O líder do Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau (PAIGC) acusou hoje o Presidente guineense de estar a forçar a sua presença na campanha eleitoral e a "comprometer o exercício democrático".
Falando à Lusa à margem de um comício em Pitche, no interior do país, perto da fronteira com o Senegal, Domingos Simões Pereira disse que o Presidente, José Mário Vaz, está a tentar condicionar o voto em favor de um dos partidos que concorrem às eleições de domingo, 10 de março.
“Quando o Presidente da República força a sua presença numa eleição que é legislativa está a comprometer o exercício democrático”, disse Domingos Simões Pereira, a dois dias de terminar a campanha no país, que tenta pôr fim a uma crise política de três anos.
A campanha tem corrido perfeitamente bem como é tradição na Guiné-Bissau”, mas “infelizmente há muita distração, muita interferência completamente desnecessária”, dando como exemplo as ações do Presidente durante estes dias.
José Mário Vaz “promove visitas, vai acompanhado de ministros sempre do mesmo partido, distribui arroz, distribui cadeiras de rodas e agora temos a informação de uma reunião com autoridades locais a apelar ao voto num determinado partido”, disse Domingos Simões Pereira, sem nunca referir o nome do Partido da Renovação Social, a segundo maior formação política do país.
O PAIGC estabelece agora como prioridade a vitória com maioria absoluta, de modo a impedir as interferências do Presidente, como sucedeu em 2015, abrindo caminho a uma série de governos de iniciativa presidencial e à intervenção da comunidade internacional, que impôs estas eleições.
“Há três anos, quando eu fui demitido e criou-se uma situação de potencial crise e conflito interno, eu fiz uma opção e convidei a população guineense a aceitar essa decisão. Tínhamos que aceitar que era um jogo político e que tínhamos de usar os meios democráticos”, recordou Domingos Simões Pereira.
E por isso, na história do país, “pela primeira vez a demissão de um governo nessas condições não levou a conflito nenhum. Nós fomos capazes de enfrentar essa batalha e fazer essa luta utilizando meios exclusivamente democráticos”, acrescentou.
Instantes antes do comício, que chegou a estar agendado para as 14:00 locais e só começou depois das 22:00, o ‘speaker’ leu o currículo do líder do PAIGC e disse várias vezes que “desde Amílcar Cabral, o Domingos é o primeiro guineense que Portugal respeita”.
Acusado várias vezes de ser apoiado pela comunidade internacional, Domingos Simões Pereira considerou que essas acusações acabam por beneficiá-lo.
No passado da Guiné-Bissau, “a retórica defensiva tem sido recorrentemente usada ara instrumentalizar a opinião publica no sentido da defesa da soberania e dos valores nacionais, mas hoje os valores nacionais que eu reclamo coincidem os valores universais e o (cidadão) guineense vê-se numa situação de conforto porque não precisa de confrontar a comunidade internacional para poder apoiar quem lhe apresenta um programa credível”, afirmou.
No domingo, 21 partidos políticos concorrem em eleições legislativas que tentam pôr fim a uma crise política que dura desde 2015, depois de o Presidente e o líder do PAIGC se terem incompatibilizado.
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