A 25 de maio tem lugar a evocação por todo o mundo e particularmente pelo continente africano do Dia de África.
A efeméride está associada à data em que foi criada a OUA- Organização de Unidade Africana, em 1963, hoje UA-União Africana.
É útil termos presente que, nesse, ano o mundo estava dividido em dois blocos antagónicos, desenrolando-se uma guerra fria na Europa que veio a dar lugar à construção do muro de Berlim, enquanto em África se passaram a desenvolver guerras quentes por interpostos agentes.
O primeiro país da África negra a descolonizar foi o Gana com o Presidente Kwame N´Krumah.
O facto do início dos processos de descolonização em África terem ocorrido sob o pano de fundo de um mundo dividido e influenciado por potências antagónicas, USA e ex URSS, cedo conduziu ao exacerbamento de conflitos no continente africano apesar do apelo dos líderes africanos à unidade dele.
Durante um longo período essa conflitualidade persistiu, de par com o ciclo vicioso da pobreza, de tal forma que as próprias independências dos países de língua oficial portuguesa com o consequente reconhecimento da potência colonizadora, Portugal, só foram possíveis em 1975 após a mudança do regime politico determinado pela revolução de 25 de Abril de 1974.
Mais tarde foram criadas condições para o desmantelamento do regime do apartheid na África do Sul, para a independência da Namíbia e para a criação de um regime de maioria no Zimbabwe e com a implosão de um dos polos da bipolaridade, no caso da ex URSS, a generalidade dos países africanos passaram a realizar eleições livres na base do princípio de que a um homem corresponde um voto.
Como é sabido a queda da bipolaridade deu causa à globalização, incentivando ao livre comércio multilateral e à livre circulação de pessoas e bens, institucionalizando numa primeira fase a unipolaridade, que evoluiu para a multilateralidade, que é a que estamos a viver, sob a recomposição de uma nova realidade geoestratégica e geopolítica.
Infelizmente muitos dos males que não possibilitaram o rompimento do ciclo vicioso da pobreza em África logo após as independências persistem, nomeadamente a fraquíssima poupança indispensável ao investimento, a corrupção, a ausência de planeamento inclusive o familiar, para não falar na radicalização de certas religiões ecuménicas e os seus efeitos, bem como as debilidades de outras respostas estratégicas no plano da diversificação das economias.
O combate à Covid-19 tem vindo a vulnerabilizar ainda mais os recursos necessários em África ao reforço a um novo modelo de desenvolvimento, razão bastante para que se devam multiplicar os bons exemplos da boa governação, que felizmente existem em alguns países africanos, salvaguardando os direitos humanos, o que não prejudica que o apelo do Secretário-geral da ONU, António Guterres, quanto ao perdão da dívida não assuma por isso, e agora, uma enorme importância.
A UCCLA tem aproveitado o confinamento causado pela Covid-19 para, nas suas plataformas sociais, promover inúmeros novos eventos culturais, de proximidade com os munícipes das cidades nossas associadas, para além de divulgar no final de cada semana a dimensão da pandemia em cada um dos países dessas cidades, atingidos por ela.
Sentimos ser uma obrigação cívica indeclinável de contribuirmos, cada vez mais, para a divulgação desses eventos, com expressão inovadora na música, nas letras, na saúde e na economia e, por esta via, aprofundarmos cada vez mais as relações de cidadania com os cidadãos de um continente com futuro e de futuro, que é África.
Estas ações não são também alheias ao Dia de África que, devendo ser vivido todos os dias, é simbolicamente assinalado a 25 de maio.
Vitor Ramalho
(Secretário-Geral da UCCLA)
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