Sem querer ferir a sensibilidade de ninguém, simplesmente afirmo isso: importar menos e produzir mais para alimentar e exportar!
Sem qualquer espécie de exagero e longe de qualquer intenção propagandística, a luta do PAIGC, “enquanto movimento de libertação”, foi uma das mais exemplares lutas de libertação de toda a história das revoluções do mundo. Contudo, o meu objetivo não é debruçar-me sobre a luta de libertação nacional mas sim sobre os novos desafios que foram iniciados e não tiveram pernas para andar. Já lá vão quase 45 anos de independência e ainda andamos à deriva.
A agricultura será sempre a base para o progresso de toda a sociedade e deverá permitir a necessária acumulação de riqueza para o lançamento da própria industrialização. Quem sobrevoar o território da Guiné-Bissau facilmente se depara com grandes extensões de terrenos ao abandono, terras férteis ainda virgens para a prática da agricultura. Em geral, a Guiné-Bissau é rica em florestas e desde há muito tempo que exporta madeiras adequadas para a construção naval e para construção civil.
Tanto falam da existência de petróleo, bauxite, fosfato, inertes etc… etc…ainda não vi nada! Não podemos contar com ovo dentro da galinha, por isso, bla bla não nos leva a lado nenhum.
É urgente apoiar a nossa agricultura e os nossos camponeses, estar atento às necessidades reais da população e procurar dar-lhes respostas concretas. Sem muitos rodeios, o arroz continua a ser a base da alimentação do povo guineense, mas o povo também não pode comer só arroz.
Dos três tipos de arroz cultivados na nossa terra, o arroz de bolanha é o mais produzido. Temos também o arroz de sequeira e de imersão profunda.
Como sabemos, durante o colonialismo, o esquema de produção agrícola na Guiné-Bissau reduzia-se ao arroz para alimentar e mancarra (amendoim) para exportar. A Guiné-Bissau gasta muitas divisas (Codou, Djaudi, Cumbu, bufunfa, Itaca, ndjame, psilo bu tak) com a importação de bens alimentares mas, o regime alimentar da população é deficientíssimo, provocando carências que estão na origem de muitas doenças.
Assim sendo, temos que melhorar o regime alimentar da população. É urgente incentivar a produção hortícola e frutícola. A produção deve incidir sobretudo no cultivo da mandioca, batata, feijão, cenoura, couve, alface, tomate, e milho. Pode também incentivar-se o cultivo do “ cereal fundo” que é muito bom e está provado cientificamente a sua importância no combate à diabete e do “ nina badadje” que também combate vários tipos de doenças tropicais.
A população deve consumir sumo natural de frutas de forma a melhorar e alterar o seu regime alimentar! Pode realizar-se uma campanha de aumento da plantação das frutas tradicionais, tais como a papaia, banana, laranja, tangerina, limão, manga, fole, farroba, tambarina, veludo, entre outras.
Não posso falar (papiar) da agricultura sem tocar um pouco nas restantes atividades do sector primário: por exemplo, a pecuária e a pesca. Na altura, após a independência, só existia no país dois grandes aviários, em Bissau e em Bassorá. Talvez de momento não temos nenhum…não afirmo, porque vivo fora do meu país, já la vão uns anos.
Deve apostar-se por um lado também na criação e no melhoramento das raças bovinas existentes, através de experiências de cruzamentos e da inseminação artificial.
Por outro lado, a Guiné-Bissau é rica em peixe, uma riqueza ainda pouco aproveitada dado os fracos recursos técnicos mas que, mesmo assim, constitui um elemento fundamental da alimentação do povo. A última vez que estive em Bissau foi em fevereiro deste ano. Visitei o mercado central e fiquei perplexo de ver camarão tigre (gigante), peixe fresco de todo tipo em grande quantidade e apanhados no nosso mar!
Enfim, meus senhores e minhas senhoras termino por aqui dizendo que as carências são de toda a ordem mas as potencialidades são grandes. E agora, a frente do combate é esta: explorar todos os recursos da mãe natureza através do trabalho conjunto ao serviço da nação!
Obs: artigo actualizado
Matosinhos (Portugal), 17 de Dezembro de 2013.
Pate Cabral Djob
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