Militares malianos, numa imagem de arquivo.
© EPA/MOHAMED MESSARA
Soldados da guarnição de Kati, onde também teve origem o golpe de Estado de 2012, terão feito várias detenções. Portugal tem desde 1 de julho uma Força Nacional Destacada no Mali, no âmbito da Minusma, que inclui 63 militares da Força Aérea Portuguesa e um avião de transporte C-295.
Vários soldados malianos da guarnição de Kati, no sul do Mali, detiveram hoje vários responsáveis governamentais e militares num aparente motim, suscitando receios de um possível golpe de Estado após meses de contestação contra o presidente.
Segundo a AFP, que cita o alegado líder dos amotinados, o coronel Sadio Camara, o presidente Ibrahim Bubacar Keita, que enfrenta há dois meses protestos sem precedentes desde o golpe de 2012, e o primeiro-ministro Boubou Cissé terão sido detidos.
De acordo com a agência Associated Press (AP), ainda não é contudo claro quem são os responsáveis pelo tumulto, mas a agitação teve início no mesmo quartel militar onde se originou o golpe de Estado de 2012.
Na capital, Bamako, a cerca de 15 quilómetros de Kati, vários funcionários do Governo abandonaram os seus escritórios após a entrada de homens armados, que começaram a deter em prisão domiciliária os responsáveis, como o ministro das Finanças maliano, Abdoulaye Daffé.
"Os funcionários estão a ser detidos. É uma confusão total", afirmou um funcionário do Ministério da Segurança Interna, sob anonimato.
Nas ruas de Kati podiam ser vistos carros blindados e veículos militares.
Na plataforma Twitter, a embaixada francesa em Bamako aconselhou os residentes na capital e em Kati a permanecerem dentro de casa. Um voo que devia partir esta tarde de Paris foi cancelado.
Semelhança com golpe de 2012
Segundo a AP, os acontecimentos de hoje assemelharam-se aos que em 2012 desencadearam um golpe militar que deu início a uma espiral de caos no Mali.
Em 21 de março de 2012, um motim teve início no campo militar de Kati, quando soldados se revoltaram e invadiram o arsenal militar do campo.
Após obterem as armas necessárias, os revoltosos dirigiram-se para a sede do Governo, liderado pelo então capitão Amadou Haya Sanogo.
Eventualmente, Sanogo foi forçado a entregar o poder a um governo de transição civil, que organizou as eleições de 2013.
Eleito em 2013, o atual presidente, Ibrahim Boubacar Keita (IBK), tem enfrentado uma pressão crescente, com a sua popularidade a diminuir, havendo atualmente um movimento dedicado a afastar o chefe de Estado maliano.
O presidente Ibrahim Bubacar Keita.
© Michele CATTANI / AFP
Em resposta ao motim, os EUA, através do seu enviado ao Sahel, Peter Pham, opuseram-se a qualquer mudança no Governo que não cumpra a Constituição maliana.
"Estamos a seguir com preocupação o desenvolvimento da situação no Mali. Os EUA opõem-se a qualquer mudança de Governo extra-constitucional, quer seja pelos que estão nas ruas, quer pelas forças de defesa e segurança", escreveu Pham na plataforma Twitter.
Um dos catalisadores da atual crise política no Mali foi a invalidação, no final de abril, de 30 resultados das eleições legislativas pelo Tribunal Constitucional, incluindo cerca de uma dezena em favor da maioria parlamentar.
A decisão, aliada a fatores como o clima de instabilidade e insegurança sentido nos últimos anos no centro e norte do país, a estagnação económica e a prolongada corrupção, instigaram várias manifestações contra IBK.
Tropas portuguesas
Portugal tem desde 1 de julho uma Força Nacional Destacada no Mali, no âmbito da Minusma, que inclui 63 militares da Força Aérea Portuguesa e um avião de transporte C-295.
O objetivo do destacamento português é assegurar missões de transporte de passageiros e carga, transporte tático em pistas não preparadas, evacuações médicas, largada de paraquedistas e vigilância aérea, e garantir a segurança do campo norueguês de Bifrost, em Bamako, onde estão alojados os militares portugueses.
Conosaba/dn.pt/
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