O Partido Africano da Independência da Guiné-Bissau encerrou hoje a sua campanha para as legislativas de domingo em Bissau com os dirigentes a pedirem a maioria qualificada para evitar que o Presidente "roube" a vitória do partido, como em 2015.
Num comício que terminou às 22:00, duas horas depois do final legal da campanha, milhares de apoiantes do PAIGC encheram o estádio Lino Ferreira, no centro da capital, naquele que foi o maior encontro de final de campanha, mostrando a capacidade de mobilização do partido histórico em Bissau.
No domingo, o objetivo é a "maioria qualificada", disse o vice-presidente do PAIGC, Cipriano Cassamá, que é também presidente do parlamento.
A aposta, disse o dirigente, é uma "vitória retumbante para tirar a Guiné-Bissau da instabilidade", recomendando um dia de reflexão (sábado) diferente aos apoiantes: "Amanhã não fiquem em casa, vão porta a porta convencer indecisos. Segunda[-feira], descansam com a vitória do PAIGC".
Francisca Pereira, que falou em nome dos combatentes, também pediu uma maioria qualificada.
"Fomos roubados em 2015" e hoje "queremos 85 deputados, para que ele não nos arranque do governo", disse.
"Ele" é José Mário Vaz, Presidente da República que demitiu Domingos Simões Pereira de primeiro-ministro em 2015, depois de este ter ganhado as últimas eleições legislativas com maioria absoluta.
Desde então, o bloqueio entre o Presidente e o líder do PAIGC gerou uma crise política que obrigou à intervenção da comunidade internacional no país, que impôs a realização destas eleições legislativas.
Para Francisca Pereira, "o sonho de Amílcar Cabral [fundador do PAIGC, assassinado em 1973] está concreto no Domingos: fazer política para o povo".
Durante o comício no estádio, vários dirigentes tradicionais entregaram oferendas a Domingos Simões Pereira, entre os quais "panos sagrados", e um quadro que juntava na mesma imagem o líder do PAIGC e Amílcar Cabral, assinado pelo autor com o seu número de telemóvel.
No seu discurso, Domingos Simões Pereira saudou as mulheres no Dia Internacional da Mulher, e recordou a opção de uma campanha "personalizada" e "passo a passo sem grandes meios". "Pela primeira vez na história da democracia guineense, uma crise política foi resolvida por meios exclusivamente democráticos", disse o líder do PAIGC que insistiu na necessidade de uma vitória clara do partido, no domingo, sem nunca referir a maioria qualificada.
É "hora de chegar e de virar a página", elencando a proposta de governo "Terra Ranka" (terra arranca, em crioulo), que inclui várias medidas como obras e promessas várias.
"O nosso desafio é combater a pobreza e restituir a dignidade aos guineenses", mas há "partidos que não querem o 'Terra Ranka'", disse, dramatizando o discurso com os dados da mortalidade infantil.
"Não lhe devemos dar oportunidades de fazer o que fizeram" ao "impedir um governo legítimo de governar", disse Domingos Simões Pereira.
"Dia 10 é dia de julgamento e o povo vai julgar os partidos que não quiseram estas eleições e eles vão receber a sentença do povo guineense", afirmou o líder partidário.
A Guiné-Bissau "vai condenar o eixo do mal" e "vai abrir um eixo do bem". "Com esta moldura humana, quem é que tem dúvida de quem vai ganhar?", questionou, arrancando vários aplausos dos milhares de presentes.
Nos últimos anos, "alguns camaradas saíram do PAIGC", mas "para cada um só que abandonou o barco, entraram milhares por causa do nosso projeto", salientou Simões Pereira, que deixou também uma "palavra de apreço à comunidade internacional" pelo apoio ao processo democrático.
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