O primeiro vice-presidente da Assembleia do Povo Unido-Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), Mamadu Saliu Lamba, anunciou hoje o início do processo de reconciliação interna no partido, após um encontro com o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló.
"Sabemos que o país está altamente dividido e isso não abona em nada o desenvolvimento. A partir de hoje estamos com toda a disposição de voltar ao nosso partido”, afirmou Mamadu Saliu Lamba.
O primeiro vice-presidente da APU-PDGB falava após um encontro com o chefe de Estado guineense para analisar a situação política do país no âmbito das recomendações da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que tem mediado a crise política no país.
“A partir de hoje a APU está reconciliada com a sua direção e vamos participar ativamente, porque só falando é que nos entendemos e vamos à nossa casa fazer o nosso trabalho que é política ativa e partidária para bem da Guiné-Bissau”, disse Saliu Lamba.
Num comunicado emitido em abril, a CEDEAO reconheceu Sissoco Embaló como Presidente da Guiné-Bissau e instou as autoridades e classe política no sentido de encetarem diligências para promover a revisão constitucional no prazo de seis meses, antecedida de um referendo, bem como a nomeação de um novo Governo, que respeite os resultados das legislativas de março de 2019, até sexta-feira.
Questionado sobre a posição dos deputados da APU-PDGB que apoiam o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), vencedor das legislativas de 2019, Mamadu Saliu Lamba considerou que terão “oportunidade de se pronunciar”.
“Como é sabido hoje é o dia em que podemos dizer que se iniciou um processo de reconciliação interna. Enquanto partido democrático vamos à nossa sede, vamos conversar uns com os outros. Os nossos deputados terão oportunidade de se pronunciarem e vamos fazer tudo por tudo para acabar com a divisão interna dentro do quadro do partido”, referiu.
Em relação aos acordos assinados com vários partidos com assento parlamentar, o primeiro vice-presidente da APU-PDGB afirmou que os “acordos merecem uma atenção especial”.
“Vamos a nossa casa e fazer tudo por tudo para unificar o país”, insistiu.
Nas eleições legislativas de março de 2019, a APU-PDGB, liderada por Nuno Nabian, assinou um acordo de incidência parlamentar com o PAIGC, que venceu o escrutínio sem maioria, com a União para a Mudança e o Partido da Nova Democracia.
Logo no início da legislatura, Nuno Nabian, que ocupava o cargo de primeiro vice-presidente do parlamento, incompatibilizou-se com o PAIGC e aliou-se ao Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15) e ao Partido de Renovação Social (PRS).
Apesar da nova aliança, três deputados da APU-PDGB, que elegeu cinco, mantiveram a sua lealdade ao acordo de incidência parlamentar assinado com o PAIGC, União para a Mudança e Partido da Nova Democracia, permitindo que o Governo de Aristides Gomes mantenha a maioria no parlamento.
A Guiné-Bissau tem vivido desde o início do ano mais um período de crise política, depois de Sissoco Embaló, dado como vencedor das eleições pela Comissão Nacional de Eleições, se ter autoproclamado Presidente do país, apesar de decorrer no Supremo Tribunal de Justiça um recurso de contencioso eleitoral apresentado pela candidatura de Domingos Simões Pereira.
Na sequência da sua tomada de posse, o Presidente guineense demitiu o Governo liderado por Aristides Gomes e nomeou para o cargo Nuno Nabian, líder da APU-PDGB, que formou um Governo com o Madem-G15, o PRS e elementos do movimento de apoio ao antigo Presidente guineense, José Mário Vaz, e do antigo primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior.
Domingos Simões Pereira, líder do PAIGC, não aceitou a derrota na segunda volta das presidenciais de dezembro e considerou que o reconhecimento da vitória do seu adversário é “o fim da tolerância zero aos golpes de Estado” por parte da CEDEAO.
A União Europeia, União Africana, ONU, Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Portugal elogiaram a decisão da organização sub-regional africana por ter resolvido o impasse que persistia no país, mas exortaram a que fossem executadas as recomendações da CEDEAO, sobretudo a de nomear um novo Governo respeitando o resultado das últimas legislativas.
O Supremo Tribunal de Justiça remeteu uma posição sobre o contencioso eleitoral para quando forem ultrapassadas as circunstâncias que determinaram o estado de emergência no país, declarado no âmbito do combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus.
Conosaba/Lusa
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