No dia 24 deste mês, li no Blog Conosaba que as “opiniões divergem sobre introdução da língua árabe no sistema educativo guineense”. Entretanto, ao ler a notícia, constatei que havia apenas um técnico sénior do Ministério da Educação a aplaudir essa iniciativa do Ministro da Educação Nacional.
Nas redes sociais as opiniões quase
se convergem. Mesmo entre alguns técnicos de educação há uma linguagem que
aponta para um desperdício de tempo levantar um falso problema que nem era o
nosso problema no sistema educativo, uma vez que não existe essa disciplina.
Portanto, era necessário concentrarmo-nos no nosso real problema, na sua
resolução, e não introduzir um problema que ainda não existe.
Entre muitas opiniões, vejo um professor
que parece analisar a questão partindo apenas de um ângulo e, como seu
discípulo, queria chamar-lhe atenção naquilo que apresentou como seu ponto de vista para aplaudir a introdução da
língua árabe no nosso sistema educativo.
O Professor disse que [1]“recorremos
sempre para o ensino superior no estrangeiro e o que deparamos ali, é a
situação da língua e rejeitando a língua Árabe no nosso sistema educativo,
significa que estamos a fechar as portas para que os nossos estudantes não
possam estudar nos países árabes”.
Partindo deste argumento, teríamos que introduzir no nosso sistema
educativo não só a língua árabe, mas também a língua mandarim, a língua russa e
a língua espanhola, e devia ser há muito tempo, porque não é de hoje que os
nossos estudantes partem para países que falam essas línguas e enfrentam essas dificuldades
linguísticas.
Eu acho que o Professor, como técnico
sénior do Ministério da Educação e como ex-Ministro da Educação, deveria lutar pela
introdução da nossa História, da nossa Geografia, da nossa Literatura no
currículo escolar. Nestas possibilidades, sim, [2]“não há nada
de desvantagem”, como o professor
disse para argumentar a introdução da língua árabe. E aplaudir isso faria
todo sentido, Professor.
Já agora, o Professor como sendo um linguista, porque não aconselharia o Ministro da Educação para que introduzisse a língua crioula como forma de [3]“permitir a criação de ensino bilingue, onde o Português” e o Crioulo [4]“vão ser leccionados na mesma escola”. Essa introdução teria maior impacto no desenvolvimento cognitivo das crianças e no processo de ensino aprendizagem do que a língua árabe.
Introduzir uma
disciplina no Currículo Escolar, não depende apenas do aspeto técnico – que o Ministério
da Educação não conseguiu resolver até hoje com a língua portuguesa, que é uma
língua transversal ao sistema educativo guineense – mas depende também do
aspeto financeiro. Não seria melhor que o Ministério da Educação
disponibilizasse os recursos a colocar no projecto para ensino de Árabe na
melhoraria do ensino-aprendizagem do Português e, desta forma, introduzir a
nossa literatura no currículo escolar?
É que, o currículo escolar
deve refletir aquilo que a educação pretende construir com a sociedade. Não
devemos introduzir disciplinas só por meros caprichos políticos ou agendas
ocultas. Por isso, devemos pensar na introdução de disciplinas que vão ao
encontro da nossa realidade social, que têm a ver com a nossa identidade nacional
e que poderão ajudar-nos a construir uma cidadania ativa. Mas para tal, é
preciso que a educação foque naquilo que é nacional (a nossa História, a nossa Geografia
e a nossa Literatura) e, posteriormente, pensar em introduzir a Língua Crioula
como uma das línguas de ensino.
Para terminar, acho que
a adopção dessa disciplina (Língua Árabe) terá apenas uma motivação: a
religiosa. Quando deveria ser uma necessidade social como outras disciplinas
que mencionei anteriormente. Porque se for pelo argumento de facilitar
estudantes que vão países onde árabe é língua de ensino, volto a perguntar: e
russo, mandarim ou espanhol?!
Abdelaziz Vera Cruz
Mestre em Português Língua Segunda/Estrangeira
Escritor
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