quarta-feira, 30 de setembro de 2020

FALSOS NACIONALISTAS

 

A polarização política que se vivi na Guiné é preocupante. A famosa frase da música, “pequeno no tamanho grande pela fama”. Nosso amado país sempre faz eco da sua fama. O mês de setembro, que inaugura a nossa soberania enquanto estado nação1973, devia ser um mês de extraordinária reflexão.

O recente caso de alguns guineenses, de pisarem nas bandeiras do Senegal e da Nigéria, como ato incontrolável das emoções política, reforça a ideia de que muitos jovens vivem um nacionalismo barato.

Sérgio Buarque de Holanda, um dos melhores historiadores do Brasil, caracteriza o povo brasileiro como pessoais cordiais. Ou seja, que agem pelo impulso do sentimento (coração), da mesma intensidade que se amam, é assim que reagem ao antagonismo. Amam, e desejam com intensidade, é assim que se matam com intensidade por via do coração. Felizmente, esse paradoxo ainda não constitui campo semântico da nossa sociedade.

Por via da política, esse sentimento de agir pelo impulso de coração está crescendo a cada tempo.  

O caso recente vergonhoso de pisar em bandeiras estrangeiras de dois das maiores potências militares, econômica e política da região, foi um ato de burrice e sentimento descontrolado com o nosso país. Bandeira é símbolo cultual de um país, carrega história e sangue de muitos países. Talvez a leitura de Samuel P. Huntington o choque das civilizações ajudaria a compreender em que o ato poderia dar. Pois segundo ele, os conflitos se dão atualmente na base da cultura. Respeitar qualquer símbolo cultural de qualquer que seja povo, raça ou agregado é saber respeitar os mitos fundantes e as diversidades que constitui o mundo.

Saber separar liberdade da libertinagem, é saber agir pela razão e não pelas emoções.

O caso da mudança da avenida Caetano Semedo para com o nome do presidente senegalês Macky Sall, exige duas leituras: 

Primeiro, por uma análise a partir de um pequeno panorama histórico do nosso país, sobre esse impulso de um nacionalismo barato. Segundo, por uma análise com base no campo das relações internacional que dá ao ato de um mero jogo político.

Por isso, precisamos lembrar aos nacionalistas baratos que, nunca fomos um povo desrespeitoso com outros povos e culturas. Por cinco séculos, fomos invadidos, dominados e colonizados pelos portugueses (europeus). Resistimos, lutamos e com sangue e suor dos nossos saudosos combatentes, tomamos a nossa independência territorial. As outras independências, política, econômica e demais, não ouso afirmar que temos o controle. Por todo esse período da dominação europeia, fomos vistos e tidos como anormais para não dizer máquinas do trabalho capitalista. Por via armada, conseguimos nossa independência, fomos gigantes em apertar as mãos com os colonizadores portugueses. O que me leva ao saudoso Amílcar Cabral com seu brilhantismo pensamento, “devemos saber separar a ideologia colonialista do Estado português com o povo português. Ou seja, a guerra é contra a colonização portuguesa, não contra o povo português”

A nossa história de relação com outros povos, sempre foi norteado na base de respeito, reciprocidade e hospitalidade que é a nossa cara. Nunca antes tenhamos feito atos dessa envergadura. Repudiar esse comportamento, é entender que atos isolados como o assassinato em 28 de junho de 1914 em Sarajevo do arquiduque Francisco Fernando herdeiro do império Austro-Húngaro por um nacionalista, levou o mundo ao conflito, que ceifou milhares de vidas inocentes. Que ficou denominado como a I Guerra Mundial 1914-1918.   

Sentimos ofendidos quando o Mc Roger usou da fala pejorativo a respeito com o nosso país. Não façam aquilo que não gostariam que sejam feitas a te.

Eu, Idrissa da Silva, guineense e estudante de curso de História, repúdio a mudança de nome da avenida Caetano Semedo para Macky Sall, foi um ato que afronta a nossa história nacional e como guineense em particular. Pois dar sentido a uma avenida a um cidadão estrangeiro que nunca radicou no nosso país, foi uma forma de desmerecer a contribuição dos nossos combatentes de liberdade da pátria. Honrar os mortos e respeitar os vivos, a Guiné ainda carece desse vocabulário para com os nossos gloriosos.

Eu, Idrissa da Silva, guineense e especializando em relações internacionais, compreendo perfeitamente esse ato. A famosa frase, quem me seduz me controla. Seduzir a maior potência econômica e política da nossa zona geografia é aliciar e buscar proveito do jogo política internacional. Compreender o xadrez político é compreender o ato do presidente Umaro Sissoco Embaló.

Sejam nacionalistas éticos, e não nacionalistas levianos.

Me encontro em outra margem da guinendade.

FIDJU DE DJINTI DA SILVA

Mestrando em História e especializando em relações internacionais contemporâneas pela UNILA

 

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