A Guiné-Bissau mergulhou numa crise política que a desestruturou complemente há mais de três (3) anos. A saída pela resolução do referido impasse torna elemento de frustação, pois as vias de resolução da crise representa ameaça ao interesse de alguns partidos políticos.
Ao longo desses três (3) anos, o país perdeu a pouca credibilidade internacional que apresentava devido à falta de compromisso dos representantes com a Nação. No entanto, assiste-se uma total ausência do “nacionalismo político” que vigorou nos ideias dos gloriosos combates da pátria, por conseguinte, o egocentrismo configurou no cenário político. Interesse em construir vidas particulares propagam em diferentes camadas da sociedade.
O país vive climas de incerteza e ainda continua porque os princípios democráticos são colocados à margem da política. Quarenta e cinco (45) anos após a “independência”, o país não encontrou um tempo suficiente no sentido de consolidar as políticas que tendem a minimizar o sofrimento da população. A crise permitiu-nos conhecer os verdadeiros traidores da pátria. A política configura no palco das atenções em detrimento dos outros setores que funcionam como alavanca do desenvolvimento de um país.
Devido a cíclicos problemas que os guineenses enfrentam por falta de capacidade de resolução de conflitos por parte dos políticos criou-se cinco (5) categoria de cidadão.
O primeiro se refere ao cidadão residente no país, sem educação (ensino) de qualidade que lhe permita ter um senso crítico da realidade na qual está inserida, sem hospitais que atendam o número dos necessitados e por último a falta de infraestrutura. Levando em consideração a ausência desses elementos, a emigração pela Europa constitui a saída pela resolução dos devidos problemas e consequentemente uma melhor qualidade de vida.
O segundo diz respeito ao guineense na diáspora atento ao desenrolar da crise e que contribui em termos econômicos no desenvolvimento do país. No entanto, o retorno resta a desejar porque o seu nível de entendimento (político, econômico e social) é superior aos dirigentes do país. Portanto a crítica pela forma como os representantes escolhidos pelo povo estão guiando o país é a melhor solução.
O terceiro é um guineense nacionalista na diáspora, que depois de terminar os estudos pretende voltar com intuito de ajudar no desenvolvimento, sem levar em consideração os problemas que o país enfrenta. De acordo com suas justificativas, os combatentes desencadearam a luta contra o jugo colonial para garantir a liberdade da futura geração. Nessa ordem de ideia ele representa a continuidade desta luta, portanto deve enfrentar os desafios, mas há quem lhe questiona – ke ku na bai fasi na Guiné-Bissau? Ka bu riba, ki terra nada ka tem lá.
O quarto também é um nacionalista na diáspora com o desejo de voltar para a terra que lhe viu nascer e contribuir na medida do possível, mas devido a inveja o retorno se torna inviável. (kilis ku na endau muru ku irã pa ka bu tene sucesso só pabia é ka tene oportunidadi de studa). Com isso resgato para essa análise o título de um dos textos do Piter Karibe Mendy, “Herança colonial” para registrar os ranços da colonização que o neocolonialismo propaga tendo em conta a ausência de debate desta natureza, o currículo para descolonizar a mente.
O quinto é o cidadão guineense passivo e conformista que no seu discurso consta (Deus na djuda). É preciso lembrar que desde a revolução francesa “Deus” não ajudou em construir nenhum país, a construção deste se deu pelo desempenho dos homens usando sua inteligência. Com isso faz-se necessário o debate convocado pelo intelectual brasileiro, Paulo Freire, nos quais, assevera que a Educação e a mudança assentam em formar mentes transformadoras que possibilitam uma sociedade menos alienada. A partir desse ponto, abro parêntese para o processo eleitoral e democrático.
A eleição em Guiné-Bissau é tida como chave de resolução dos conflitos e uma das prioridades da democracia. Não nos resta dúvida que esta nunca foi e dificilmente será um meio pelo qual os guineenses resolverão os seus problemas. A discussão do texto Buscar a Felicidade democratização na Guiné-Bissau da autoria de Lars Rudebeck na disciplina - tópicos em história da Guiné-Bissau II ministrada pela professora Dra Artemisa Candé Monteiro permitiu-me entender o fraco nível de entendimento dos guineense sobre a democracia.
De acordo com Rudebeck, a democracia é “um regime que dê todos os cidadãos [...] uma participação igual no exercício do poder e, ao mesmo tempo, respeite a integridade de grupos minoritários e de cidadãos individuais” enquanto que democratização “é um processo transformador que conduz uma sociedade mais perto desse ideal”. Assim, segundo Candé Monteiro (2019) a Guiné-Bissau vive um processo de democratização porque a postura dos políticos, os sucessivos golpes de estado, ausência da função social de político violam os princípios da democracia. Ainda que esse conceito é discutido com frequência nos períodos das eleições. Por outro ângulo, a crise implementou na sociedade guineense um divisionismo político e étnico nunca antes visto. É preciso lembrar que o discurso étnico é o reflexo da emergência dos partidos/movimentos contra o regime colonial. De acordo com Cande Monteiro (2013) os referidos movimentos/políticos continham atributos étnicos.
A Guiné-Bissau é um país que na sua configuração geográfica apresenta um mosaico cultura, através desse conjunto se fundou esta Nação que garantiu a sua “soberania”. Mas, o Estado guineense não preocupou em dar resposta a desigualdade étnica implementada na sociedade e, pelo agravar da situação os princípios da convivência étnica perderam os seus valores, e o discurso étnico se pluraliza em todos os âmbitos da esfera social e político, o que representa uma ameaça a sociedade guineense. Assim sendo, a rede social nomeadamente (facebook) transformou num campo de propagação do referido discurso.
Quero vos fazer lembrar que, apesar de todos os divisionismo somos guineenses.
Em suma, espero que esta crise permita aos cidadãos guineenses uma profunda análise e cogitar nos representes que estarão à frente do país durante 4 anos, sem colocar em evidência o fanatismo político senão estaremos naquilo que o Mc Mário dizia: speransa ta fasinu visita de curto prazu.
Tedse Silva Soares da Gama – licenciando em História na Universidade da Integração Internacional da lusofonia Afro-Brasileira – Unilab/Brasil-Ceará 2019.
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