciar-se em março – e ainda à valorização do dólar.
O presidente da ANAG acredita que a campanha deste ano “vai ser boa para os produtores” que considera terem sido “explorados” nos últimos anos. A castanha chegou a ser comprada por menos de 100 francos CFA (15 cêntimos de euro) por quilo em anos anteriores.
A Índia é a principal compradora do caju da Guiné-Bissau e terminou 2014 com os armazéns vazios, pelo que a demanda tem sido alta.
“Temos um país de armazéns para exportação, em vez de fábricas”, lamenta Delfim da Silva, professor de História, membro histórico do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Uma das suas últimas publicações é uma coletânea de textos históricos sobre a Economia do país.
“Hoje, o setor privado só exporta castanha de caju. Até nos anos 40 havia maior diversificação”, refere.
Na altura, saiam da Guiné-Bissau para o mundo produtos como amendoim, óleo de palma e arroz, mas, na atualidade, “a Guiné-Bissau tem uma monocultura que nem existia no período colonial”.
Delfim da Silva pensa que parte do papel reformista está nas mãos do Estado, mas aí é “o próprio Estado que tem que se reformar para ter uma política económica”.
“O setor privado não pode limitar-se a importar e exportar produtos naturais. Precisamos das fábricas para ser uma economia de valor acrescentado, não uma economia de toneladas de caju” destaca.
A criação e riqueza é urgente para arrancar a população das aflições mais básicas.
Na sequência da fraca colheita na campanha agrícola 2014/15, agências das Nações Unidas em conjunto com o Governo guineense fizeram em março uma avaliação rápida do impacto na segurança alimentar e nutricional das famílias mais vulneráveis.
As conclusões obrigaram a mobilizar ajudas: mais de 90% dos agregados familiares inquiridos referiram que os rendimentos das culturas tinham caído consideravelmente em comparação com a campanha anterior, agravando a capacidade de comprar alimentos.
Por outro lado, 51% das famílias indicou que tinham cereais guardados para apenas um mês.
A avaliação revelou que 80% dos domicílios nas regiões mais afetadas – Cacheu, Oio, Bafatá e Gabú – vão ter falta de sementes para o ano 2015/16.
“Os esforços para reduzir a insegurança alimentar e nutricional no país têm sido liderados pelo Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural, com o apoio do Programa Alimentar Mundial (PAM) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)”, destaca o último relatório da ONU no país.
O impacto de uma economia debilitada revela-se logo na forma como limita a capacidade dos mais novos: de acordo com os indicadores divulgados este ano pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Ministério da Saúde da Guiné-Bissau, a má nutrição continua a atrasar o crescimento de cerca de um terço das crianças do país.
independenciaslusa.info/Conosaba
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