[ENTREVISTA_junho_2021] O centro de saúde do setor de São Domingos, região de Cacheu no norte da Guiné-Bissau, depara-se com falta de equipamentos, nomeadamente aparelho de raio X para atendimento de casos que requeiram esse tipo de serviço. Desde a sua reabilitação pela Cruz Vermelha Internacional e da sua reinauguração a 19 de abril 2010, nunca foi instalado aquele equipamento. Também depara-se com falta de condições para o tratamento de pacientes que necessitem de exames de raio X e outros serviços, de acordo com a revelação feita pelo diretor do hospital durante uma entrevista concedida ao Jornal O Democrata, para falar da situação do centro e das doenças mais diagnosticadas atualmente no setor.
Para além do raio X, o diretor do Hospital revelou ainda que o laboratório tem um aparelho bioquímico, mas que se limitam apenas a realizar análises de modo que são obrigados a fazer mais solicitações a estruturas sanitárias onde os pacientes possam receber tratamento.
DOENTES GRAVES OU CASOS DERIVADOS DE ACIDENTES SÃO EVACUADOS PARA SENEGAL OU BISSAU
De acordo com o nosso entrevistado, a falta do aparelho de raio X tem dificultado o exercício de funções dos técnicos de saúde que trabalham naquele centro. Miguel Isna Loa Mã afirmou que muitas vezes, quando têm casos graves derivados de acidentes de viação ou de outra natureza, os feridos ou as vítimas que necessitarem de raio X são evacuados para Ziguinchor ou para Bissau. Contudo, disse que tem sido recorrente evacuá-los para Ziguinchor, porque fica mais perto do setor de São Domingos e garante que o paciente corre menores riscos, sobretudo no que tem a ver com as condições de atendimento e de eficácia no tratamento de casos complexos.
“Os doentes são evacuados mediante consentimento e decisão dos familiares, não de forma aleatória ou por imposição. Fazemo-lo só em circunstâncias em que a patologia do doente ultrapassa as nossas capacidades de resposta”, indicou.
Em relação ao transporte, sublinhou que têm grandes dificuldades, tendo em conta as más condições das estradas: “como é de conhecimento de todos, as nossas estradas exigem ter caros em boas condições a fim de permitir um bom trabalho”.
“O centro tem duas ambulâncias, mas uma delas não está em condições para continuar a circular, tendo em conta as más infraestruturas rodoviárias. A segunda já está com problemas porque faz trabalhos fora do limite e tem sofrido muitas reparações”, precisou e disse que o centro de saúde de São Domingos não tem condições para repará-las, porque “a peça avariada não existe no mercado interno e “podem acreditar, tentámos de todas as formas, mas não conseguimos foi só perda de tempo”.
MIGUEL MÃ: “CRISE SANITÁRIA E A GREVE NO SETOR DE SAÚDE FIZERAM CAIR AS RECEITAS DO CENTRO”
Miguel Isna Loa Mã informou que, devido à crise sanitária provocada pela pandemia da Covid-19 que assola o mundo e a Guiné-Bissau e à greve que se regista no setor de saúde, as receitas do centro caíram, porque há pouca afluência de pacientes ao centro.
“Prestamos apenas o serviço mínimo para pagar aos funcionários contratados e permitir que outros serviços funcionem normalmente” assinalou, acrescentando que o centro tem três médicos, 18 enfermeiros e 4 parteiras. O centro é do “tipo A” e tem os serviços de: Consultas, Urgências, Oftalmologia, Cirurgias, Maternidade, Farmácia, entre outros.
Questionado se os três médicos podem responder às necessidades das populações e assegurar os serviços do centro, respondeu que dada à localização geográfica do centro, há toda a necessidade de ter mais médicos tendo em conta o aumento da população daquela zona, contudo, enfatizou que com o número dos pacientes que o centro recebe, dá para articular os serviços com os três médicos.
Em termos de medicamentos, disse que o centro compra medicamentos a uma farmácia e revende-os aos pacientes a preços razoáveis. Quanto a apoios, Miguel Mã disse ter recebido apoios, em medicamentos, da parte do Programa Integrado para a Redução da Mortalidade Materna Infantil (PIMI) para dar facilidade à população que beneficia de medicamentos gratuitos.
Relativamente a doenças mais frequentes que se registam no centro, afirmou que os casos mais frequentes que o centro tem recebido ultimamente, com maior frequência, têm a ver com “Gripes e Tifóide”. Frisou que é urgente uma intervenção das autoridades sanitárias na região para equipar o centro, colocar recursos humanos suficientes para que possam ultrapassar as dificuldades que têm vindo a enfrentar e permitir que os técnicos trabalhem com mais e maior facilidade e garantir à população o acesso aos cuidados primários de saúde.
Em relação à situação epidemiológica da Covid-19 em São Domingos, o diretor do hospital local admitiu a existência de casos da doença no setor, mas não avançou o número exato de casos. Porém, afirmou que desde que foi declarado o primeiro caso de contaminação por Covid-19, registou-se um óbito e para evitar a propagação criou-se um centro de internamento.
Salienta-se que o Centro de Saúde Materno-Infantil de São Domingos foi criado para cuidar de 14.750 crianças, 3.900 grávidas e garantir cuidados básicos de saúde a mais de 85.000 pessoas em áreas como consultas pré-natais, a vacinação, a puericultura, a pediatria e a terapia VIH/SIDA.
Por: Carolina Djemé
Fotos: C.D - Conosaba/odemocratagb
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