Kumba Ialá, segundo presidente democraticamente eleito da Guiné-Bissau, foi destituído por um golpe de estado há 17 anos (14 de setembro de 2003), pelo “Comité Militar para a Reposição da Ordem Constitucional e Democrática”.
Veríssimo Correia Seabra, então chefe de estado maior general das forças armadas guineenses, era o líder do golpe, que não encontrou resistência. Não houve um único tiro e Kumba Ialá foi detido e colocado em “prisão domiciliária”.
Ialá, que é, até agora, a figura eleito com a maior percentagem dos votos, na história da Guiné-Bissau (72%), nunca se conformou com o seu afastamento, chegando a lançar farpas, publicamente, a Veríssimo Seabra, e alegava que tinha tudo para dar para melhorar a Guiné-Bissau, se lhe deixassem continuar na presidência da república.
Em janeiro de 2005, o chefe de estado maior das forças armadas, Tagme na Waie, acusou Kumba Ialá, quando o país estava no período de transição e à espera das eleições presidenciais, de ter ocupado a “Casa de pedra”, em Bissau ( casa do estado e residência de Kumba Ialá enquanto presidente da república), com o apoio de alguns militares, chegando mesmo a dar ultimato para que aqueles que o levaram ao local, o retirassem de lá, “antes que fosse tarde”. Mas no mesmo dia, à imprensa, Kumba Ialá negou que tivesse estado na “Casa de Pedra”.
Nem o golpe de 14 de setembro de 2003 e nem nenhum outro conseguiu endireitar o país. A onda de violência não parou na Guiné-Bissau. Em 2004, o chefe de estado maior das forças armadas Veríssimo Correia Seabra (substituído depois por Tagme na Waie) foi assassinado, um ano depois do golpe que o próprio liderou contra Kumba Ialá. O assassinato foi assumido pelos soldados guineenses que estiveram na Libéria, ao serviço da ONU, para a manutenção da paz naquele país da África Ocidental, que estava em guerra civil. Os revoltosos acusavam as chefias militares de corrupção e de alegado desvio do fundo, que era destinado para o seu pagamento. Um fundo que afinal, nem tinha sido ainda desbloqueado pelas entidades internacionais, confirmaram as mesmas.
As eleições presidenciais seguidas, em 2005, foram ganhas por Nino Vieira, que também viria a ser assassinado na sua residência, em 2009, horas depois do assassinato do chefe das forças armadas, Tagme na Waie. Nesse ano, outras figuras destacadas da política guineense, os deputados Hélder Proença e Baciro Dabó, dirigentes do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), foram assassinados. As vítimas, que eram próximas de Nino Vieira, foram acusadas pelas autoridades guineenses de alegada tentativa de golpe de estado, para depor as chefias militares, o presidente interino Raimundo Pereira e o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior (Cadogo).
Outros assassinatos de figuras públicas seguiram-se e a instabilidade política é ainda evidente na Guiné-Bissau. 17 anos depois do afastamento de Kumba Ialá do poder, a estabilidade é ainda uma “miragem”.
O país tem um presidente eleito, Umaro Sissoco Embaló, que acabou de ser legitimado pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ), mas cuja ascenção ao poder gerou polémica e algum período de incerteza. Apesar de a vitória de Embaló ter sido declarada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), este decidiu assumir a presidência da república, ainda com o contencioso eleitoral por decidir, na máxima instância da justiça.
Por CNEWS
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